...• Leah Stenfield Lacerda...
** O conteúdo desse capítulo pode ser considerado sensível para alguns públicos, não recomendo a leitura caso faça parte desse grupo.
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— Tem alguém para quem você queira telefonar?
Apertei o laudo entre as minhas mãos, confusa e com uma dor que ninguém deveria conhecer, enquanto a médica me entregava algumas medicações e assinava a minha alta hospitalar.
Na mesa ao lado o meu telefone começou tocar, no visor o número de casa, o número que eu queria ligar, eu queria consolo, abraço, queria ouvir que tudo ficaria bem, por que nesse momento tudo estava desmoronando.
— Pai?
A minha voz estava trêmula, mas ele certamente não notou. Eu nem mesmo sei o que estava ouvindo, eu estava fora da realidade.
— Pai... pai...
A minha voz parecia ter sumido, e ele parecia estar nervoso e agitado mas não era por mim, era pela Chloe, eles precisavam ir até o campus da Universidade. Eu mal consegui compreender o motivo.
— Pai?
Tentei chamar a atenção dele outra vez, minha garganta estava seca, sentia como se estivesse sendo estrangulada. Eu queria gritar que naquele momento eu também precisava deles, mas não consegui dizer nada.
— Nós voltamos amanhã Leah.
Quando a ligação é encerrada eu sento na cama, a tristeza e solidão eram sufocantes. Sozinha aquele hospital me sentia desamparada, exatamente como quando era criança sentada nos bancos enquanto precisava esperar pelos meus pais que estavam sempre resolvendo coisas referentes ao trio inseparável.
— Leah?
A doutora me chamou novamente, certamente esperando a resposta para sua pergunta enquanto tinha um olhar de solidariedade.
— Não. Não é necessário.
Ela disse que poderia ficar no quarto o tempo que precisasse, mas tudo o que eu queria que a terra abrisse um buraco e me engolisse, queria sumir, me esconder, esquecer que esse dia existiu. Deixei aquele hospital caminhando sem destino, esqueci até mesmo que o meu carro estava no estacionamento. E sentada em uma praça qualquer tentava me lembrar de qualquer coisa que fosse.
Era minha primeira semana na faculdade, ainda estava me ajustando, me adaptando. Milla, a minha vizinha de porta se sentou ao meu lado tentando me convencer participar do trote que iria acontecer a noite.
— Não seja careta Leah! Todo mundo vai estar lá.
Ela disse animada, tanto insistiu que eu concordei, mesmo que a minha vontade fosse me enrolar em uma coberta e assistir minhas séries favoritas por que o tempo estava frio e chuvoso. E como eu preferia ter dito não, como me arrependo de ter ido aquele lugar.
— Eu não vou ficar muito tempo aqui, Milla.
Disse assim que cheguei. A música alta e pessoas dançando freneticamente estava longe de combinar com a minha personalidade.
— Não está a altura de Leah Stenfield?
Ela brincou.
E voltou trazendo duas bebidas que eu rejeitei, ela virou as duas antes de sair do meu lado e ir para a pista de dança, agarrada a um dos veteranos. De repente uma briga se iniciou ao meu lado, fui jogada no chão, minha mão foi pisoteada, alguém me puxou para longe, nem mesmo vi quem era, estava decidida a ir embora, mas não encontrava Milla em lugar algum. Pedi um refrigerante no bar, enquanto olhava para a aglomeração na pista de dança, comecei a me sentir estranha, como se não tivesse controle de mim mesma, senti braços em torno da minha cintura, tentei olhar para cima mas não consegui, só ia seguindo os comandos que a pessoa ao meu lado dizia sem ter noção ou consciência de nada. E isso é tudo, tudo o que lembro antes do apagão.
Cada vez que fecho os olhos sinto um peso esmagando o meu corpo a ponto de fazer o ar faltar, os urros frenéticos me assustavam, a única coisa que lembrava era o quanto aquilo estava doendo, quando eu acordei me desesperei ao me ver completamente nua na minha cama sem saber como cheguei ali e por que estava assim, a mancha de sangue em baixo de mim me deixou em desespero. Eu não conseguia reagir, Milla bateu na minha porta e me chamou diversas vezes, cada vez que eu tentava ligar para os meus pais as minhas mãos suavam e pesavam a ponto de não conseguir fazer algo tão simples como deslizar o dedo pela tela e completar a chamada, um dia todo presa naquela cama sem conseguir me mover, encarando os lençóis vermelhos.
Os relâmpagos e trovões faziam o meu corpo tremer, já era noite quando me levantei e coloquei a primeira roupa que vi, bombardeada pelos pensamentos de culpa, estava lutando com a vergonha, segui para a emergência do hospital enquanto o céu estava literalmente desabando, foi exatamente como me senti ao dizer em voz alta o motivo de estar ali, exposta e sozinha enquanto faziam inúmeros exames e perguntas.
E quando perguntaram se eu queria fazer o boletim eu comecei a tremer sem parar, desmaiei, apaguei, era stress demais para suportar. Quando acordei já estava no quarto.
O laudo nas mãos da médica confirmavam aquilo que eu desejava que fosse apenas um pesadelo, tiraram de mim a minha escolha, me sinto destruída.
Eu também precisava deles.
E mais uma vez eles não estavam aqui, andei até que meus pés começaram a doer, não queria voltar para aquele lugar nunca mais, como poderia? Também não queria ir para casa, como poderia seguir depois disso? Eu me sentia dilacerada.
Estendo a mão em direção ao táxi, passo o endereço da casa do apartamento do Gael. Meu celular começa a tocar na bolsa, era a minha mãe.
— Oi Leah!
— Conseguiram?
Perguntei amargurada.
— Chloe está bem, ela conseguiu escapar dos assaltantes.
Eu também queria ter escapado, um nó se forma novamente na minha garganta. Quando penso em falar, minha mãe muda de assunto e fala que vão precisar ficar mais um dia ou dois, aproveitar a estadia para vistoriar as filiais.
Eu não consegui falar nada.
E isso só me faz ter mais raiva de mim mesma. Mas esse sentimento de me sentir invalidada sempre me acompanhou, os holofotes estavam sempre na Chloe, eu estava sempre na sombra.
Bato na porta algumas vezes.
— Leah?
— Eu posso ficar aqui Gael?
Ao passar pela porta encaro o meu reflexo no espelho, estava terrível, encharcada e com os olhos vermelhos e inchados.
— Você está bem? O que aconteceu?
Ele pergunta e tudo o que faço é desabar em um choro angustiante.
— Gael o que está acontecendo?
Quando vejo a Jade saindo do quarto eu penso que talvez seja um erro estar aqui, me viro em direção a saida, mas Gael segura o meu braço.
— Por Deus, Leah? O que está acontecendo?
Mas tudo o que eu consigo é chorar ainda mais, Jade manda que ele vá até a cozinha buscar água, enquanto ela me ampara.
Quando Gael faz menção de perguntar algo novamente, Jade gesticula com a mão para que ele fique quieto, enquanto me leva até o sofá. Eu estava tão cansada, tão exausta que apago nos braços dela, agarrada a minha bolsa.
Quando acordei já era noite, Jade e Gael estavam sentados no sofá a minha frente, me olhando com uma expressão preocupada.
— Eu vou embora.
Disse me me levantando, a chuva estava pesada, eu ia embora mais não sabia para onde. Me sentia sem rumo.
— Leah, sabe que você pode contar com a gente não sabe? Olha, se você não quiser falar nada, pelo menos agora, você não precisa. Mas não vai embora, você pode ficar aqui.
Gael disse, já se colocando entre mim e a porta.
— Jade vai dormir aqui também.
— Tudo bem.
É a única coisa que respondo, com medo de desabar em lágrimas novamente.
— Você pode ficar no meu quarto.
— Eu te empresto uma roupa, Leah. Você ainda está molhada da chuva.
Jade fala, já seguindo em direção ao quarto. Talvez não tenha sido um erro vir aqui, por que eu não sei onque fazer com tamanha dor.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Sereia Ruivinha
Será que a história de Liz vai se repetir com ela? tomara que não seja o que estou pensando
2024-05-10
0
Sereia Ruivinha
E a história se repete novamente, tadinha da Leah
2024-05-10
0
Gabriela
Nossa 😭
2024-05-10
0