13– Preparativos

A sexta-feira amanheceu com sol brilhante, Aretha estava com a sua irmã cuidando dos animais, teria apenas a parte da manhã para ficar com Sofia, já que no final da tarde, alguns locatários chegariam para passar a noite.

— Eu tô trabalhando direito?— Sofia quis saber.

 — Sim, meu bem. Esses franguinhos vão ficar bem gordinhos.

— Vô Owen disse que tudo isso é seu. Se eu trabalhar direito, vai deixar eu ficar com você?

Aretha não pôde conter o riso, a criança tinha na voz um tom de pura expectativa. Abaixou-se para ficar na mesma altura que a irmã e explicou:

 — Sofi, agora seremos eu, você e os nossos avós. Eu jamais vou deixar você. E você? Promete que também ficará sempre comigo?

 — Eu nunca, nunquinha vô deixar você ficar longe. — Sofia falou, abraçando o pescoço da irmã.

 As duas terminaram de alimentar os porcos e galinhas com muita animação, depois foram de mãos dadas para casa tomar o café da manhã. Antes de entrar, lançou um olhar rápido para o chalé azul, a imagem do senhor O'Maile não saía da sua mente. Na noite passada ele apareceu em seu sonho, ele usava apenas uma toalha branca em volta da cintura...

 A mesa do café da manhã estava posta na varanda e os rapazes, Max e Egon estavam ali, tomando o farto desjejum que vó Ema preparou.

— Comam crianças precisam estar bem alimentados para aguentarem a correria que começa hoje.— Ema falou sorridente.

 Aretha não pôde deixar de notar a forma que a sua avó tratava todos ali, como se tivessem a mesma idade de Sofia. Não se importava, era a forma dela demonstrar o carinho que sentia por todos, inclusive pelos meninos. De certa forma era gratificante ter alguém que demonstrava carinho.

 A mesa era farta pão caseiro, bolo, queijo, suco… um típico café da manhã do interior, onde Ema tentava agradar a todos os presentes.

 Aretha sorria com mais facilidade nesses poucos dias que estava com os avós. A harmonia que existia ali lhe fazia bem, estava mais leve e era incrível como a sua pequena irmã não falava em sua mãe ou seu pai. A criança de cinco anos comportava-se muito bem. Ela tinha até medo de imaginar o motivo da falta de saudade que a criança tinha dos pais...

 Mas nada disso importava. Agora Sofia teria todo o seu amor, iria protegê-la das maldades do mundo, seria forte por ela.

 Depois que todos estavam satisfeitos, vô Owen distribuiu as tarefas, dando alguns pequenos afazeres para que Sofia também ficasse ocupada.

 — Sofia, você terá um trabalho muito importante: cuidará do gatinho Figo e da sua avó. Sabe que Ema precisa ser vigiada para não fazer nada de errado? Ela não poderá ficar muito tempo em pé e Figo deve ficar em casa.

 — Sim, vovô. Eu cuidarei para que a vovó seja obediente.

A criança falou com toda a seriedade possível, ela sabia da importância das suas tarefas. Todos riram da cara da que a menina fez.

......................

Ronni O'Maile acordou com a claridade da janela uma voz infantil soando ao longe:

— Figo! Não seja teimoso. Tem que ser obediente. Figo… volte aqui.

Ele podia sentir a insatisfação da criança e o seu cheiro doce. Olhou no relógio, passava às 10:00 da manhã. Dormiu do normal.

Depois de soltar o seu lobo na floresta e ele correr como um vento por entre as árvores durante toda a madrugada, apenas jogou-se nu sobre a cama e apagou.

Ele e o lobo estavam satisfeitos, com o instinto animal saciado depois de uma noite de liberdade.

Olhou para o teto planejando o que faria durante o dia, pois ficava geralmente trancado no seu Chalé até à noite. De repente ficou inquieto, sentia a criança mais longe, o cheiro do medo chegou até as suas narinas. Por instinto, levantou-se num salto e colocou a calça, saindo descalço pelo gramado, indo em direção às árvores.

Apenas sentia o medo da criança e seguia o rastro no ar. Avançou alguns metros na mata e logo encontrou uma menininha com os seus cabelos loiros presos numa trança, usando uma bota vermelha.

Ela demonstrava irritação, com as mãos na cintura, batia o pé e falava:

— Figo! É um menino mau. Vem já aqui ou vovô Owen vai ficar uma fera.

— Melhor pega-lo. Ele não entende o que fala.

Mesmo usando o seu tom mais baixo de voz, a criança se assustou. Colocando a mão no rosto delicado.

— Você sabia que eu podia morrer de susto? Vovó Ema sempre fala que assustar não é bom.

Ronni ficou encantado com a criança que sabia se expressar muito bem.

— Venha, volte para o seu avô. Aqui não é lugar para criança. — falou enquanto, mesmo sabendo que o seu lobo não gostava de gato, retirava o gatinho da árvore.

Ronni espantou-se quando a criança, ao invés de pegar o gatinho no colo, segurou a sua mão.

— Vamos, aqui é perigoso. Eu te levo pra casa.

Ronni ficou sem palavras quando sentiu a pequena e gorducha mãozinha entre as suas, a voz de comando que ela usou com ele, como se ele fosse a criança indefesa por ali.

Ao chegar em frente ao Chalé, sentaram nos degraus da pequena escada que levava para varanda. Ronni entregou o gato para a menina.

— Eu sou Sofia. Mas minha irmã me chama de Sofi. — ela olhou atentamente para ele.— Quer ser meu amigo? Aí eu deixo você me chamar de Sofi...

Diante do silêncio do homem, ela prosseguiu:

— Qual é o seu nome?

— Sou Ronni, Ronni O'Maile.

— Espera aí! Você devia ser velho!

— Eu? Velho?

— Aretha quem disse: "O senhor O'Maile é muito velho para ficar a andar por aí ".

Ele não pode conter um riso do engano que houve.

— E você? Tá andando sem roupa, a sua mamãe num briga?— ela olhou para os lados, levantou-se para falar no seu ouvido. — Eu não tenho mais mamãe e nem papai.— sentando-se novamente, continuou com a revelação. — Tenho Agatha.

Ele ficou sem palavras. Nunca havia interagido por tanto tempo com uma criança, essa era a sua primeira vez.

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