Capítulo 20

Clara,

Observo-o com os olhos semicerrados, contando mentalmente até cinco para acalmar minha mente assassina, e não quebrar ele em dois. A situação é completamente inacreditável.

Marisol falou que ele também estaria viajando, mas disse que seria em outro jatinho. Agora, ele provavelmente pensará que estou seguindo seus passos, o que é absolutamente absurdo. Bom, pelo menos hoje.

— Responda logo! — Exige uma resposta imediata, com um tom de impaciência e prepotência.

— Eu vim porque a sua mãe pediu para que eu pegasse um documento para ela na França. Ela falou para eu viajar neste jatinho. Se eu soubesse que você também estaria sesse daqui, eu jamais teria aceitado.

— Pediu? Isso só pode ser uma brincadeira, não posso acreditar nisso não.

Sem dizer mais uma palavra, ele se vira e retorna para seu aposento, deixando-me sozinha com minha raiva de está aqui com ele. Me viro para o lado do banheiro, e caminho até ele. Como pude ser tão besta, se não tiver homem nenhum lá, isso significa que ela armou para nós dois, mas porque?

Lavo o meu rosto e o meu pulso, sentindo a água fresca escorrer por minha pele, trazendo um breve alívio. É um gesto simples, mas que ajuda a acalmar nas viagens de avião, que é a única coisa que me deixa tensa, não sei porque, mas é como se eu soubesse que vai cair.

Volto para o meu lugar e me sento. O silêncio é o rei do Jatinho, ouvindo apensas o som dos motores do avião. O resto da viagem segue assim, com ele lá na frente quieto, e eu aqui atrás sem falar nada. Cada minuto parece uma eternidade, e quase a todos momento me levanto para lavar meu rosto e a minha mão.

Assim que o piloto anuncia a chegada e o avião pousa com um leve solavanco, levanto-me rapidamente, ansiosa para sair logo dessa situação constrangedora. Passo por ele, que permanece sentado, imerso em seus próprios pensamentos. Seu rosto está sério, a mão apoiada no queixo, como se estivesse perdido em pensamentos sombrios.

Desço as escadas do jatinho e, ao olhar para trás, percebo que ele também está seguindo o mesmo caminho. Vejo de longe o motorista que segura uma placa com o meu nome, indicando que está ali para me levar ao destino desejado. Ainda bem que Marisol já deixou tudo certo imagina eu ainda ter que ir no mesmo carro que o Klaus?

Enquanto o carro segue as ruas da franca, eu ainda fico desacreditada do que aconteceu. Minha mente joga que isso foi culpa da mãe dele, ela queria que eu viesse com ele, mas sabe que recusaria se soubesse que Klaus estaria no mesmo jatinho. E pelo que parece, ele nem sabia que eu viria.

Ao chegar no hotel, vou direto falar com a recepcionista, ela me abre um sorriso gentil, e eu o devolvo. Digo a ela meu nome, e o nome que a Marisol me deu do cara que vim pegar os documentos.

— Aqui está o cartão do seu quarto. Sinta-se à vontade para subir e desfrutar de nossas instalações. Se precisar de qualquer serviço adicional, basta ligar para o número um no telefone, e nossa equipe de serviço de quarto estará pronta para atendê-la da melhor forma possível. — A recepcionista me entrega o cartão do quarto, acompanhado de um sorriso acolhedor, na eu não entendo o motivo de ela me entregar isso.

Mas, eu não preciso ir no quarto dele, eu só preciso pegar os documentos e ir embora, ainda bem que pelo menos o hotel não é o mesmo Klaus.

— Será que não seria possível mandá-lo descer para o salão? Não me sinto confortável em subir para o quarto de um homem, e tenho pressa para ir embora.

— Desculpe, mas a senhora Maitê reservou um quarto para a senhora. Porém, se estiver esperando por ele, logo ele chegará e eu posso enviar uma mensagem para você. Assim, você poderá descer quando se sentir mais confortável, tudo bem? — A recepcionista se desculpa e explica a situação.

Concordo com a cabeça, até porque estou cansada, e não sei quando ele vai chegar. É melhor eu esperar deitada na cama, do que aqui no salão.

— Por favor, me avise assim que ele colocar o pé na porta ok? — Ela assente com a cabeça, indicando que fará o possível para me manter informada. Com o cartão em mãos, subo as escadas em direção ao quarto.

Ao entrar no quarto, coloco minha bolsa em cima da cômoda e me jogo na cama, sentindo o cansaço e a tensão do dia pesarem sobre mim. A sensação de alívio toma conta do meu corpo ao finalmente ter um momento de descanso. Mas sou despertada pelo som da porta sendo destrancada, e rapidamente me levanto, preparada para confrontar o intruso. Para minha surpresa, é ele quem entra no quarto.

— Pode ir embora, esse quarto é meu. — falo com firmeza, para que ele entenda que aqui é meu espaço, e dessa vez é ele que está me seguindo. Mas, ele simplesmente ri e coloca a mão entre os olhos e balança a cabeça. — Não adianta rir, pode sair daqui, Klaus, não quero dividir o mesmo quarto com você.

Ele me encara com um olhar desafiador, respondendo como se fosse óbvio.

— Esse quarto está reservado em meu nome. — Sua afirmação soa confiante, mas não consigo entender como um hotel poderia reservar o mesmo quarto para duas pessoas diferentes?

— A Marisol reservou esse quarto para mim enquanto espero a chegada de um homem. Então, pode um embora. — Já fiquei irritada, não gosto dessas situações, se ela fez isso mesmo, eu vou ficar muito brava com ela, e nem volto mais para aquela mansão.

— Eu não vou embora, Maitê, eu vim aqui para uma coisa importante, se quiser vai na recepção, e manda te trocar de quarto, porque eu vou ficar nesse aqui. — Ele fala jogando a bolsa dele em cima da cama, e me olhando em um tom de desafio. Já entreguei as provas pro Júnior, será que agora eu já posso matar ele?

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