9 –Um novo lar

Aretha e Sofia foram na parte de trás da caminhonete. Durante todo o trajeto o vento balançava os cabelos negros da moça que estava indo de encontro ao desconhecido, não fazia ideia de como seria agora, apesar de que antes a sua vida também não tinha um rumo certo.

 O seu único alento era saber agora que a sua pequena irmã estava segura e que teria um teto sobre a sua cabeça. Os seus avós jamais a abandonaria e agora acolheram também Sofi.

 Com esse pensamento, estreitou mais o abraço na pequena, que não soltava da sua mão, mesmo agora, adormecida. Com a mão livre, acariciou os cabelos claros da sua irmã.

 Lembrou-se de como era a sua vida antes de ir para Londres...

 O seu padrasto jamais aceitou, dizia que ela era um peso desnecessário e que estudar não estava em nada.

 Ouviu isso por tanto tempo, que desistiu de se formar ou de sonhar com algo melhor. E mesmo antes de Sofia nascer, Aretha já se incomodava com os olhares daquele homem e das frases com duplo sentido direcionadas a ela. A sua mãe fingia não notar, com o passar do tempo, passou a acusar a própria filha de se insinuar para o marido.

 Foram tempos dolorosos e quando saiu de casa, a única coisa que lhe causava preocupação, era Sofia. Agora poderia proteger a sua irmã, não deixaria que nada e nem ninguém a fizesse sofrer.

 Enquanto a caminhonete sacolejava pela estrada de pedras, Aretha respirava aquele ar puro, impregnado com o cheiro das flores das árvores. Nunca antes havia visitado os seus avós, então, ia rumo ao desconhecido, a uma vida totalmente diferente da vida corrida que levava em Londres.

 Mas ela se acostumaria, sempre foi assim. Tinha facilidade para se encaixar no ambiente em que estivesse. Não tinha amigos mas também não precisava, a sua irmã bastava-lhe.

 Levantou a cabeça olhando as árvores ao redor da estrada, parecia que a pousada dos seus avós ficava longe da cidade e ela não se importava, queria paz. O seu último emprego fez com que ela odiasse mais ainda os homens e os seus vícios.

 Garçonete de um prostíbulo...

 Só ela sabia quantas mãos abusadas a tocaram em três meses naquele emprego. Nem ia ao banheiro durante o expediente apenas por medo de ser encurralada por um daqueles depravados.

 Aretha balançou a cabeça e secou, com o dorso das mãos, uma lágrima teimosa.

 — Engole esse choro! — falou para si mesma.— A fraqueza te condena a uma vida medíocre.

 Sempre repetia para si mesma. Era como um mantra que a fortalecia.

 As outras garçonetes a encorajavam, dizia que se aceitasse os assédios constantes, teria uma boa recompensa. Mas ela tinha pânico só em pensar em ser tocada por um homem.

 Aos quase vinte e seis anos, ainda era virgem. Tirando alguns beijos e algumas mãos bobas nos seus seios ainda na adolescência, não se aproximou de um homem desde então. Não sentia falta do tal "amor avassalador" que ouvia falar, não queria sentir algo assim e se tornar uma pessoa igual a sua mãe, que ficou cega para a razão e apenas pensava no "seu homem", sem pensar no bem-estar das suas próprias filhas.

 Respirou fundo e olhou para o céu claro acima da sua cabeça. Estava com fome, não havia comido nada ainda e precisava se alimentar.

 No momento em que a camionete deduziu a velocidade, entrando numa estrada secundária, Aretha prestou atenção em cada detalhe. Avistou uma grande placa indicativa com o nome: POUSADA DA LUA. Podia notar um número infinito de flores multicoloridas as margens do estreito caminho que levava até a casa.

 O carro parou logo à frente de uma casa amarela que por si só já se destacava entre o gramado verde que a cercava.

 — Vamos meninas, está na hora de conhecerem o novo lar de vocês. — vô Owen disse alegre ao sair da camionete.

 Ele caminhou até a outra porta e ajudou a sua esposa a sair. Ema conseguia ficar de pé e dar alguns passos, com isso ficou a esperar ao lado do carro até que ele arrumasse a sua cadeira de rodas.

 Aretha ficou a observar a devoção do seu avô para com a esposa. Ele sempre dava prioridade a sua companheira e ao seu filho e agora, que ela estava sobre uma cadeira de rodas, ele se desdobrava para vê-la bem e feliz.

 Seria bom conviver com eles num ambiente cheio de amor, era o ideal para que Sofia crescesse bem.

Pegou a sua irmã nos braços e entregou ao avô, desceu sem dificuldades da traseira da camionete, espreguiçando ao sentir o corpo dolorido da viagem, só então observou com atenção ao seu redor. Tudo ali era bem cuidado e Aretha imaginou se tinha mais alguém ali, que ajudasse aos seus avós.

— Gostou? — vô Owen perguntou. — Na casa principal, servimos as refeições para os hóspedes. Se você olhar, verá que temos cinco chalés afastados. São esses que alugamos, assim mantemos a nossa privacidade e os hóspedes mantêm a deles. — explicou com orgulho.

— As reservas acontecem mais aos finais de semana. Nós fazemos as reservas pelo telefone, assim nós preparamos para receber o público. — completou Ema.

Aretha pôde ver várias construções pequenas, uma de cada cor. Tinha azul, vermelho, rosa, lilás e laranja. As cores fortes se destacavam entre o verde do gramado e das árvores.

— As cores são para facilitar na hora de entregar as chaves. — Ema continuou a explicação. — Venha, deixei um assado pronto no forno para quando chegássemos.

Seguiram para a casa amarela, Sofia ia saltitante na frente de todos, alheia só o seu futuro ou ao funeral que acabou de presenciar. Estava feliz com as novidades, como qualquer criança.

O seu avô carregava as bagagens para dentro e as três foram direto para a cozinha para pôr a mesa.

Arrumaram tudo sobre a pequena mesa, ali mesmo na cozinha. Aretha colocou a travessa com uma ave assada e batatas, enquanto a sua avó terminava a salada.

— Lavem as mãos e chamem Owen. Vamos comer primeiro, depois mostrou o quarto de vocês.

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Comments

Vivi

Vivi

Ronny vai ter que conquistar Aretha aos poucos adoro

2024-05-09

3

Ruth Morais

Ruth Morais

Autora. suas histórias são lindas

2024-04-02

5

Maria Izabel

Maria Izabel

muito bom Autora gostando muito da história

2024-03-15

1

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