capítulo 19

Saímos da escola e começamos a andar pelas ruas, rumo a casa da minha mãe. O silêncio era absoluto entre mim e meu tio, mas minha mente fazia tanto barulho quanto uma estrada engarrafada.

Havia várias perguntas que passavam pela minha cabeça. Se aquilo era real ou fruto da minha imaginação? ou mesmo se aquele era realmente meu tio? Se sim, por que minha mãe disse que ele estava morto? Por que meu pai nunca falou nele? O que aconteceu entre os dois no Brasil, ao ponto de não se falarem mais?

— Você está quieta desde que saímos do colégio — falou ele, tirando do meu balão de pensamentos.

— Sabe… É que parece difícil acreditar… Realmente você é meu tio?

— Meu irmão nunca falou de mim para você, nem mesmo sua mãe?

Eu porém nada respondi, apenas fiquei quieta, enquanto o olhava de maneira fixa e desconfiada.

— É claro que não… — Seu semblante muda, seu olhar fica distante e triste — Nem Richard nem Sarah, contariam sobre mim… Não depois do que eu fiz ao meu irmão.

— O que você fez?! — perguntei curiosa.

— Foi a muito tempo Anna… Estávamos em turnê no Brasil… Era para ser uma a última turnê da nossa carreira… Um dia eu e seu pai, brigamos… brigamos feio e acabei quebrando a perna dele.

Ao ouvir isso meus olhos se arregalaram. Não podia acreditar que a perna machucada do meu pai fosse uma consequência de uma briga com seu próprio irmão.

— Realmente… Não é de se admirar que ele nunca contou sobre você — falei em um tom arrisco — Mas o que traz você aqui? O enterro foi a duas atrás, não acha meio tarde para dizer “Adeus” ?

— Isso é verdade… — fica pensativo — Sabe… Depois do que aconteceu, não tive mais coragem de vê-lo cara a cara, não conseguiria olhar para a perna dele sem minha consciência doer.

— Então me conte… O motivo pelo menos valeu a pena?

— Motivo?! — pergunta ele um pouco nervoso.

— Sim, se vocês brigarem, devem ter um bom motivo. Então qual foi o motivo pela briga?

— Sua mãe tinha razão… — Sorriu — Você é muito esperta para sua idade.

— Talvez, mas ultimamente não estou sendo muito esperta — Vários fragmentos do que tinha acontecido hoje invadiram minha cabeça, fazendo minha consciência doer — Então… Qual o motivo? — questionei novamente.

— Era um motivo especial… Porém nós dois acabamos deixando a raiva e o ciúme, falarem mais alto… ultrapassamos os limites… Queríamos fazer a escolha que cabia apenas a uma pessoa… Má entre mim e meu irmão. Fui eu quem ultrapassou os limites.

— Têm alguma coisa haver com família por acaso?

— De certa forma.

— Então vocês brigaram por causa do trabalho da família?

— Como?! — olhou para mim confuso.

— Quando chegamos aqui, não encontramos nenhum parente da família do meu pai. Ele falou que tinha sido rejeitado, por não assumir o legado da família.