| Não sei o que fazer

...•Lua Stenfield Lacerda...

A sensação de estar falhando justamente com quem amamos é esmagadora, e isso está me abalando demais. Cada ofensiva, toda vez que ela se afasta, toda a vez que ela rejeita até mesmo um abraço, dói.

Sabe, é tudo tão mais simples quando um beijinho é capaz de sarar qualquer tipo de dor.

Leah sempre foi um doce de menina, inteligente, esperta, centrada, aprendeu a ler perfeitamente aos quatro anos, no escritório do Santini várias medalhas de várias modalidades de competições, uma estante cheia delas, por que ele amava mostrar o quanto se sentia orgulhoso dela.

E apesar de ser mais reservada, ela sempre me chamava para conversar quando algo estava chateando, ela nunca quis competir com a Chloe, só queria estar lá, vocês estão em diferentes fases, eu falava e tentava consolar quando ela pedia para que eu fosse buscar ela na casa da Liz por estar se sentindo de lado, mas agora eu me pergunto se eu fiz o certo, se ao dizer isso eu de alguma forma inválidei o que ela sentia.

Seguindo a tradição de família Stenfield, Chloe foi para o internato, e Leah passou a se sentir ainda mais só, com a volta da Beatrice as coisas melhoraram. Jade, Chris e Gael estavam sempre juntos, essa amizade fez bem para a Leah que finalmente se sentia parte de um grupo. A amizade entre ela e a Jade era tão forte como a minha amizade com a Bia.

Mal tivemos tempo de respirar aliviados ao saber que Chloe estava bem, e que nada de grave aconteceu, a nossa preocupação retornou quando Jade nos ligou no meio da noite, disse que Leah estava no apartamento deles e que estava ardendo em febre, convulsionando e não sabiam o que fazer, já que o céu parecia estar se desfazendo em chuva, a maioria das estradas estavam alagadas. Demoramos o dobro de tempo para chegar até o apartamento do Gael, eu me desesperei ao ver Leah, completamente molhada de suor, tremendo em cima da cama, pedi para Jade encher uma banheira com a água fria para que a temperatura corporal dela diminuísse. Quando finalmente ela acordou não parecia feliz em nos ver ali, naquele momento pensei ser a mesma preocupação que a Chloe teve ao não nos ligar depois do que aconteceu, com o receio de acontecer algo durante a viagem, mas depois daquele dia começou a nos afastar. Nossa convivência se resumia a discussões, e estavamos cada vez mais preocupados com a Leah,por que não estamos conseguindo lidar com esse novo comportamento. Demorou dias até descobrir que ela havia deixado a República, os meus pais a presentearam com um apartamento, esse não era o problema, nós teríamos dado o apartamento para ela, só que ela estava nos evitando a todo custo, todas as vezes que ligava ela estava na faculdade, atividades extracurriculares, cursos de outras áreas, eram mais de dezesseis horas diárias naquele lugar. Começamos a notar as olheiras, a ansiedade, a correria e todas as vezes que tentava questionar ela de afastava ainda mais.

Leah bateu o carro, em um hidrante no campus da Universidade. Estava em reunião quando p reitor me ligou dizendo que ela se recusava a ir ao hospital e que estava atrasada para a aula. Encontramos mais de quarenta latas de energético no carro dela.

Estava fora de controle. Cada vez que o meu telefone tocava eu ficava tensa.

Nessa manhã estava conversando com ela quando Leah simplesmente apagou no balcão. Tentamos sugerir várias coisas para tirar esse hiper foco na faculdade, pedimos para ela desacelerar, sugerimos que ela fizesse terapia, ou escolhesse um lugar que gostaria de viajar. Nós estamos desesperados e dispostos a fazer qualquer coisa para ver ela bem.

Convidei ela para o café, pensando que talvez a Liz conseguisse conversar com ela, Leah mantém a cabeça baixa em todo o tempo, posso ouvir a respiração pesada dela de onde estou, quando ela levanta jogando o guardanapo na mesa.

— Leah! Onde vai?

— Eu disse que não queria vir, eu disse que não queria estar aqui.

Ela gritou.

— Leah.

Santini intervém.

— Eu vou embora pai.

— Não, você não vai.

Mas isso a deixa ainda mais irritada, seguro o braço dela, mas ela o puxa, fazendo que minhas unhas a arranjem. Seus olhos cheios de lágrimas me fazem perder o chão, eu não queria.

— Leah, eu não quis...

Ela me dá as costas e deixa a casa da Liz, deixando um peso em meu peito, uma sensação de fracasso por não conseguir acessar onde está doendo e tentar ajudar.

Santini levantou e tentou ir atrás dela, enquanto Liz me abraça, estava me sentindo tão impotente.

— Não sei o que fazer Liz.

Desabafo enquanto ela me abraça.

— Ela não fala comigo, ela não me deixa chegar perto. Liz, eu não sei o que fazer. Eu deveria saber o que fazer, não deveria?

— Vamos conversar um pouco lá na cozinha, está tremendo. Vou fazer um chá para você.

Liz me levou até a cozinha, sem conseguir mais segurar eu comecei a chorar.

— Cada vez que eu vejo ela sair assim, meu coração fica apertado, Liz.

— Acha que pode ser alguma coisa na faculdade?

— Mas... Se fosse ela não iria querer ir até lá, não é mesmo? Liz a Leah tem passado mais de dezesseis horas na faculdade. Hoje ela apagou no balcão da cozinha, de exaustão.

— O que você quer, Lua?

— Eu quero que ela fale comigo Liz. Quero entender o que ela está sentindo, quero entender por que ela está se afastando.

— Ah nem sempre é pela força, Lua. Se ela não está falando é por que não está confortável, e isso não é no seu tempo. É no dela, e Lua... mais importante do que ela falar, é ela se sentir confiante para ser ouvida... Sabe, foi exatamente aqui nesse lugar que eu senti isso, Henrry não precisou falar muita coisa, ele só estava lá, estava lá para me ouvir, no meu tempo e do meu jeito. E isso fez a diferença.

— É a segunda vez que me dizem isso hoje.

— Então vale a pena tentar.

E eu tentei, tentei não fazer ela achar que eu estava batendo de frente com ela, e evitar que ela se sentisse pressionada por nós. Mesmo que ela ainda estivesse distante, ela estava menos agressiva. Ver ela abraçando o Santini fez surgir uma ponta de esperança no meu coração de que talvez a partir dali as coisas começassem a se encaixar.

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