| Alguém à parte

...• Leah Stenfield Lacerda...

— Pelo amor de Deus, Leah! O que está acontecendo?

Meu pai pergunta, subindo as escadas atrás de mim, estava tão cansada que apaguei no balcão da cozinha, acabei derrubando café em mim. Mas quanto mais ele pergunta, mais eu me retraio. Eles vão sofrer se souberem, já estão sofrendo agora, imagina se descobrirem o por que estou assim? Eles vão sofrer, eu consigo ver, eu me sinto pior a cada discussão.

— Eu já disse que nada, Pai!

— Nada? Leah, meu amor, você tem passado mais de dezesseis horas na faculdade, encontramos quarenta latas de energético dentro do seu carro no dia que você bateu. Leah? Você acabou de apagar na mesa de tanto cansaço, por favor filha...

— Mãe...

— Leah, porque não tranca a faculdade? Nós podemos ir viajar, só nós três pelo tempo que precisar. Essa pressão não está fazendo bem para você. Podemos ir para o Turquia, você sempre quis ir, lembra?

O eu pai sugere, eu queria correr para o abraço dele, mas não consigo. Não consigo.

Do que adianta Leah? Nada, nada vai ser capaz de me fazer esquecer.

— Eu não vou fazer isso, eu não posso.

— Você pode Leah, nós conhecemos o reitor, podemos explicar.

— Eu já disse que não!

Gritei.

— Você não é assim Leah.

— E como eu sou, mãe?!

Dou risada.

— Leah?

A porta do quarto da Chloe abre, ótimo, terei férias dos interrogatórios intermináveis. Entro no meu quarto, e deito na cama em posição fetal, Chloe me chama algumas vezes, bate na porta. Mas meu instinto é sempre rejeitar qualquer aproximação.

Apareço nas escadas apenas para falar que não iria ao tal café da manhã na casa da tia Liz, mas meu pai insiste tanto que eu vou.

Sabe, quando olho para tia Liz me pergunto como ela conseguiu? Como ela conseguiu seguir em frente depois do que aconteceu? Eu não consigo nesse momento ver possibilidade de seguir em frente.

Na mesa a conversa é agitada, não presto atenção em nada, apenas na forma como Noah e Tom olham para a Chloe.

O trio inseparável.

Eles deixam a mesa quando o assunto é levado para o âmbito profissional. Tom convida Noah e Chloe para a área da piscina.

Essa cena já aconteceu tantas e tantas vezes que eu já me acostumei, do que adiantaria ir atrás deles? Sendo que sempre sou ignorada, e pareço estar sempre sobrando. Chloe é minha irmã, mas nunca foi próxima, nunca esteve ao meu lado.

E não, nunca teve espaço para mim, nunca perceberam o quanto isso me feriu. Todas as vezes que precisei ficar mais tempo no balé, na aula de natação e na escola, por que mamãe sempre precisava resolver algo referente a Chloe. Eu sempre estive à parte.

Entendi muito cedo isso, quando era deixada de lado nas festas do pijama, nas tardes na piscina, ou até mesmo nos passeios feitos entre famílias. Eu não me sentia bem vinda, sempre inventava resfriados, dores de cabeça ou indisposição quando tia Liz insistia que eu deveria estar junto com eles mas, aquele triângulo nunca seria um quadrado.

Cresci ouvindo que eu era a filha fácil de lidar, Chloe era temperamental, eu era pacífica. A diferença gritante entre nós, fez com que eu me sentisse excluída e invisível.

Me levantei largando o guardanapo com raiva e pedindo licença segui em direção a porta, caminhando irritada.

— Leah! Onde vai?

Mamãe se levanta vindo atrás de mim.

— Eu disse que não queria vir, eu disse que não queria estar aqui.

Gritei. Não, não era o meu estilo, nunca levantei a voz para os meus pais, e isso vinha acontecendo com frequência. Poderiam esperar esse comportamento da Chloe, não de mim, mas eu estou prestes a implodir.

— Leah.

O olhar sério do meu pai encontra o meu, já havíamos discutido hoje, eu não sabia como lidar com tudo o que estava acontecendo, e isso estava piorando tudo.

— Eu vou embora pai.

— Não, você não vai.

Ele diz firme, o que me irrita ainda mais. Viro as costas, puxando o meu braço, até mesmo sinto as unhas da minha mãe me arranhar.

— Leah, eu não quis...

Meus olhos estavam cheio de lágrimas. Mas não foi por causa disso, foi por sempre esperarem que eu abaixe a cabeça e seja a filha que não dá trabalho, já que esse lugar pertence a Chloe. abro a porta e saio sem olhar para trás, consigo ouvir as risadas vindo da área da piscina.

— Leah?!

Chloe me chama, nem mesmo me dou o trabalho de virar e olhar na direção que estavam. Sigo até o portão, o carro que eu chamei já estava a minha espera, já que depois do que acidente meus pais pediram para não dirigir, peço que ele vá até o Central Park. Sabe, eu sei que preciso de ajuda, estou lutando sozinha mas sinto que posso fraquejar a qualquer momento, eu me sobrecarrego para tentar não pensar, mas é impossível. Ainda dói, e parece não há nada capaz de aplacar essa dor.

Era com o se eu fosse uma menininha novamente, e o sentimento era de estar desamparada era angustiante.

Vocês só estão em diferentes fases. Mamãe dizia, sempre tentando me consolar. Eu queria estar perto, queria fazer parte daquilo que eles tinham.

Depois que Chloe foi para o internato passei a me sentir ainda mais só. Quando Benjamin e Beatrice voltaram a morar aqui, as coisas começaram a ser diferentes. Jade e eu tínhamos a mesma faixa de idade, estávamos na mesma "fase" como minha mãe dizia.

E nos tornamos tão amigas quanto a minha mãe e Beatrice são, ela me ouvia e validava o que eu sentia.

Jade costumava dizer que a primeira paixão ninguém esquece. Talvez tenhamos isso em comum, amores impossíveis, ela gostava do Will, e eu gostava do Noah. Mas nunca achei que seria boa o bastante para ele. Principalmente por ver a forma que ele olhava para a Chloe, na verdade que ele olha, eu vi hoje durante o café, talvez isso tenha me afetado ainda mais.

Minha auto estima não costumava ser das melhores. E depois do que aconteceu? Eu nem mesmo sei se conseguiria me deixar ser tocada, e se um dia soubessem o que aconteceu? Certamente diriam que talvez eu procurei por aquilo. Eu sei, eu já vi essa história antes.

Me assusto ao ouvir um click. Encaro o fotógrafo por trás da câmera, que sorri para mim.

— Não quis te assustar, só estava tirando algumas fotos das belezas desse lugar.

— Certamente não estou inclusa no pacote.

Sorri. Elijah senta ao meu lado, e mostra a foto que havia tirado de mim, assim como o pai ele tinha um talento único, embora isso fosse apenas um hobby, por que ele optou por cursar medicina.

— Eu discordo. É a foto mais linda que consegui tirar até agora.

— Esta tentando fazer com que me sinta bem?

Falo, já que ele capturou o exato momento em que uma lágrima rolou pelo meu rosto.

— Não exatamente, mas funcionou?

— Um pouco.

Dou risada.

— Quer tomar um café Leah?

— Pode ficar para uma próxima? Não serei uma boa companhia.

Elijah insiste, e eu decido aceitar, nos seguimos até um bistrô, eu posso não ter sido a melhor das companhias, mas Elijah me fez sorrir como a dias não sorria,

— Obrigada por fazer o meu dia melhor.

Agradeci, ele insistiu para me deixar em casa, e ainda mandou a foto que tirou de mim.

A festa da Jade me ajudou a manter a mente ocupada nessa semana, mas em casa as coisas continuam um caos, tudo sempre termina em discussão, e eu sei que a culpa é minha mas eu não consigo desligar esse sentimento de auto defesa, sabe? Em todos esses dias que Chloe está aqui ela tentou se aproximar, eu via a frustração nos olhos dela cada vez que levava uma negativa minha. Mas eu não conseguia evitar esse bloqueio.

— Leah? Posso entrar?

Ela abre a porta, e entra devagar.

— Posso me arrumar com você?

Ela pergunta.

— Por que isso agora Chloe? Por que está tentando se aproximar?

Talvez eu esteja me vingando? Eu não sei, eu não sei se era essa a motivação, mas todo rejeitado uma hora começa a rejeitar não é mesmo? Talvez seja só auto defesa.

— Somos irmãs.

— Grande coisa.

Quando isso importou para ela? Sabe se perguntar qualquer coisa sobre os gêmeos, Chloe certamente vai saber responder, mas sobre mim? Eu duvido muito que ela saiba o mínimo sobre mim.

— Grande coisa?

— Quando o fato de ser minha irmã importou para você Chloe?

— Sempre...

— Se você diz... E respondendo a sua pergunta. Não, não podemos nos arrumar juntas. Quando sair feche a porta, por favor.

Ela deixa o quarto e eu volto a fazer o que estava fazendo, mesmo que estivesse apreensiva, já que a todo tempo pensava que foi justamente em uma festa que tudo aconteceu.

Depois de pronta eu desci as escadas, preparei o um lanche, não iria comer nada na festa, não iria beber nada. Eu estava em um estado de paranoia tão grande que não comia quando estava na faculdade, não bebia nem mesmo a água que eu levava de casa.

— Esta linda meu amor.

Meu pai fala.

— Obrigada.

— Sabe que eu te amo, não é filha?

— Eu sei, eu também amo você pai.

Abracei ele com força, não fazia isso desde que tudo aconteceu, eu sempre o evitava, por que a culpa me dizia que eu seria uma decepção para ele.

— E eu sempre vou estar aqui para você Leah, sempre.

Abracei ele ainda mais forte, com um choro entalado na garganta, mas por mais que eu quisesse gritar eu não conseguia falar nada, minha voz sumia, minhas cordas vocais não me obedeciam. E quando ouvi passos vindo em direção a cozinha eu me afastei.

— Santini, nós...

— Eu já estou pronta mãe.

— Esta linda minha Lua. Vamos?

— Chloe disse que vai com os meninos, então já podemos ir.

Minha mãe disse.

A festa estava agitada, passos os olhos pelo salão, procurando o Gael e a Jade, eu ficaria do lado deles todo o tempo, por que eu não vou negar. Estar em uma festa novamente desperta gatilhos terríveis em mim.

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