| Propenso a violência

...•Bruno Clark...

Parte da minha vida foi muito difícil, eu cresci em um lar sem estrutura, com uma mãe depressiva, viciada em bebida e drogas, e como se não bastasse tudo, ela vivia em um relacionamento abusivo, um poço que não tinha fundo, ela se lamentava todos os dias por ter abandonado os outros filhos, mas apesar de tudo isso ela era um boa mãe e tentava ser presente na minha vida.

Meu pai era um homem violento, fui forçado a amadurecer antes do tempo, e quando ela estava machucada demais eu levava surra no seu lugar, já que ele parecia ter prazer em estar sempre nos castigando. Depois se sentia culpado, e comprava mais bebida e mais drogas, mantendo-a naquela miséria enquanto fazia questão de esfregar isso na nossa cara.

Ela começou a ficar debilitada, pensava ser pelas drogas, mas era ainda pior. Minha mãe descobriu tarde demais o câncer, e como imaginava, o meu pai sumiu no mundo, nos deixando a nossa própria sorte, nem ao menos podia acompanhar ela aos hospitais, o serviço de proteção a criança estava sempre de olho, e eu não queria deixa-la. Era uma boa mãe para mim apesar de tudo, e só tínhamos um ao outro.

Cuidei dela todos os dias, o tratamento era agressivo, e ela que já estava debilitada ficou ainda mais, mas o tratamento não deu em nada e quando foi desenganada, ela decidiu ir atrás dos meus irmãos e pedir o perdão deles, mesmo sabendo que isso nunca poderia acontecer.

Estávamos em um quartinho insalubre, mal tínhamos o que comer, as vezes quando ela apagava eu ia até os restaurante que ficavam perto atrás de sobras ou uma esmola.

E se não fosse pela Luna, teríamos ficado daquele jeito, ela cedeu o próprio apartamento para nós, me lembro de que quando eu deitei a cabeça naquela cama macia e limpa, eu me perguntei se algum dia na vida eu poderia ser alguém. por que tudo o que o meu pai dizia era que eu nunca seria ninguém na vida, e que meu futuro era ser um miserável que comeria as sobras do que outros deixam.

Os meus olhos brilharam ao ver uma sacola de fast food, nunca havia experimentado aquilo, passei pelo quarto vendo minha mãe deitada, e me perguntei o que aconteceria depois que ela partisse, ia ficar sozinho no mundo. Eu não teria mais ninguém.

Tudo aconteceu muito rápido, cada dia eu a via ainda mais debilitada, mais fraca, sentindo dores que nem as mais fortes medicações era capaz de aliviar. Eu sabia o que iria acontecer, ela já estava me preparando para aquilo.

Aquela noite eu tinha certeza que seria a última noite dela, Aida partiu tendo o perdão dos filhos, Breno e Emily a perdoaram, mas apesar de ver o rosto dela tão sereno quando fechou os olhos aquele foi um dos dias mais difíceis para mim, como se uma parte minha tivesse ido junto, e de fato foi.

Quando a cerimônia fúnebre encerrou perguntei o que aconteceria, já esperava que Breno e Emily me enviassem para um orfanato. No entanto, me levaram com eles, Margareth Clark me adotou legalmente um tempo depois, para ela eu de fato era seu filho, assim como Breno e Emily.

Eu não tinha nenhum tipo de expectativa para o futuro, foi uma mudança intensa, comecei estudar em boas escolas, mas sempre me sentia deslocado em meio aos colegas.

E eu era, eles faziam questão de me lembrar disso, através de bilhetes e piadas, todo dia ouvindo que era um caso de caridade, e tantas outras coisas, todos os traumas, todas as lembranças começaram a se tornar em uma raiva que eu não conseguia reprimir, me encarava no espelho e via no meu reflexo o mesmo olhar do meu pai, e não apenas isso, ele voltou, certo dia ele agarrou meu braço e me levou para um beco escuro, começou a me ameaçar e dizer que eu devia a ele, que mesmo que minha mãe tivesse morrido ela ainda o devia, e que eu deveria pagar.

— Conte a eles, vá em frente, eles vão expulsar você.

Ele dizia, me pressionava, ameaçava e perseguia, e eu passei a ser violento, arrumar briga, a receber expulsões, me tornei fechado e não conseguia mais falar com a Margareth sobre como me sentia, fui afastando o Breno e Luna, por que sentia vergonha de quem eu era. Mas tudo ainda ficaria pior.

Faltava alguns dias para o meu aniversário, Margareth antecipou as comemorações, me dando a minha primeira Harley Davidson, eu sempre fui apaixonado por esse mundo, queria ter uma coleção de carros e motos antigos, eu estava saindo de casa quando fui sequestrado por agiotas que encontraram em mim a oportunidade de receber o que o maldito do meu pai jamais conseguiria pagar.

Nunca consegui falar o que aconteceu naqueles três dias. Além das surras que eu levei, e de precisar assistir aqueles homens trep*ando, fui drogado com afrodisíacos e abusado pela mulher do chefe que parecia sentir tesão em assistir, preso a uma cama, aquela mulher deixou marcas que demorariam a cicatrizar.

Margareth pagou a dívida para que pudesse me ter de volta, e eu me senti culpado em arrasta-los para aquele caos e sabia que não ia parar por ali. E de fato não parou. Meu pai veio atrás de mim, ainda estava todo ferrado pelas surras que levei.

Ele veio no intuito de acabar comigo, estava bêbado, drogado e armado com uma faca, as coisas que ele disse, ele deu o meu endereço para aqueles homens, ele era o culpado de tudo o que passei, não era difícil advinhar o que aconteceria, ele ainda conseguiu me bater e quebrar uma das minhas costelas, e quando ele quis dar o golpe final eu fui mais rápido, não consegui parar, foram mais de quarenta facadas.

Fiquei quatro meses em detenção, mesmo com as provas que alegavam legítima defesa, e tendo meu irmão, o melhor advogado do país fazendo a minha defesa.

Eu mal consegui olhar para Margareth durante o julgamento. Eu via tristeza nos olhos dela, e eu achava que era pelo o que eu fiz. Quando pisei os pés no presídio eu tive uma única certeza, naquele lugar, ou me defendia, ou virava presa. Como Breno costuma dizer: Não seja a caça. E eu não fui, não me orgulho das coisas que tive que fazer, mas o instinto de sobrevivência pode fazer aflorar o pior em nós.

Foi Margareth quem me buscou no dia em que recebi a liberdade, ela me abraçou tão forte, e disse que eu deveria seguir em frente, e que eu merecia ser feliz, e principalmente que era amado por ela. Mesmo com os traumas que ainda me rondavam eu tentei fazer o que ela disse. Comecei do zero, por que queria me livrar das palavras que meu pai dizia, que eu nunca seria ninguém na vida.

Começou com uma garagem, onde restaurava motos, e carros antigos, várias outras franquias começaram a ser abertas. A garagem se tornou um um ponto de encontro entre motoqueitos e colecionadores, o negócio se tornou muito rentável, lucrativo, eu ganhei prêmios de reconhecimento, e com isso mais investim tos e expansões até mesmo internacionalmente.

Mas restava algo daquele passado, continuava propenso a violência, os gatilhos eram vários.

— Você não ouviu? Ela não quer ser tocada cara*lho, é tão incompetente que não consegue fo*der sem ser a força?

Gritei.

Aquele babaca jogou toda a cerveja que estava bebendo na minha jaqueta depois que decidi tomar as dores da garçonete que estava sendo assediada pelo infeliz. Saímos no soco, até sermos empurrados pelo garçom para o fora do bar que não queria prejuízos dentro do estabelecimento.

Nós saímos rolando pelo beco escuro, soquei aquele babaca, que mal se movia, foi quando ouvi um grito pedindo ajuda, me despertando daquele transe. Levantei e cuspi o sangue que estava na boca, minha jaqueta era uma mistura de sangue é cerveja, caminhei em direção ao pedido de ajuda.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***