10– Pousada da lua...

 O lugar era aconchegante e em nada se parecia com a casa da sua mãe ou o quartinho sem conforto ou privacidade que morou em Londres. Não tinha luxo, mas tudo ali era perfeito, cada móvel tinha uma beleza própria e os pequenos enfeites artesanais davam um ar rústico ao lugar. Havia três quartos na pequena casa, mas mesmo assim as duas irmãs preferiram dormir juntas. Aretha gostou da idéia de Sofia, assim elas estreitariam os laços afetivos entre elas.

 Sendi assim, ela passou à tarde toda arrumando no armário os seus poucos pertences e os da sua irmã. O quarto tinha uma cama de casal enorme, as paredes eram de um tom claro, a janela de vidraças amplas, dava a possibilidade de apreciar o extenso verde da floresta. Tinha um banheiro privativo, que para Aretha, era um luxo a pequena banheira.

 Já era tarde quando as irmãs saíram do quarto de mãos dadas em direção à cozinha, de onde vinha um cheiro delicioso de bolo.

 — As minhas meninas já terminaram a arrumação?

 — Sim, vovó. — Aretha respondeu.

 — Vovó... me chame apenas de Ema, assim fico mais rejuvenescida. — a senhora falou, arrancando risos das irmãs.

 — Eu posso chamar você de vovó? — Sofia perguntou toda tímida, escondendo-se atrás da irmã mais velha.

 — Claro querida! — Ema sorriu afetuosamente para a criança. — Ser vovó de um docinho como você, me deixa mais doce.

 — Alguém aí falou em doce? — Vô Owen entrou na cozinha trazendo um cesto repleto de legumes frescos.

 As três gargalharam felizes.

 — Venha, meu velho, vamos comer antes que esfrie.

 Owen foi todo feliz para perto da mesa, cortando uma bela fatia do bolo, passando requeijão e dando uma boa mordida.

 — Está aprovado. Podem comer meninas, o bolo de laranja está uma delícia.— falou a lamber os dedos — Depois mostrarei a vocês como é funcionamento das coisas por aqui.

 Lancharam num clima alegre, nem parecia que estiveram em um funeral pela manhã.

......................

 — É aqui que servimos as refeições.

 Owen falava para as meninas, mostrando uma ampla varanda nos fundos da cozinha, onde havia algumas mesas. Era tudo muito simples, mas notava-se o orgulho contido na voz daquele homem. Alguns vasos com plantas estavam dispostos em locais estratégicos.

 — Nossos chalés não têm cozinha. São apenas dormitórios com banheiro. Não recebemos muitas pessoas por aqui. Temos apenas cinco chalés, mas aos domingos servimos refeições para o pessoal da cidade que vêm até aqui apenas para passar o dia. Mesmo assim, é costume da maioria telefonar antes, avisando.

 Logo Aretha ficou "por dentro" do andamento das coisas por ali. As reservas eram feitas durante a semana, na maioria das vezes, por moradores da cidade. Mas havia um ex-militar que reservava sempre o Chalé Azul, o que ficava mais distante da casa e dos outros. Localizava-se bem próximo da mata. Não fazia a sua refeição com os outros e quase não saía do seu quarto, gostava da solidão.

 — Vô, mas como apenas vocês dois conseguem cuidar de tudo isso sozinhos? — Aretha quis saber.

 — Temos ajuda.— o homem sorriu para a neta.— Temos um bom vizinho, os Forden. Os seus garotos vêm para cá aos finais de semana, Max e Egon, damos uns trocados para eles. São bons garotos.

 — Eu posso ajudar também na limpeza e a servir mesas. Posso aprender a cuidar do jardim…

 — Calma, menina. Não queremos uma neta escrava.

 — Eu preciso retribuir o que fazem por mim e por Sofia.

 — A única coisa que você precisa é aprender a gerir tudo isso. É pouco, mas será seu um dia. O seu pai foi o idealizador de cada detalhe desse paraíso.

 Ao ver a tristeza estampada no rosto sofrido do seu avô e lágrimas nos seus olhos, Aretha o abraçou. Sabia o quanto aquele pai amou o seu filho e a dor de se ver afastado da neta pela ex-nora.

 — Ainda dói. Mesmo tendo se passado tantos anos...

 — Fique calmo Vô. Certamente o meu pai não iria querer vê-lo assim.

 — Certo! Vou mostrar pra você a nossa horta.

 Aretha conheceu tudo ao redor da casa e como funcionava a bomba d'água, o gerador…

Tinham uma pequena criação de galinhas, alguns poucos porcos e até uma vaquinha leiteira. Seria uma vida oposta à correria de Londres.

 Quando voltaram, Sofia dormia numa rede na varanda, com um gatinho adormecido no seu peito. Sorriu com aquela cena perfeita. A sua irmãzinha parecia um pequeno anjo adormecido. Nunca mais se separaria dela, nada nem ninguém teria esse poder.

Sentada na pequena mureta da varanda, ficou a olhar, encantada, para o sol que se escondia entre as árvores, naquele fim de tarde.

Seria bom ficar ali, além do amor dos avós, teria aquele lugar tranquilo e cheio de paz.

O seu pai foi um ótimo idealizador, tudo ali era perfeito e não seria tão ruim trabalhar servindo mesas novamente. Certamente não seria apalpada como foi naquele prostíbulo em Londres.

Uma breve brisa bateu em seu rosto, tazendo-a de volta à realidade. Levantou-se e caminhou pelo gramado, sentindo o vento balançar as saias do seu vestido. Ergueu os braços e olhou para o céu, agradeceu em pensamento pela oportunidade de estar ali.

Apreciou o momento de paz, sentindo a liberdade invadindo o seu ser, mas logo voltou para casa, precisava ajudar no jantar e parar de focar dando espaço para ficar sonhando.

Jantaram e logo foram todos para a cama, foi um dia cheio de emoções e o dia seguinte seria tudo novo e cheio de preparações para o final de semana.

Já sabia que o militar aposentado já havia reservado o chalé azul. Então seria dia de faxina pata que ele encontrasse tudo em perfeita ordem.

Depois de muita conversa com a irmã, que fazia mil perguntas, apagou a luz e deitarem abraçadas. Aretha sabia que, mesmo a sua genitora não tendo coração, para Sofia, era a mãe e a pobrezinha havia perdido de uma só vez a mãe e o pai.

Com o coração apertado, deixou-se ficar assim, pertinho da criança de forma protetora até que adormeceu também.

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