8 – Aretha

 Aretha fada em direção o voo para Cornualha. Após quase dois anos longe, lá estava ela voltando para casa. Ela falhou em construir uma vida diferente, provavelmente a sua mãe e o seu padrasto deveriam estar se revirando felizes em seus caixões por saber do seu fracasso.

 A amargura tomou forma no seu coração. A sua mãe não a impediu quando quis partir, ou a apoiou. Ela queria livrar-se do fardo que era a filha, ela percebia os olhares de luxúria do seu companheiro para ela e o ciúmes sempre falou mais alto. Durante esses anos, Aretha esperou, mas nunca recebeu uma carta da sua mãe, para ela só existia o seu amado marido e a filha do casal. Não que Aretha culpasse a sua pequena irmã, longe disso, ela sabia ser apenas a sua mãe a culpada.

 Os dois haviam falecido num acidente de carro quando viajavam para as montanhas, a sua irmã Sofia, de apenas cinco anos, foi a única sobrevivente, Aretha, como irmã mais velha, seria a tutora da criança.

 Por isso precisava correr, não porque queria chegar a tempo para o enterro e sim para segurança da sua pequena irmã. Aretha sabia muito bem o que era ser sozinha no mundo, por isso abandonou tudo em Londres, juntou os seus poucos pertences e agora estava voltando para casa. Tinha muitas incertezas, mas tinha toda a coragem que precisava para fazer a sua irmã feliz.

 Num segundo estava no chão, ela havia colidido com algo rígido como uma parede.

 Aretha ficou furiosa! Aquele grandalhão não olhava por onde ia ? Juntou os seus pertences e ignorou a mão estendida. Sabia muito bem o que acontecia quando alguém era bom para ela, sempre tinha um preço e ela não estava disposta a pagar.

 — Olhe por onde anda! Vou perder o meu vôo.

 Andou apressada em direção ao portão de embarque. Só quando estava sentada, quase adormecendo na poltrona do avião, veio a sensação de já ter visto aquela muralha de cabelos avermelhados em algum outro lugar...

......................

Quando as suas malas já estavam no porta-malas do táxi, ela olhou a sua volta antes de entrar no carro. Tudo estava como há dois anos, nada mudou. Parecia ter sido congelada no tempo e a única mudança, era que não tinha mais a sua mãe e o seu padrasto a perseguir-lhe.

 Com essa conclusão, passou o endereço do cemitério, estava quase na hora do enterro.

 Ao chegar no local, o motorista deixou as suas malas na calçada. Aretha arrastou com dificuldades as malas até próximo ao local do sepultamento. De longe podia ver uma cadeira de rodas.

 Vovó Ema?

 O que ela fazia ali? Logo notou ser o vovô Owen segurando a pequena mão da sua irmã Sofia.

 Eles não eram avós da pequena, mas no momento como aquele, para o conforto da casinha no interior parar aquela criança que não era do seu sangue.

O coração de Aretha se aqueceu, viajou preocupada com a sua irmãzinha e lá estava aquele casal de idosos, os seus avós paternos fazendo o que sabiam fazer de melhor, amparar...

 Aproximou-se lentamente, para não atrapalhar. Estavam ali apenas os três, o sacerdote e dois funcionários do local.

 O vento soprava com suavidade por entre as árvores, trazendo o cheiro de flores para o nariz de Aretha, deixando o seu coração entristecido. A sua mãe nunca a tratou com amor ou mesmo o mínimo de carinho, mas a sua irmã merecia bem mais do que ela própria recebeu. Agora, com quase vinte e seis anos, seria responsável por uma criança de cinco anos.

 Aproximou-se daquele trio improvável:

 — Sofi? — Aretha chamou a sua doce irmã pelo apelido carinhoso.

 A criança virou o rostinho em direção ao som de sua voz com os olhos expressivos, deixando claro a sua confusão, dois anos era tempo demais para uma garotinha...

 — Sofi, meu amor... eu estou aqui para você.

 Com o reconhecimento, largou a mão do senhor e jogou-se nos braços da irmã, então todo o seu controle se foi e aos prantos, afundou o seu rosto delicado entre os cabelos negros da irmã mais velha.

 — Eu... eu pensei que não tinha mais você…

 — Calma, minha Sofi. Eu vim por você, vim para ficar.

 Nesse momento, Aretha já estava com o rosto bonito banhado em lágrimas. Chorava, não pelos corpos no caixão e sim pela dor da criança e pelas incertezas que enfrentaria.

Logo após o enterro, o seu avô carregou as malas em direção ao estacionamento, enquanto Sofia estava sentada no colo da vovó Ema. Aretha empurrava a cadeira de rodas lentamente em direção há uma camionete pertencente ao casal.

 — Como a senhora soube, vovó?

 Aretha perguntou, sabia que a sua avó não mantinha contato com a ex-nora. Desde o acidente automobilístico que levou a vida de seu filho e os movimentos das suas pernas, aquela senhora fechou-se para o mundo, morando num local isolado com o seu marido.

 — O seu avô estava na cidade comprando mantimentos. Ele soube. — a sua voz tornou-se um sussurro — Quando chegou em casa e me contou, entendi o que deveria fazer. Não deixaria essa pobre alma abandonada, mesmo a mãe dela não merecendo, eu vim por você e por esse anjo.

Aretha sentiu a emoção na voz da sua avó. Ela sabia das dores daquela senhora e sabia também do seu coração bondoso.

— Não sei como será agora, mas irei cuidar da minha irmã.

— Não será tão fácil. Os dois irresponsaveis venderam a

casa e tudo que tinha valor . Estavam indo para um tipo de

acampamento ... uma seita.

Aretha ficou sem chão, algumas lágrimas tornaram em escapar.

— Não se atormente. Eu e o seu avô teremos prazer em ter vocês duas conosco.

— Mas vovó...

— Chega de mais. — O avô falou.— Seremos nós quatro agora. A nossa propriedade é uma pequena pousada, eu e sua avó estamos velhos. Sangue novo, talvez possamos melhorar o funcionamento.

— Sim, minha neta, as duas jamais serão um fardo para nós dois. — Ema deixou claro.

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Comments

Lucilene Palheta

Lucilene Palheta

é a mesma menina ,a garçonete,oba , o cheiro da inocência do Ronnie

2024-05-15

2

Maria Izabel

Maria Izabel

Torcendo muito para Ronni se hospedar na pousada que onde ela vai ajudar os avós 👏👏❤️❤️😍😍😍

2024-03-15

5

Beatriz Ferraz

Beatriz Ferraz

Wohooooooo!!!!!Vamos lá !!!!

2024-03-02

1

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