14– A própria confusão

 Quando Ronni percebeu, acariciava o gato que estava no seu colo e era bombardeado por perguntas.

 A criança era doce e gostava de falar. Ele não gostava de interagir com os pequenos e depois que se transformou, procurava manter-se o mais longe possível deles.

 Mas aquela menina sabia se impor, deixando-o sem ação, dominado por uma criança tão pequena.

 — Sofia... quantos anos têm? — ele interrompeu-a.

 Ela rapidamente se pôs de pé a sua frente, e com toda a sua desenvoltura, ergueu cinco dos seus dedinhos .

 — Chinco. Já sô grande.

 — Sim, você é grande. — Ele falou a sorrir com tamanha doçura daquela pequena.

 Sofia olhou bem para o rosto dele, depois para o tórax.

 —Você é muito gordo !

 — Gordo? — Ronni nunca foi chamado de gordo em toda a sua vida.

 A menina encostou os dedinhos no peito dele e falou:

— Acho que você tem peitos.

 Ronni ficou definitivamente sem palavras. Levantou-se e entregou o gato para menina, não sabia como lidar com aquela situação.

 — Vá para a sua casa, criança. E não vá mais na mata sozinha.

 Entrou no chalé, fechando a porta na cara da criança, que gritou para a porta:

 — O meu nome é Sofia, mas você é meu amigo, pode chamar-me de Sofi.

 Virou-se e correu para junto da vó Ema na cozinha, antes que notassem a sua falta e a do Figo. Estariam encrencados se alguém soubesse que ela desobedeceu.

......................

 Ronni O'Maile entrou no chalé e bateu a porta. Como uma criança pode tirá-lo da sua zona de conforto? Suas férias estava comprometida. Não teria paz com aquela criança o infernizando.

 Abriu o frigobar, pegou uma cerveja e alguns petiscos. Sentou na cama de cara amarrada, mas logo riu de si mesmo.

 Uma pequena de trança, colocou o lobo mau no seu lugar.

 Ela era inteligente e muito esperta, se tiver mesmo apenas cinco anos, os seus pais logo teriam problemas,

num futuro próximo. Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos, não era da sua conta. Pegou mais alguns biscoitos que trouxe da viagem. Preferia comer qualquer coisa e esperar até a noite para poder caçar.

 Ligou a TV, mas sabia que a imagem não era boa, ao menos teria como passar o tempo. Pegou aleatoriamente uma fita VHS e colocou no aparelho para assistir um filme e talvez o tempo passasse mais rápido.

 Já estava quase na metade do filme quando o seu lobo ficou em alerta. Era estranho, mas o seu lobo estava feliz e alerta. Então, Ronni ouviu um leve bater na porta. Olhou exasperado para o relógio: duas horas da tarde.

Abriu a porta.

 — Você não tem sapato?

 Ao olhar para baixo, lá estava aquela criança. Será que nenhum adulto a controlava? Ela olhava fixo para os seus pés.

 — O seu pé é bem grande! — falando isso, ela sentou-se no chão sem cerimônias e com certa dificuldades, retirou a sua bota. — Olha o meu pé é desse tamanho e não tem cabelo.

 Ronni segurou o riso. Essa Sofi não procurava confusão, ela era a própria confusão.

 De repente, a criança se pôs de pé, tirou dos olhos alguns fios dourados que escaparam da trança e com o rosto expressivo, demonstrando todos os seus sentimentos, falou:

 — Ahh! Lembrei! — ela enfiou a mão no bolso e de lá retirou uma coxa de frango assada. Olha o que eu peguei pra você. — ela falou num tom mais baixo. — Ninguém viu, mas você é meu amigo e precisa comer. Pega.— ela fez uma careta — Figo quase arrancou do meu bolso, mas eu fechei ele no banheiro.

 Insistiu Sofia e Ronni, sem ter outra saída, pegou.

 — Come tudo.Tá muito gostoso. — enfiou a mão no outro bolso.— Tem batata frita também.

 Ronni não teve outra alternativa a não ser estender a outra mão, ainda não acreditando no que acontecia.

 — Depois eu vou trazer mais.— ela fez sinal para ele se abaixar e falou no seu ouvido — Ninguém viu eu pegar. Vô Owen não tem como saber. Não se preocupa...

 Depois, a criança sentou-se no chão e com dificuldades, colocou novamente a bota. Então, saiu em disparada rumo a casa, deixando Ronni perplexo com a atitude da menina.

 Sem perceber frango a boca mordiscando enquanto olhava a longa trança loira se distanciando. Ele chegou a conclusão que a tão sonhada paz não seria tão fácil assim…

 Quando se deu conta, já havia devorado todo o frango e a batata. Entrou no chalé, deitou-se na cama com um sorriso bobo no rosto. Com os braços cruzados sob a cabeça ficou a olhar para a televisão, sem prestar atenção no filme, apenas curioso com aquela situação. O seu lobo ansiava pela presença da criança, estava feliz enquanto estava ao lado dela, contrariando a sua vontade, já que Ronni não gostava de crianças.

 Mas aquela pequena de tranças havia tomado conta da sua mente e em vez de relaxar, ele pensava na garotinha.

 Das outras vezes que esteve ali, não havia crianças e agora... Sofi estava ali. Ela sempre aparecia, ele não tinha paz, mesmo agora, lá estava a menina nos seus pensamentos.

......................

Aretha trabalhou a tarde toda, dois locatários chegariam no final do dia, e ela estava eufórica, queria saber como se sairia. Queria que os seus avós ficassem orgulhosos dela.

Sofia estava se comportando muito bem e tudo estava certo para recepcionar as duas famílias. Ela preparou mesas ao ar livre para o jantar, assim todos se interagiriam. Talvez até o locador do chalé azul aparecesse...

Aretha estranhou o rumo dos seus pensamentos, pois ela mesma se manteve o mais longe possível para não ver o senhor O'Maile. Aliás, ele era uma tentação. Era bom ficar longe, ela não queria ser igual a sua mãe e se derreter por causa de um par de belas coxas, um tórax definido e braços feitos para segurar uma mulher..

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***