...• Leah Stenfield Lacerda...
Jade me empresta uma das suas roupas, e eu sigo até o quarto.
— Leah, você tem certeza que não quer ligar para sua mãe?
— Tenho.
Jade deixa o quarto e eu sigo para o banheiro, demoro no banho, me sentindo suja de um jeito que essa água não pode limpar. Não consigo organizar meus pensamentos, saber o que aconteceu, mas não se lembrar de nada é absolutamente desesperador.
Quando consegui sair do chuveiro, fiquei parada encarava a cama, estática e sem reação, fechei os olhos, e cada vez que eu pensava naquele maldito laudo o ar me faltava. Jade bate à porta me tirando daquele transe, recuso o jantar e me deito. E assim que fecho os olhos o show de horror começa, flashs daquela noite, a mão em torno da minha cintura, eu respondia cada pergunta feita, mesmo que não quisesse falar nada.
Começo tremer, tento gritar para parar, mas não sou atendida, nem mesmo sei se está me ouvindo, o meu corpo todo treme, não consigo despertar, estou presa no pior momento da minha vida.
A sensação é a mesma de ter uma paralisia do sono, angustiante e sufocante, de perder o controle de si mesmo.
Desperto quando tenho a sensação de estar submergindo em águas gélidas. Me assusto ao ver meus pais cada um de um lado, meu corpo tremia dentro da água gelada. Jade estava na porta com uma expressão de preocupação.
Olhei para a Jade, me sentindo traída naquele momento.
— Ligou para eles?
— Leah, não sabíamos o que fazer. Você estava ardendo em febre, gritando sem parar. Tentamos acordar você.
— Não deveria ter feito isso.
— Leah meu amor, o que esperava? É claro que ela deveria ter ligado. Você está ardendo em febre, Jade disse que tentou acordar você.
Minha mãe diz, segurando a minha mão. Jade deixa o banheiro. E eu começo a chorar, como posso contar algo assim? Por que esse sentimento de culpa está me corroendo mesmo sabendo que eu sou a vítima? Essa vergonha de ser exposta, de dizer em voz alta o que me atormenta.
— Leah? O que aconteceu?
— Pai...
— Você ficou preocupada com o que aconteceu com a Chloe?Jade disse a hora que você chegou aqui, foi depois que nos falamos.
Meu pai fala, eu o encaro tão decepcionada. Por que tudo precisa envolver ela? Por que tudo precisa ter algo a ver com a Chloe?
— Isso não é sobre ela!
Grito, de um jeito que nunca gritei na vida.
— Essa droga de mundo não gira em torno da Chloe. Isso não é sobre ela!
— Leah? Então fala para gente, o que aconteceu?
— Eu também precisei de vocês!
Vocifero aquelas palavras com mágoa e ódio.
— Nós estamos aqui Leah.
— Isso não importa mais. Vocês podem sair?
— Leah...
— Eu só quero tomar um banho.
Quando deixei o banho, Jade entrou no quarto, trazendo as minhas roupas já limpas e secas.
— Leah...
— Eu pedi para vocês não ligarem. Eu não queria...
— Estavamos aflitos, sem saber o que fazer Leah.
— Tanto faz.
Me arrumei e segui para casa com os meus pais, e no momento em que entramos em casa, uma nova discussão começou. Dessa vez muito pior, estava claro que se continuasse com aquela discussão eu não seria a única a sair machucada.
Voltei para a República, mesmo que esse fosse o último lugar onde quisesse estar.
— Leah?
— Não posso falar com você agora Milla.
Entrei no meu quarto e tranquei a porta. Os lençóis permaneciam na cama como uma prova incontestável do que aconteceu, as roupas jogadas ao lado da cama , e em um acesso de raiva joguei tudo no chão, sofri em silêncio. Na bolsa o telefone tocava sem parar.
Chloe me ligando? Quase dei risada, já que a única coisa que nos unia era o sangue.
Não atendi, nem ela e nem os meus pais. E quando a noite chegou eu não consegui dormir, acuada e encolhida em um canto do quarto tentava ser a terceira pessoa da minha própria história e me forçar a lembrar de algo, mas tudo continuava um borrão. E cada dia que precisava entrar naquele quarto era uma tortura angustiante. E isso só piorou.
Eu não conseguia mais entrar na República, recorri aos meus avós e eles me presentearam com um apartamento próximo à faculdade, não queria pedir para os meus pais, eu os evitava a todo o custo. Não atendia as ligações e mal os respondia, já que tudo sempre acabava em discussão.
Estava sobrevivendo a base de café e energético, passava todo o tempo que podia na faculdade, me inscrevi em várias atividades extracurriculares, tentando ocupar a mente para não pensar no pior dia da minha vida, e só conseguia dormir quando estava praticamente dopada. E os dias foram passando exatamente dessa forma.
Mas toda essa carga também estava me deixando ansiosa, e outros sintomas começaram a aparecer, e quando recorria à ajuda médica eu ouvia a mesma coisa, que eu precisava começar a fazer terapia, sempre procurava a mesma doutora que me atendeu naquela noite, assim não precisava falar de novo o motivo de ter vindo parar na emergência outra vez.
Manchas avermelhadas começaram a surgir por todo o meu corpo, além de uma gastrite nervosa que me fazia chorar de dor, as dores de cabeça começaram a ser constantes e eu me sentia sufocada, quando a noite chegava e eu precisava dormir os meus batimentos aceleravam, toda noite a mesma coisa, o mesmo pesadelo.
Estava chegando no prédio quando o porteiro me chamou.
— Boa tarde srta. Chegaram algumas correspondências.
— Ah, obrigada.
Ele segue até o balcão e me entrega algumas correspondências. Guardo na bolsa, e enquanto esperava o elevador, ouço a Jade me chamar.
— Leah! Meu Deus, por que não responde as minhas mensagens?
— Estive muito ocupada na faculdade.
— Esta livre agora?
— Jade...
— Leah, por favor!
Respirei fundo e decidi aceitar, Jade seguiu para uma loja de vestidos de festa, já que o aniversário dela seria em algumas semanas, dias? Eu não sei, me sinto deslocada dessa realidade.
— Você vai escolher o seu não vai?
Mesmo que não estivesse com cabeça para isso eu segui na onda dela, e de alguma forma aquele momento mesmo que por um pouco tirou o foco de toda a tensão que estava sobre mim, fazia dias que não sorria, e quando terminamos nós seguimos até um restaurante.
— Leah, sobre aquela noite...
— Jade, não quero falar sobre isso. Eu entendi o que fez, ficou preocupada, tudo bem.
— Só não afaste a gente, Ok? Leah, eu que não está tudo bem. Mas quando quiser falar, eu vou estar aqui.
Assenti que sim, nós jantamos e depois ela me deixou no meu apartamento. Coloquei as sacolas em cima da mesa e segui para um banho, depoos me lembrei das correspondências na bolsa.
Entre elas uma que não tinha remetente, não tinha selo. Abri, me deparando com uma carta impressa, que fez com o que o chão abaixo dos meus pés fugisse.
...Leah! gostou da nossa noite? Eu estou sempre de olho em você, você foi uma adorável e saborosa surpresa....
Era tudo o que estava escrito. Eu iria enlouquecer, era isso que essa pessoa queria? Já não bastasse ter feito o que fez? Peguei o telefone e liguei para Jade.
— Jade? Jade? Por favor, por favor você pode vir? Jade por favor!
Implorei desesperada. Ela pediu que eu ficar de calma, e que já estava a caminho, não desligou o telefone até estar na minha porta, tentando me acalmar, por que eu me sentia a ponto de fazer uma loucura.
Quando ela chegou, eu só a abracei, a carta ainda nas minhas mãos trêmulas, foi lida por Jade, que perguntou novamente o que era aquilo e o que estava acontecendo, eu só conseguia pensar que era pesado, doloroso e sufocante guardar aquilo só para mim, em lágrimas contei para Jade o que aconteceu, mesmo sentindo vergonha, nojo e culpa.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
💕Sonhadora💕
coitada🥺🥺🥺
2024-05-09
0
Solange Araujo
Nossa quanto sofrimento, ainda bem que ela tem amigos 👦 pois realmente só tem a Cloe pra eles credo que raiva..
2024-04-27
4
Iracilda Santana
eles deveriam dar mais atenção pras filhas
2024-04-23
0