Visita noturna

Eu estava ansioso para seguir o rastro dela, e a conversa que tive com Ares não seria suficiente para me deter. Ele pensa que pode me enganar com toda aquela encenação de bom rapaz, de conquistar a fêmea para não assustá-la.

Ela não se importa com medo. Ela vai se desmanchar entre meus dedos, implorar para que eu a monte e a possua em todos os sentidos.

Subo no telhado com facilidade e a observo por alguns minutos. Meus olhos estão fixos em cada movimento dela.

A janela está trancada, mas o cheiro dela está ainda mais forte do que antes. Minhas unhas arranham o telhado lentamente, impacientes.

Quero saborear sua pele, morder seus lábios carnudos e sentir o aroma que emana de suas deliciosas coxas.

Para minha sorte, não preciso me preocupar em ser visto, já que esta casa fica no final da rua, isolada em meio à floresta. A janela pela qual observo está na parte de trás, um local onde ninguém poderia me avistar devido à densa vegetação. Mas eu quero que ela me veja.

Bato na janela, arranhando o vidro com minhas unhas. Quero que seus olhos encontrem os meus e que ela tema por sua segurança. Quero que sinta medo e, ainda assim, fique excitada.

Deslizo minha unha sob o trinco, empurrando-o para cima, e a janela se abre lentamente, permitindo minha entrada.

O quarto ainda está bagunçado, com móveis e objetos espalhados por todos os cantos, e a cama está apenas coberta por um lençol simples. Na mesa de cabeceira, uma foto que ela segurava recentemente. Uma imagem de uma garota e um homem abraçados. Deve ser seu pai, eles se parecem muito.

O quadro cai sozinho, fazendo um barulho. A água do chuveiro para, e os passos dela se aproximando ficam cada vez mais audíveis enquanto eu me escondo.

Consigo ouvir seu coração acelerado, seu aroma se intensificando com o medo, enquanto ela observa as marcas na janela e a foto caída, como uma gatinha assustada.

Me aproximo quando ela está paralisada. Nossos olhos se encontram através do reflexo, seu peito subindo e descendo enquanto respira pesadamente, fechando os olhos como se eu não fosse real.

Minha gatinha assustada.

— Filha? — Eu me escondo rapidamente.

— AAAAAH!

— BEA, O QUE FOI?!

— Tinha, tinha...

— O quê?

— Achei que tinha visto algo na janela — engole em seco.

— Tem uma floresta atrás da nossa casa, é normal que veja os animais dessa região, Bea.

— Olha o que aquele animal fez na janela! — aponta e ela se aproxima pra analisar — Eu juro que nunca vou perdoar a senhora se um dia abrir essa janela e alguma coisa entrar no meu quarto.

— Tudo bem — ela levanta as mãos em rendição — Vou preparar a janta e se não descer te arrasto pelos cabelos — ela sai do quarto, fechando a porta.

— Que porra é aquela?! Eu vi alguma coisa, eu tenho certeza que eu vi!

E você viu mesmo.

Olho para o relógio na parede e suspiro, já é bem tarde e acabei passando mais tempo aqui do que imaginei. Bom, mas valeu a pena, agora chegou na melhor parte.

A toalha cai no chão e eu lambo os lábios, apreciando a vista magnífica de ver aquela mulher passar a calcinha pelas pernas e no final colocar apenas um vestidinho fofinho e sair do quarto para comer.

Saio de debaixo da cama e pego a calcinha que ela botou no saco de roupas. A calcinha não é a mais bonita, mas o cheiro que vem dela é o que realmente importa.

— Com toda certeza tem péssimos gostos pra calcinha — rio enquanto coloco no meu bolso e abro a janela para ir embora.

Ares já está lá embaixo, com os braços cruzados e com uma cara nada boa. Com certeza me mataria se não estivéssemos tão perto da casa.

— Ζαντέ, κάθαρμα ( Zade, seu maldito)

— αδελφός ( Irmão ) — respondo em um tom brincalhão enquanto curvo levemente a cabeça em sua direção.

— O que você fez com ela?

— Nada, o que eu faria? Somente observei ela mais de perto e roubei uma coisinha interessante — levanto a calcinha e ele rosna tentando pegar — Se quiser uma vá lá você pegar. Essa é minha.

— Devolva isso. Tenho certeza que você consegue fazer melhor do que roubar a calcinha da garota.

— Não quero — dou as costas para ele, andando para mais dentro da floresta.

Ares segue meus passos, sua expressão ainda séria, mas percebo um brilho travesso em seus olhos. Ele está planejando algo.

— Ah, você vai me devolver isso, Zade. Não pense que vai sair impune depois dessa.

Eu rio, provocando-o ainda mais.

— Ora, ora, irmãozinho, não seja tão ranzinza. Afinal, não é todo dia que se encontra uma calcinha tão... intrigante.

Ele revira os olhos, mas não consegue esconder um leve sorriso.

— Você é um idiota, Zade.

— Ora, você me elogia tanto assim?

Ares balança a cabeça, mas não consegue conter uma risada.

— Só devolva isso e pare de agir como um adolescente hormonal.

— Ares, ela tem uma gaveta cheia delas, não vai sentir falta de uma— dou de ombros.

— Você é insuportável.

— Mas você me ama, irmãozinho — provoco, dando-lhe um tapinha amigável no ombro antes de seguir mais fundo na floresta.

— Nem no útero da nossa mãe — ele rosna e eu o empurro de leve — Tenho que cuidar de você como se ainda fosse um bebê.

— Nunca pedi para que cuidasse de mim. Sou forte, rápido e bem mais esperto que você.

— Há claro. O que teria acontecido se eu não tivesse te tirado da lanchonete em?

— Não aconteceria nada — fecho a cara.

— Não aconteceria até alguém ver seu corpo tomando outra forma lá no meio. O que será que fariam primeiro, te espetariam com uma faca ou iriam atirar na sua cabeça — ele debocha e eu o encaro como desdém.

— Seja lá qual fosse eu não morreria com nenhum dos dois. Nada pode nos matar, Ares — exibi a marca que temos no pulso. — Nada pode nos parar.

— Isso não nos dar liberdade de fazer o que quisermos.

— Mas nos dar liberdade de ser o que quisermos ser — falo.

— O que está querendo dizer com isso? — Ares para de andar enquanto me encara com estranheza.

— Escute bem o que eu vou te dizer agora...

*

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