15– Olhos

 A música suave ressoava por toda a Pousada da Lua, deixando um clima aconchegante. Todos os locatários comiam a comida simples como se fossem uma grande família.

Egon e Max já haviam sido dispensados do serviço da pousada, para retornarem no sábado pela manhã, então, Owen e Aretha serviam as mesas enquanto Ema tomava conta da cozinha e Sofia assistia desenhos na televisão da sala junto com Figo, a criança foi orientada a ficar ali.

Tudo parecia perfeito, nada saiu do controle, as duas famílias tinha um rosto uma expressão relaxada, deixando claro o contentamento.

 Aretha estava contente com o olhar orgulhoso que recebia do seu avô. O seu pai sempre a olhava dessa forma. Sentia falta dele. Nas suas lembranças, ela ainda podia sentir como era quando ele segurava na sua mão para atravessar a rua ou quando tentava prender o seu cabelo.

 Sentia falta dele, mas sabia que de ele estava, se sentiria muito orgulhoso. " Sim, pai... eu não me distrai a olhar para homens sem futuro ".

Ela podia lembrar-se do dia que ele a deixou com a sua mãe…

O seu pai abaixou-se bem a sua frente e com os olhos tristes, falou a segurar nas suas mãos geladas:

 — Meu amor, só estou indo por não poder mais ficar aqui. Mas eu virei te buscar. Farei um lar só pra você.

Ele beijou as suas mãos e a sua testa. Aretha guardava ainda na memória aqueles olhos marejados de lágrimas. Foi a última vez que viu o melhor homem do mundo.

   Quando ele morreu, ela passou a sentir-se insignificante.

 O seu pai foi o seu herói, o seu porto seguro, a sua rocha firme.

 Quando tomou a decisão de ir para Londres, quando praticamente fugiu das garras do padrasto e do jugo impedoso de sua mãe, foi por não ter mais o seu pai e nem como entrar em contato com os seus avós.

 Mas agora, ela tinha um lugar onde era bem-vinda, tinha o apoio total dos avós e nada poderia dar errado na sua vida, ela estava segura.

......................

Ronni esperou inquieto até que a maior parte das luzes fossem apagadas, só então andou com os pés descalços pela grama umedecida pelo orvalho. Usava apenas uma calça de malha e foi rumo as árvores, ansiava por esse momento o dia todo. Queria correr livremente, sentir o vento em seu rosto e sentir o cheiro da mata.

 O seu lobo queria sair e, mesmo para ele que tinha o controle total da sua fera, foi ao seu limite naquele dia “stressante”, preso em seu chalé.

 Caminhou até a grande árvore encurvada, onde ele sempre deixava a sua roupa na parte oca do tronco.

 Concentrou-se em todos os odores próximos para certificar se estava sozinho. Tirou então, sem demora, a calça de malha que usava, já com o corpo tomando a forma de lobisomem, a mão que guardou a roupa no esconderijo, tinha formato de garras, o seu animal tinha pressa.

 Começou a correr. Apenas em alguns metros, a sua forma estava completa e um grande lobo de pêlos castanho-avermelhado corria por entre as árvores até chegar numa clareira, onde ficou admirando a lua. Ainda não era a sua lua cheia, mas deixou que o seu uivo potente cortasse a noite escura, para deixar claro que ali era o seu território.

 Foi a noite do lobo. Ronni o deixou livre como prêmio pela obediência, era assim que ele mantinha o seu animal domado. Ali era um lugar perfeito, tinha o lago, algumas pequenas caças e espaço, muito espaço para que o seu lobo corresse pela noite.

Após uma noite de caça perfeita, com um ótimo aproveitamento da sua liberdade, resolveu voltar antes que o dia clareasse e ele fosse descoberto, aos finais de semana tinha outros locatários nos chalés.

......................

 Sofia estava parada entre as árvores, tendo apenas a claridade da lua, mas não sabia, ela era observada de perto por um par de olhos vermelhos.

 A menina estava nas pontas dos pés e olhava no oco de um tronco de uma grande árvore e tirou lá de dentro uma peça de roupa. Ela olhou a sua volta curiosa, não entendia como aquela roupa foi parar ali dentro.

 De repente, ela sentiu um medo estranho.

 — Figo... Figo? Cadê você? Tô com muito medo!

 Sofia havia levantado silenciosamente para não acordar a irmã. Ela queria ver o seu amigo Figo, que não estava na caminha dele, num canto do quarto.

Quando viu a porta do quarto entre aberta, não vacilou e saiu do quarto a tempo de ver o seu gatinho saindo pela fresta da janela da cozinha. Ela correu para lá, destravando a porta e saindo para varanda, bem a tempo de ver o animal indo em direção às árvores.

 A menina correu naquela direção, pisando na relva molhada com a sua pantufa cor-de-rosa. Na ânsia de alcançar Figo, nem sentiu o frio da madrugada que a sua camisola de algodão branco não protegia em nada.

 O gatinho foi apressado por entre as árvores com Sofia em seu encalço. Quando a menina se deu conta, não via mais o seu gato ou o caminho de volta..

Ela sabia que não devia estar ali, mas aquela árvore a sua frente era estranha, a curiosidade falou mais alto que o medo e ela ficou na ponta dos pés para observar dentro daquele buraco no tronco da árvore.

 De lá ela tirou uma calça enorme...

Olhou em volta cheia de curiosidade, não podia entender aquilo.

" Uma calça na árvore?"

 Foi quando percebeu a escuridão de que tanto tinha medo era dona do lugar e tudo a sua volta era feio.

 — Figo... Figo? Cadê você? Tô com medo!

Ela apertou a roupa no seu corpo e sem ter como voltar para casa, sentou-se ali mesmo e deixou que as suas lágrimas corressem livremente, mas sem fazer barulho, estava com muito medo algum bicho malvado a encontrasse.

O par de olhos vermelhos que a observava, ficaram mais brilhantes e dentes se sobressaíram quando um pequeno rosnado foi liberado...

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***