| Não conta?

...Noah Bernardi Toffel...

Ela me encara, com a mão estendida na minha direção. Ela tem noção do que esta pedindo?

Não somos mais crianças, e as coisas definitivamente não eram como costumavam a ser. Eu não me arrependo nem por um segundo daquele beijo, mesmo que tenha custado a amizade com o meu irmão, a ligação que tínhamos foi quebrada, ouvir que ele se sentiu traído por nós foi bem pesado, eu magoei uma das pessoas mais importantes para mim, e intencionalmente eu jamais faria isso. No entanto, Chloe provavelmente se arrependeu, já que todas as minhas tentativas de aproximação foram frustradas, e quando tentei beijar ela novamente, Chloe recuou. Eu a amava, e eu sabia que o Tom compartilhava do mesmo sentimento que eu. Mas a quem queríamos enganar? Tudo poderia estar diferente agora, mas não isso. Estávamos apenas seguindo e ignorando o que sentíamos e nos evitando. E estávamos fazendo isso muito bem até esse momento.

— Por favor!

Ela pede novamente, fazendo seu pedido se tornar quase uma ordem a ser seguida, deito ao lado dela, não dizemos uma única palavra, nitidamente estávamos tensos e cada um imerso em seus próprios pensamentos eu demorei a pegar no sono, já pensando que não seria capaz de deixar ela voltar para aquele apartamento. Não precisa ser a pessoa mais inteligente do mundo para deduzir que quando associarem o sobrenome a pessoa eles podem querer fazer algo muito pior.

Acordei atordoado, a minha mão estava em volta dela, Chloe estava colada ao meu corpo, respirei fundo sentindo o frescor da pele dela e aquilo era como uma espécie de feromônio que só deixava a minha situação mais complicada, até mesmo esqueci telefone tocando sem parar, ela estava tão serena, antes de deixar o quarto eu coloco uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, talvez a alguns anos atrás poderia a cena a minha frente seria demasiadamente incômoda, Chloe estava com a perna em cima do Tom, e a mão em seu peito, mas hoje estranhamente me causa uma sensação de normalidade.

Segui em direção a sala, Santini do outro lado da linha procurava desesperadamente notícias sobre a Chloe, logicamente eles não conseguiram falar com ela, já que seu telefone havia sido furtado.

Ele já estava a caminho, e chegaria em duas horas. Voltei para o quarto, temperei a garganta ao ver a coxa dela tão exposta, Chloe Stenfield é um pecado quando se trata de sensualidade e beleza.

— Chloe?

Ela abre os olhos devagar, Tom desperta quando ela tira a perna de cima dele, e eu posso ver que a situação para ele estava tão dura quanto para mim.

— Seus pais estão vindo para cá. Parece que saiu nos noticiários os roubos de ontem, quando ele viu que o seu prédio estava entre um deles, começou a ligar e como você não atendeu...

— Ele deve estar surtando.

— Chegam em duas horas, já que a maioria das estradas estão bloqueadas.

— Droga!

Ela levanta quase em um pulo, passando por cima do Tom e quase caindo em cima dela e se tranca no banheiro.

— Porra!

Tom pragueja enquanto tampa a ereção com um dos travesseiros. Ele segue para o quarto dele, e eu para a cozinha. Preparo o café, e coloco tudo que encontro na dispensa em cima da mesa.

— Ela não vai voltar para aquele apartamento.

Tom diz assim que entra na cozinha.

— Que droga Noah, e se ela não tivesse conseguido sair? Não vou deixar ela voltar para lá, muito menos deixar ela morar com essas colegas da faculdade, não são boas companhias para ela.

Tom diz, certamente por que já conhece intimamente cada uma delas, ele sempre está nas festas que rolam entre as fraternidades.

— Deveríamos falar com o William, ele é investigador, e tem os seus contatos fora da polícia. Certamente vai chegar aqueles desgraçados muito mais rápido.

— Bem lembrando, vou pegar o número dele com o Benjamin. De qualquer forma, ela não volta para lá.

— Nisso nós concordamos.

— Com o que vocês concordam?

Chloe também surge na cozinha já tomando um lugar à mesa.

— Bom dia Chloe.

— Bom dia Tom, Bom dia Noah, vocês tem algum remédio aqui? Eu estou um pouco febril, não quero ficar resfriada.

— Não temos, prefere algum? Eu vou na farmácia.

— Eu posso pedir pelo meu celular... Ah Droga! Esqueci que foi levado.

— Eu preciso resolver algumas coisas Chloe, na volta eu passo na farmácia.

— Tudo bem.

O silêncio volta a imperar, e depois do café eu sigo para a farmácia, e passo no mercado para comprar algumas coisas, chego praticamente junto com os pais da Chloe. Santini e Lua entram no apartamento, e só se tranquilizam ao ver que Chloe está bem. Ela começa a contar como tudo aconteceu, e mesmo que estivesse abalada tentou demonstrar força, tentando deixar os pais menos preocupados do que já estava.

— As aulas de defesa pessoal foram muito úteis ontem.

Ela brinca, tentando amenizar o clima pesado.

— Você deveria ter ligado Chloe.

— Pai... eu não liguei por que sabia que sairiam imediatamente de casa, demoraram o dobro do tempo lara chegar aqui, acha que eu não ficaria ainda mais preocupada sabendo que estavam vindo de madrugada, no meio daquela tempestade?

— Não vai mais ficar nesse lugar Chloe. Vamos ver um apartamento para você, já temos até algumas recomendações.

Santini diz.

— Penso que deveríamos contratar um segurança, não quero nem pensar na possibilidade desses homens voltarem a procurar você Chloe. Principalmente se eles se sentirem ameaçados,ou que podem tirar alguma vantagem.

Lua completa.

— Ela pode ficar aqui, estaria segura. Morar mais longe significa que ela vai precisar se deslocar de um ponto para o outro. É bem mais seguro e mais fácil.

A sugestão do Tom faz o senhor chatinho revirar os olhos. Chloe o encara perplexa.

— Morar aqui? Com vocês?

— Seria mais fácil.

— Fácil assim?

— Fácil assim, Santini. Somos amigos, estudamos juntos, todos os dias vamos para o mesmo lugar.

Mas a ideia não agrada ao Santini, que começa a criar argumentos contra a proposta do Tom. E entre toda aquela discussão finalmente Chloe se levanta irritada.

— O que eu quero não conta? Vocês estão aí discutindo e decidindo tudo como se pensassem que não tenho condições de tomar as minhas próprias decisões. Sem me perguntar o que eu acho que pode ser melhor para mim.

— Chloe...

— Pai, eu não vou deixar o complexo. Isso está fora de cogitação, estudo e faço estágio aqui.

— Não vai ficar sozinha naquele apartamento.

— Eu também não quero ficar lá.

— O que você quer então, Chloe?

Santini pergunta, já com receio da resposta.

— Olha, só mais um semestre e estamos formados. A ideia do Tom não é ruim, eu posso ficar aqui, vou me sentir segura, mais segura do que com qualquer outra colega da faculdade.

— Tem certeza que é isso que quer?

Ele pergunta com um nó na garganta.

— Eu tenho pai.

Ele aceita, contrariado mais aceita,depois de muita discussão, até que ele aponta para nós, do outro lado da sala.

— Não vão deixar nada acontecer com ela. Entenderam?

— Sim senhor.

Nada que ela não queira, eu penso. Talvez seja exatamente essa a oportunidade para resolver as pendências do passado, de um coisa eu sei, o que sinto por Chloe Stenfield não mudou.

Santini decidiu que iria na na delegacia onde o boletim foi feito, para pressiona-los a encontrar aqueles desgraçados. Também iriam aproveitar a estadia para visitar uma das filiais, mas nos ligaram no meio da noite avisando que precisavam retornar para Nova York, por que Jade ligou para eles alertando que havia algo errado com a Leah.

Antes de ir embora, eles passaram novamente no apartamento para se despedir da Chloe.

E como a minha mãe costuma dizer, sempre há num ponto crucial, que pode mudar toda uma história, e eu acho que o nosso está exatamente aqui e agora.

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