Capítulo 10

Clara,

— Infelizmente, meu namorado foi vítima de um ato de violência. Um traficante cruel e covarde tirou sua vida de forma monstruosa. Nós havíamos acabado de começar nosso relacionamento, mas ele já tinha conquistado um lugar especial em meu coração. A dor da perda é profunda e acredito que jamais o esquecerei.

Me abrir com ela foi como se eu estivesse falando com uma irmã que eu não tive, ela passa a mãos em minha costas e diz que sente muito. Pois é Kiara, eu também sinto, e sinto mais ainda pelo seu irmão que vai pagar por isso.

Permanecemos ali, conversando, enquanto a conexão entre nós se fortalece. Kiara, então, pega seu notebook e habilmente acessa as câmeras de segurança da cidade. Juntas, observamos atentamente as imagens capturadas no exato momento em que minha moto foi roubada.

O medo toma conta de mim enquanto as imagens se desenrolam diante de nossos olhos. felizmente, a visibilidade é limitada e apenas a roda dianteira da minha moto é visível antes de vermos o ladrão fugindo rapidamente.

Respiro aliviada, pois não seria bom ela ver que eu estava de olho nela o tempo todo, e sai da moto igual uma donzela com medo.

— Bom, só tem uma gangue que rouba aqui em Madri, e à noite vamos lá recuperar a sua moto, está bem? Por enquanto, eu deixo você usar a minha. Eu tenho duas. Já que você está passando uns dias aqui no meu país, vou te levar para nos divertirmos nos melhores lugares.

Sorrio para ela e continuamos conversando sobre várias coisas, como se estivéssemos nos conhecendo. Seguimos uma a outra nas redes sociais, claro, no meu perfil falso de Maitê Fortes. Ela pergunta por que não tenho nenhuma foto do meu namorado no meu perfil, e eu digo que apaguei porque todas as vezes que olhava, me dava vontade de chorar.

Porém, eu tenho uma foto dele na minha carteira, onde ele está com uma roupa civil, e ela quase babou em cima da foto, falando o quanto ele era bonito. Sorrio olhando para ele, seus olhos tão cheios de vida como sempre. Léo era a alegria da delegacia... A alegria da minha vida. E sei que mesmo que o tempo passe, eu nunca vou esquecê-lo.

A noite cai e ela me empresta uma de suas roupas para eu trocar, dizendo que vamos recuperar a minha moto e depois nos divertir. Fingindo estar intrigada com a situação, pergunto a ela como faremos para eles devolverem a minha moto.

— Relaxa, eu conheço todo tipo de gente ruim dessa cidade, e eles sabem que não devem mexer com a família Monserrat.

— E por quê? — Pergunto na esperança de que ela mesma me diga que é da máfia, mas ela é esperta e responde que são uma família importante, e se ela der queixa, eles sabem que vão parar na cadeia.

Ela me entrega a roupa e me empurra até o meu quarto, mandando eu me arrumar para irmos. Vou tentar deixá-la bem bêbada, quem sabe assim ela me conte tudo sobre a vida de Klaus.

Tomo banho e termino de me arrumar, mas quando saio do quarto, dou de cara com o Klaus. Só falta ele dormir aqui para atrapalhar a minha investigação. Seus olhos percorrem todo o meu corpo, e até vejo uma saliva escorrendo do canto dos seus lábios. A porta de Kiara se abre, e ela sai toda arrumada e sorridente.

— Para onde vocês vão?

— Na casa do gângster que roubou a moto da Maitê.

— Como assim? E vão assim vestidas? Esqueça, Kiara, volte e troque de roupa.

— Esqueça você. Além de eu ser maior de idade, depois que recuperarmos a moto da Maitê, vamos dar uma volta pela cidade. Vou mostrar a ela minhas boates, já que o seu cassino ela já conheceu.

— Vocês não vão sair assim.

— Vamos sim, e você não pode impedir. Agora, com licença, Klaus, você está no meu caminho.

Ela empurra ele para o canto da parede e passa. Eu passo bem devagar, olhando para ele com sarcasmo. Passo sem olhar para trás, mas algo me diz que ele não tirou os olhos de mim até eu sumir na escada.

— Bom, como vamos pegar a sua moto, vamos nós duas na minha, e lá você pega a sua, e saímos pela cidade, está bem? — Ela propõe, com um sorriso confiante no rosto.

Concordo com a cabeça, sentindo uma mistura de emoções enquanto me preparo para subir na garupa da moto. Ela liga o motor, e eu me acomodo atrás dela, segurando firmemente em sua cintura. Antes de partirmos, porém, sinto uma presença e volto meu olhar para a janela do andar de cima. Lá está Klaus, com os braços cruzados, nos encarando com uma expressão irritada.

Toco no ombro da Kiara, chamando sua atenção para a presença dele. Ela também olha para cima e, por um momento, nossos olhares se encontram. Há uma tensão palpável no ar, um jogo silencioso de desafio entre nós e o irmão dela. Sem perder tempo, Kiara acelera a moto, segurando o freio várias vezes para provocar ainda mais a irritação de Klaus.

Ele serra os olhos e manda ela parar, ela então sorrindo, solta o freio de mão, fazendo a moto da uma leve empinada. Seguro firme na sua cintura, e ela passa pós portões da mansão rindo da situação. Essa é louquinha.

— Você deixou seu irmão irritado. — Comento, pois sei que isso não vai prestar, a possibilidade de isso dá merdä é bem alta.

— Sim, ele ficou muito irritado. Tão irritado que está bem atrás de nós. — Kiara responde, e eu olho rapidamente para trás, avistando uma moto se aproximando em alta velocidade.

— Não vou deixar as duas irresponsáveis saírem assim sozinhas, eu vou junto. — Klaus diz, quando paralela sua moto ao lado da de Kiara.

Viro meu rosto para o lado, me perguntando o porque de sua atitude. Será que ele está com ciúmes de mim quanto de sua irmãzinha? A resposta está nas entrelinhas, e só há um jeito de descobrir se o mafioso já está caindo em minha sedução...

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