capítulo 15

Não me lembro de muita coisa de ontem à noite, mas acordar com ele aqui na cama foi o cúmulo, e o pior, ele me acusando de que fui eu quem o convidou. Eu jamais o convidaria para dormir comigo, ou convidaria?

Droga, a pior cena foi a mãe dele entrando no quarto e perguntando se dormimos juntos. Ela vai pensar que estou aqui só para seduzir o filhinho dela.

— Seu filho que dormiu aqui, eu não tive culpa. — Vou me defender, pois mãe e filho que se entendam.

— Não senhora, você me convidou para ficar aqui. Me mandou deitar, pegou na minha mão, e me fez te abraçar, e de manhã ficou alisando o meu braço.

Sabe aquela vontade de jogar alguma coisa na cabeça da pessoa? É o que sinto nesse momento, quero jogar a casa toda em cima dele, só para vê-lo esmagado no chão.

— Tá bom, tá bom, vamos descer e tomar café, depois vocês discutem. Vai para o seu quarto Klaus, aqui é o quarto dela.

Com a cabeça baixa, mas com os olhos penetrantes dele, ele sai do quarto me olhando. Vou acompanhando, mostrando que não tenho medo dele.

— Vai se arrumar Maitê, eu vou te levar a um lugar hoje, sei que você vai gostar.

— Para onde senhora?

— Para o meu paraíso aqui na terra. Te espero lá embaixo.

Ela sai do quarto, e eu sigo para o banheiro. Assim que saio, vejo uma troca de roupa em cima da cama, e eu a coloco. Tenho certeza que foi Kiara, tenho que ir ao hotel buscar as minhas roupas, não posso ficar usando as roupas dela assim.

Desço e todos estão à mesa, exceto o pai deles. Ainda não o vi desde que cheguei aqui, deve estar fazendo negócios obscuros pelo mundo afora, ou será que apenas o filho se envolve, e ele não sabe de nada? Bom, terei que investigar isso também.

Me sento à mesa e o irmão de Klaus me olha e me dá um sorriso tão fofo que eu retribuo. Acho que o único carrasco aqui é o Klaus, pois o resto da família é muito gentil.

— Minha mãe disse que temos visitas, nem fui para o trabalho cedo só para te conhecer. Está gostando de Madri? — Viu, ele é muito educado, diferente do irmão que me mandou ir embora assim que cheguei.

— Estou sim, é um país bonito e muito interessante.

— Que bom que está gostando, se quiser ficar aqui na Espanha, posso te arrumar um emprego na empresa. Poderia ser minha assistente, o que acha?

Uma boa ideia, assim teria acesso a todos os documentos que eles têm, principalmente se houver algo sobre a máfia envolvida na empresa.

— Prometo entregar meu currículo se eu decidir ficar aqui.

— Mas ela não vai ficar, ela vai voltar para Nova York e retomar a vida dela, não é Maitê? — O ignorante fala, chamando a atenção de todos para ele.

— Pode ser que eu fique, vai depender se eu me sentir em casa aqui. Em Nova York, não há mais nada que me prenda. Mas repito, se estiver incomodando, posso ir para o hotel, não precisa ficar me mandando embora toda hora.

— Então vá... — Ele fala, apontando para a porta.

— Klaus, pare com isso, já disse que fui eu que a convidei para ficar, pare de ser mal-educado. — Ele solta um sorriso sem humor e se encosta na cadeira.

— Por mim, não tem problema nenhum dela ficar, mãe. — Kalel fala, e Kiara concorda, dando mais votos para a minha permanência aqui. Solto um sorriso irônico para ele, que revira os olhos, olhando para o outro lado.

Todos nos levantamos da mesa, e Marisol me chama para acompanhá-la. Kiara diz que irá junto, mas ela quer ir somente comigo. Seguimos para o carro dela e, após alguns minutos na estrada, ela para exatamente onde Kiara estava, no lugar que parece o centro de treinamento da minha mãe.

— Maitê, aqui eu ensino muitas mulheres a sobreviverem sozinhas, treino-as para saberem se defender se alguém tentar machucá-las.

Como eu suspeitava, é igual ao da minha mãe. Conforme vamos andando, ela vai mostrando tudo que tem ali. A decoração é diferente do centro de treinamento da minha mãe, mas você sente que o ambiente é o mesmo.

Chegamos aos fundos, onde algumas mulheres estão treinando, e minha mente viaja para quando a minha mãe me treinava junto com o Júnior.

— Quero que você aprenda de tudo, para que também saiba se defender.

— Acho melhor não, senhora, eu sou totalmente contra a violência. — Dói ter que mentir, mas não quero que ela saiba que já sei me defender, e também não quero levar tapas e nem murros na cara ao ter que fingir que não sei de nada.

— Mas isso é essencial para todas as mulheres. Imagine se todas já nascessem sabendo como golpear um homem, acha que teríamos tantos casos de violência doméstica?

— Tenho certeza que não, senhora, mas acho que isso não faz parte do meu perfil. Eu realmente não quero, mas posso assistir as meninas treinando.

Ela dá um sorriso de lado e concorda comigo. Sentamos em uma espécie de bancada, enquanto vemos as meninas lutarem. É como se fosse uma briga de rua, onde minha mãe me levava muito para que eu aprimorasse os meus golpes.

Passamos a tarde toda ali, até que voltamos para a casa dela. A todo momento, ela tentou me fazer entrar na arena, mas eu sempre recusei, dando a mesma desculpa. No caminho, ela olha pelo retrovisor e me manda apertar o cinto, acelerando mais o carro.

Olho para trás e vejo duas motos nos seguindo, independentemente de para onde Marisol dirige. Droga, espero que ela consiga se livrar disso, eu não posso revelar minha identidade agora para nos salvar. Ela desce uma rua, fazendo o carro saltar em cada lombada, mas as motos não param, nos seguem com bastante insistência.

Até que um carro para na nossa frente, fazendo o carro de Marisol capotar várias vezes até parar no muro. Sinto dor em todo o meu corpo e, ao olhar para Marisol, vejo que ela tem um corte na cabeça e está desmaiada. As motos e o carro se aproximam, e eu tenho que agir rápido, ou vou morrer nas mãos desses infelizes.

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