6 — Paz

 — Temos visita, meu bem…

 Ronni pôde perceber nitidamente quando a mulher encolheu-se envergonhada. Ela não era má, apenas controlava o seu homem por ciúmes.

 Philip subiu os dois degraus que levavam até a varanda da pequena casa, aproximou-se da esposa e depositou um beijo rápido nos lábios femininos, ela com o rosto corando no mesmo instante.

 — Querida, esse é o senhor...

O homem olhou para Ronni de forma interrogativa, só então percebeu que não sabia o nome do seu novo amigo.

 — Só agora me dei conta de que você não falou o seu nome.

 — Ronni. Ronni O'Maile. Não costumo apresentar-me, mas acredito estar em segurança com vocês.

 — Eu sou a Paty do Philip. Venha, vamos tomar um café. — Ela parou no meio da sala, com as mãos na cintura. — O que ouve com o Bob?

 Ronni pôde ver o cão correndo para debaixo de uma cama.

 — Feche a porta do quarto, querida. Assim ele fica em paz, está com medo do lobo mau.

A mulher olhou com espanto para o marido, mas foi fechar a porta, indo em seguida para a cozinha fazer o café.

— Venha senhor O'Maile, na cozinha ficaremos mais a vontade. — Philip falou, seguindo a sua mulher até a cozinha.

Já longe dos filhos, que ficaram a assistir desenhos na televisão, a esposa de Philip colocou a água no fogo e já olhou para o marido com os olhos apertados com a expressão de quem duvidava.

— Você trouxe para casa um lobo? Espero estar enganada.

— Meu amor, não é o que parece...

— É bom que você esteja certo.

Ronni apenas sorriu. Chegava a ser hilário, ele era a fera, mas a esposa o controlava como se ele fosse apenas um filhotinho.

Nesse momento, ela virou-se para ele com as mãos na cintura:

— Não quero o meu marido metido em encrencas!

Ronni sentou-se numa cadeira e falou sério:

— Senhora, estou aqui a trabalho. Investigando possíveis crimes de lobos. Procuro por assassinos que atuam no porto, mas não vejo indícios de que o seu marido seja quem eu procuro.

Nem bem terminou a explicação e Paty retrucou:

— É bom mesmo! Já avisei, se fizer besteiras, mato-o.

Ele olhou para a esposa de Philip com um sorriso, podia sentir a união entre o casal. O homem parecia ser fraco, mas tudo que fazia era para deixar a esposa feliz, podia constatar nos olhos dele o amor e a veneração que ele tinha pela esposa. A mulher era forte, a sua fraqueza era um medo de perder o seu homem, com isso, ela mantinha-o sob vigilância, guiando-o com pulso firme.

Ela não fugiu quando o marido tornou-se um lobo, assumiu a postura de mulher forte e ficou ao lado dele, sendo o seu refúgio.

Foi dominado por um sentimento estranho, parecendo que algo faltava na sua vida e o cheiro de inocência veio a sua mente.

Estava louco! Não queria ter uma mulher na sua vida.

Voltou a sua atenção para Philip, que olhava com adoração, cada movimento da esposa enquanto ela "passava" o café e colocava biscoitos caseiros sobre a mesa.

— Eu estou a procura do lobo assassino você, meu amigo, não é quem eu procuro. — Ronni sorriu vendo stampado no rosto do outro, o alívio.

Quando a dona da casa terminou o café, ela deixou os homens na cozinha, indo para a sala ficar com os filhos.

— Senhor O'Maile, eu não mataria nem uma mosca. Só me vejo nessa situação se fizerem algo com a minha família. Não sou dado a violência.

— Percebo isso. Mas sabe que no seu íntimo, você é uma fera, uma besta assassina.

— Sei muito bem, apenas não tenho vontade de praticar atos de violência. Acredito que seja mais fácil a minha Paty rachar a cabeça de alguém com um pedaço de madeira.

— A sua esposa é forte, mas você precisa cuidar do seu lobo e mantê-la longe de encrencas.

Ronni passou o resto da tarde contando ao seu novo amigo, toda a sua experiência lican e, ao se despedir de toda a família, já no portão, entregou um envelope nas mãos de Philip. Olhou para a varanda, lá estava Bob sentado, com os olhos fixos nele.

Sorriu de forma enigmática.

Enfiou as mãos no bolso e caminhou pela rua estreita, indo em direção a pensão. Com passos lentos, analisando a estranheza daquele dia.

Não olhou para trás, nem mesmo quando a voz de Philip chamou por ele. Provavelmente espantou-se com o montante em dinheiro que deixou para família.

O seu lado bom quis ajudar aquela bela família...

Continuou o seu caminho, sem olhar para trás. Era assim a sua vida solitária.

Agora, já sabia existir mais lobos pelo porto, teria que se concentrar e sair dali antes da grande lua. O seu lobo pedia para sair, queria correr entre as árvores e os seus planos eram satisfazê-lo, mas na Cornualha.

Ao entrar no seu quarto, trancou a porta atrás de si e foi direto para o chuveiro. Precisava de um banho quente e demorado para relaxar e abrir a mente. Quando sentiu os músculos relaxarem, secou-se ecom a força da lua, ou assassino colocou apenas uma cueca, indo até à janela para observar o por do sol através da vidraça.

Resolveu descansar, sairia durante a madrugada para caçar o lobo mau, com a força da lua, o assassino iria querer mais sangue, estava no seu instinto, e seria assim que Ronni o pegaria.

Jogou-se na cama, precisava descansar o corpo e a mente para enfrentar o que viesse durante a noite. Logo estava a rolar de um lado para o outro na cama.

Conhecer a família de Philip fez com que Ronni percebesse que, mesmo sendo um lobo, não se perdia a humanidade. Sorriu ao se lembrar da postura dominadora da esposa dele e do brilho orgulhoso e apaixonado que viu nos olhos daquele homem.

Paty, com toda a sua fúria, também era apaixonada por seu homem e o defendia e zelada por sua segurança.

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