Capítulo 4

Clara,

Ele exibe um sorriso cruel e eu tento, em vão, afrouxar a pressão da sua mão que me prende no lugar. Seus dedos se fecham ao redor do meu pulso com uma força que beira a brutalidade, fazendo com que eu me contorça em desconforto.

Nesse exato momento, uma voz feminina ressoa no ambiente. Quando me viro para identificar a fonte, me deparo com sua irmã, ela é mais bonita do que nas fotos. Seus cabelos longos caem em ondas suaves sobre os ombros e seus olhos expressam uma mistura de surpresa e preocupação.

— Solte ela, Klaus. — ela ordena, com uma voz firme e decidida, e pega no meu outro braço.

Klaus não solta o meu pulso, pelo contrário, aperta mais e eu tento puxar, o que é em vão. Seus olhos se desviam dos meus para pousar sobre sua irmã. Uma ruga se forma em sua testa, indicando sua irritação.

— Não, ela viu o que não deveria ver. Quem é você? — ele pergunta, seu olhar voltando para mim, mais intenso do que nunca. Rapidamente, tento formular uma resposta que possa salvar minha pele.

— Eu já disse quem eu sou, e eu não queria ver isso não. Eu apenas estava procurando a saída, e me deparei com esse cenário de horror. — Solto as palavras num fôlego só, esperando que ele acredite na minha história improvisada.

Mas, ao invés disso, ele franze a testa, seus olhos estreitando-se em desconfiança. Sinto um nó se formar no meu estômago. Ele não acreditou. Droga.

— Solta ela, ela não fez por mal não é? — Eu sabia que ela era legal, só pelas fotos eu tive a certeza, nosso santo bateu ali mesmo. Concordo com a cabeça, e olho para ele com um olhar de cachorro sem dono.

— Saia daqui... Ou melhor, saia do meu cassino, tenho certeza que você já ganhou dinheiro o suficiente essa noite não foi?

— Vem, vamos lá para o salão, aqui não tem diversão para nós duas. — Ela sai me puxando, e eu vou andando olhando para ele com os olhos serrados, até me virar de costas. — Desculpe a grosseria do meu irmão, ele as vezes é um ignorante. Mas só as vezes tá?

— Tudo bem, obrigada por me salvar dele. Como se chama? — Fingindo não saber, começo a puxar assunto com ela. Ela me pergunta o meu nome, e eu respondo "Maitê", o nome que consta nos meus documentos falsos. Decido arriscar e começo a falar sobre os assuntos que, segundo minhas pesquisas, ela mais gosta.

Aos poucos, ela vai se soltando. Com cada palavra trocada, cada risada compartilhada, a tensão entre nós vai se dissipando, até que parece que somos velhas amigas. Nos sentamos no bar e, para cada história contada, uma taça de vinho é esvaziada.

Eu sei que deveria estar sóbria nesse momento, que preciso manter a cabeça clara para seguir com meu plano. Mas, de alguma forma, me deixo levar pelo momento de distração, pela risada fácil dela, pelo sabor suave do vinho que dança em minha língua.

À medida que as horas passam, percebo que estou cada vez mais envolvida na conversa, cada vez mais distante da minha missão. Quando dou por mim, já nem sei mais quem eu sou, e nem de onde vim. A linha entre a agente infiltrada e a mulher que finge ser fica cada vez mais tênue. E, por um momento, me permito esquecer de tudo, me permito apenas ser Maitê, a mulher que nem existe de verdade.

— Onde você mora Maitê, posso te deixar em casa com o meu motorista, pois você não pode dirigir, estão tão alta quando eu.

— Estou hospedada em um hotel, eu sou de Nova York, vim a passeio e me deparei com esse cassino incrível, e como gosto de jogos, foi perfeito.

— Ah, gostei de você, não quer ficar em casa comigo hoje, e amanhã você vai embora?

— Só uma pergunta, você é lésbica? Se for eu não...

— Não, eu não sou. — Ela fala gargalhando. — Mas quando eu me dou bem com uma pessoa, e acabo me soltando igual agora, já considero a pessoa como da minha família, apesar do Klaus odiar isso. Pois diz que é com esse meu coração mole, que um dia eu vou quebrar a minha cara.

De certa forma, o irmão dela tem razão. Meu propósito aqui é derrubá-lo, e sua irmã está sendo incrivelmente solidária comigo, sem ter a menor ideia de quem eu realmente sou. É irônico como eu tenho que colocar uma capa e uma máscara para esconder meus verdadeiros sentimentos e emoções. Eu deveria estar chorando meu luto ainda, mas aqui estou eu, bebendo e conversando descontraidamente com ela.

Enquanto estamos imersas nessa conversa de cumplicidade, o irmão dela se aproxima. Rapidamente, finjo estar mais bêbada do que realmente estou, sabendo que essa é minha chance de entrar naquela casa e obter todas as informações que preciso para enviar ao Júnior.

No entanto, para minha surpresa, ele chama apenas a irmã para ir embora. Seus olhos fixam-se intensamente nos meus por um momento, como se houvesse algo mais ali, uma faísca de desconfiança. Mas, sem dizer uma palavra, ele simplesmente pega a irmã pelo braço e a leva embora.

Fico ali, sozinha no bar, sentindo uma mistura de alívio e frustração. A oportunidade de entrar na casa foi perdida, pelo menos por enquanto. Droga, isso vai me dar mais trabalho do que eu imaginava.

Seria tão fácil se ele me chamasse para ir para a casa dele também, mas não, é um ignorante que deixa uma mulher bêbada sozinha em um bar. Mal educado. Já que não tenho mais nada a fazer aqui, agora que meu alvo foi embora, troco minhas fichas por dinheiro e pego um táxi para o hotel.

Ao chegar, tomo um banho revigorante e tomo um remédio para evitar a maldita ressaca de amanhã, já que o vinho sempre acaba comigo no dia seguinte. Me deito na cama e adormeço. Amanhã vou tentar novamente e rezo para encontrar com ele no cassino, ou pelo menos com a Kiara. E dessa vez, vou aceitar logo a proposta dela de entrar na sua casa. Enquanto isso vou mandar um bilhetinho para o mafioso garanhão.

Kiara Carrillo Monserrat, 20 anos, irmã de Klaus.

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Comments

Carla Silva

Carla Silva

vão se apaixonar

2024-05-02

4

Marcia Cristina Carneiro

Marcia Cristina Carneiro

Será que esses dóis vão se pegar

2024-04-28

0

Rosa Hosana Santos

Rosa Hosana Santos

eita povo bonito 🥰🥰🥰

2024-04-17

0

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