Capitulo 7

Havia se passado uma década e meia desde aquele dia fatídico. Lana, agora com a maturidade dos seus 32 anos, dirigia-se com passos decididos ao casamento de sua única e mais querida amiga, Jane. No entanto, o tempo não havia curado todas as feridas, e Lana carregava consigo as cicatrizes invisíveis do incidente que mudou sua vida para sempre.

Após aquele evento traumático, Lana nunca mais fora a mesma. Ainda que suas excentricidades persistissem, ela as guardava apenas para os olhos dos mais íntimos. O peso do olhar piedoso dos outros a perturbava, e ela preferia manter suas peculiaridades ocultas do escrutínio alheio. Desde então, Lana sentia que uma parte de si mesma tinha sido deixada para trás naquele labirinto de acontecimentos.

— Felicidades, minha querida amiga! — Lana felicitou Jane calorosamente ao término da cerimônia.

— Obrigada! E quando será a sua vez? Mal posso esperar para participar do seu casamento! — Jane respondeu, seu rosto iluminado por um sorriso radiante.

— Sobre isso... não tenho planos de me casar... há coisas que eu preciso... — Lana começou a dizer, mas foi interrompida por alguém chamando Jane do outro lado do salão. A valsa dos recém-casados estava prestes a começar.

— Vamos continuar essa conversa mais tarde! Te adoro, amiga! — Jane se despediu rapidamente, dirigindo-se ao salão para dançar com seu recém-marido.

"Como ela está radiante! Sua felicidade é contagiante. Mas e eu, quando encontrarei minha alma gêmea?" — Lana pensou, observando sua amiga dançar com alegria.

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Três anos haviam se passado desde o casamento de Jane, e agora ela desfrutava da alegria de ser mãe de uma adorável filha de um ano.

Enquanto isso, Lana se via cada vez mais solitária, percebendo como os caminhos de suas vidas haviam divergido drasticamente. Embora Jane fizesse questão de incluí-la em muitos de seus planos, Lana não conseguia escapar da sensação de desconexão que pairava entre elas. Suas energias pareciam vibrar em frequências totalmente distintas agora.

Lana, agora uma respeitada professora do ensino fundamental, investiu seu coração e alma na criação de livros para crianças. No entanto, apesar de seus esforços, nenhum de seus livros alcançou o sucesso esperado. Com o passar do tempo, ela gradualmente se distanciou do acompanhamento das vendas e críticas, desiludida com os resultados.

Seu sonho de inspirar o amor pela leitura nos jovens parecia desvanecer diante da realidade implacável. A maioria dos alunos preferia passar seu tempo imersos em séries e jogos, em vez de se entregarem ao prazer da leitura. Esse desencanto minou seu entusiasmo pelo ensino, transformando-a em uma professora desmotivada e desiludida, cujas aulas perderam o brilho e a vitalidade que um dia possuíam.

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Depois de um dia exaustivo na escola, Lana estava a caminho de casa quando seu celular tocou, interrompendo seus pensamentos cansados. Era seu editor do outro lado da linha, sua voz transbordando de empolgação.

— Lana, você não vai acreditar no que acabei de descobrir! Prepare-se para ficar completamente surpresa! — ele exclamou, sua animação saltando através do telefone.

— O quê? O que é? — Lana perguntou, sentindo instantaneamente a fadiga se dissipar, substituída por uma crescente expectativa.

— Seu livro recebeu uma crítica incrível da Carmem Lúcia aquela renomada escritora, e as vendas estão disparando! Se continuar assim, ele será um best-seller em breve. Vamos celebrar amanhã com uma taça de champanhe? Hoje está uma loucura aqui, preciso finalizar as novas edições.

A notícia deixou Lana atordoada. Finalmente, depois de tanto esforço, as coisas estavam começando a dar certo. Era o início de uma nova fase em sua vida, cheia de promessas e possibilidades emocionantes.

— Claro! Obrigada pela excelente notícia, era exatamente o que eu precisava! Até amanhã! — Lana despediu-se animadamente de seu editor, sentindo um peso se dissipar de seus ombros. Ela agarrou sua bolsa com entusiasmo, e abraçou-a com força, dando saltos de alegria.

Enquanto caminhava para casa, Lana foi tomada por uma onda de gratidão e nostalgia. Lembrando-se de um vinho especial que havia recebido em seu primeiro ano como professora efetiva na escola, decidiu que era o momento perfeito para desfrutá-lo.

"Amanhã eu comemoro com o Antoni, hoje irei comemorar sozinha do meu jeito!" — murmurou para si mesma, sentindo uma onda de determinação.

De volta à escola, Lana pegou o vinho que guardava com carinho em sua sala. Entrou em seu carro e dirigiu até o parque mais próximo. Era um lugar especial para ela, onde podia se perder na imensidão da natureza e se reconectar consigo mesma.

Ao chegar, encontrou um local tranquilo e confortável. Sentou-se, abriu a garrafa de vinho e contemplou a beleza ao seu redor. O som suave das folhas ao vento, o perfume fresco das árvores e a paz que permeava o ar a envolveram, transportando-a para um mundo de tranquilidade e serenidade que ela tanto amava. Naquele momento, Lana estava exatamente onde queria estar, celebrando suas conquistas de uma maneira que lhe era verdadeiramente significativa.

"Que paisagem deslumbrante", ela pensou consigo mesma, enquanto apreciava a vista, levando a taça de vinho aos lábios para saborear mais um gole.

"Pena que Jane está fora... sinto falta das nossas conversas sobre livros... mas ela parece tão ocupada ultimamente..." De repente, uma onda de melancolia a envolveu, fazendo com que Lana se perdesse em pensamentos sobre a amiga e os momentos compartilhados que agora pareciam tão distantes.

"Pare com isso, Lana", ela repreendeu a si mesma, sua voz ecoando suavemente na quietude do parque. "Você é uma mulher adulta agora, sua vida está finalmente seguindo o caminho que você sempre imaginou. Sua amiga está feliz com sua família, e em breve o mundo inteiro reconhecerá o seu talento e paixão pelas histórias. Você encontrará pessoas que compartilham desse amor pela narrativa tanto quanto você, e poderá deixar a escola, realizando seus sonhos."

Dando pequenos tapinhas em suas próprias bochechas, Lana tentou afastar os pensamentos sombrios que ameaçavam envolvê-la. Mas, imersa em devaneios sobre seu próximo livro, ela não percebeu que o sol já havia se posto completamente e que metade da garrafa de vinho estava vazia.

Quando finalmente tentou se levantar, suas pernas vacilaram, e ela sentiu o peso da embriaguez se abater sobre ela, como um manto pesado e indesejado.

"Nossa, exagerei um pouco, e nem estou em casa!", ela pensou, soltando uma risada divertida.

"Vou ter que ir a pé, sorte que minha casa está a apenas dois quarteirões daqui!"

Caminhando pela calçada, Lana oscilava de um lado para o outro, consciente demais de sua embriaguez para considerar dirigir. Era a primeira vez que ela se permitia beber tanto, mas a ocasião merecia uma celebração à altura. Mesmo sozinha, ela sabia como se divertir em seu próprio mundo.

"Se eu pudesse começar de novo, faria tudo exatamente igual. Aproveitaria cada momento com a mesma intensidade de antes, mas dessa vez não iria me preocupar com aqueles olhares!", ela murmurou para si mesma, enquanto tropeçava nos próprios pés.

— Quem me empurrou? — Lana virou-se abruptamente, reclamando com o vazio ao seu redor. Tão embriagada estava que chegou a imaginar que alguém a havia tocado.

— Hm! Você é rápido, sumiu nas sombras... eu sei karatê! — ela balbuciou, fazendo uma pose desajeitada de luta, como se estivesse prestes a executar um golpe poderoso, enquanto continuava a tagarelar com o ar ao seu redor.

— Vamos para o outro lado da rua, essa mulher está pirada! — alguns jovens que a observavam de longe, vendo-a fazer poses estranhas e parecer brigar com um oponente invisível, ficaram apreensivos e decidiram evitar qualquer possível confronto com aquela figura peculiar.

— Isso foge... não aguenta... hahahaha, sou uma mestre ninja! — ela ria de forma alta enquanto falava sozinha.

"Olha... esse é um bom tema pro meu novo livro!"  — ela pensou consigo mesma enquanto voltava a caminhar de forma desengonçada e mais uma vez tropeçar nos próprios pés e cair no chão.

— Ai! — Lana gemeu, sentindo uma pontada de dor em seu traseiro ao cair no chão.

— Ei, moça, saia daí! Você está no meio da avenida! — um homem gritou, tentando chamar sua atenção.

Mas antes que Lana conseguisse se levantar, uma luz intensa ofuscou seus olhos, seguida por uma escuridão total que se abateu sobre ela, envolvendo-a em um abismo de desconhecido.

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