| Estou dividida

...Chloe Stenfield Lacerda...

Eu ainda estava assustada pelo que aconteceu, e com muito medo, revirei na cama várias vezes até conseguir pegar no sono, que logo se tornou agitado ao reviver os recentes acontecimentos.

— Hora errada, no lugar errado, darling!

Aquele homem disse enquanto me arrastava do meu esconderijo, imobilizando as minhas mãos enquanto me olhava de forma nojenta.

— Uau, você é linda.

— Droga, não viemos aqui para isso.

O outro vociferou.

— Não seja idiota, sabe que não se rejeita carne.

— Não vou participar disso. Vou procurar mais alguma coisa de valor.

— Tanto faz, eu não vou perder a oportunidade.

Gritei quando ele começou a querer arrancar a minha blusa, olhei para baixo e vi que tinha chances de impedir o que ele pretendia fazer, o outro homem entrou no closet, deixando a porta fechada, eles não estavam armados, sem hesitar e com toda a força que tinha o chutei no meio das pernas, ele tombou com a dor, e eu levantei correndo derrubando as cadeiras e tudo o que via pela frente, desci dois lances de escadas, descalça e de pijama, entrei no elevador de serviço que acabava de chegar no andar onde estava, elevador assim que a porta abriu saí correndo sem me importar com nada, a chuva estava forte, os ventos pareciam querer empurrar meu corpo para trás.

— Eu vou pegar você, Darling!

Era tão real que eu comecei gritar, quando a porta do quarto abriu o meu coração acelerou ao ver eles, e isso fez com que me sentisse segura.

— Chloe?

— Deus!

Sento na cama, com a respiração ofegante, aqueles olhos que revelavam as mais terríveis intenções eram apavorantes.

— Foi só um pesadelo Chloe, está segura aqui.

Noah me tranquiliza, enquanto Tom senta ao meu lado, no momento em que sua mão desliza pelas minhas costas todo meu corpo arrepia.

— Fiquei pensando no que o oficial disse. E se ele voltar? Ele sabe que eu vi seu rosto, provavelmente sabe quem eu sou, minha carteira sumiu, ele levou meu celular.

— Não vai acontecer nada Chloe.

Dessa vez é o Tom quem me tranquiliza.

Por que as coisas entre nós não poderiam ser mais simples? Eu estou dividida, não sei como lidar, quanto mais tento fugir do que sinto, mais forte isso se torna. Noah dá um passo para trás, eu não quero que ele vá.

— Podem ficar aqui?

Peço, Noah encara a minha mão estendida para ele com uma expressão inelegível. Por que sim, eu tenho plena consciência de que eu sou a causa de toda essa tensão, e confusão entre nós.

É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? Duas pessoas tão diferentes e iguais ao mesmo tempo? Se é possível ou não eu não sei, eu só sei que o que eu sinto pelo Tom e pelo Noah vai muito além da amizade e irmandade que enxergam em nós, e que nem mesmo existe nesse momento.

Me lembro como se fosse hoje, antes de ir para o internato o Noah entrou pela janela do meu quarto, nem de longe era o tipo de coisa que ele faria, poderia esperar isso do Tom, mas dele?

Estávamos de castigo depois do que aconteceu na escola, o meu pai decidiu que eu iria no dia seguinte para a Europa, adiantou a minha viagem em seis meses, discutimos muito naquela tarde, eu estava assustada, por que ainda me lembrava de todo o sangue e do rosto do Jason completamente desfigurado, os nós dos dedos do Tom estavam completamente machucados e ele não parava.

Tranquei a porta para evitar a presença repentina do Senhor chatinho, quando virei Noah já estava tão perto, me puxou pela cintura e disse que precisava daquilo, tanto quanto precisava de ar para respirar.

Noah selou os seus lábios aos meus e me beijou e meu Deus! O beijo que o Jason havia roubado de mim não chegou aos pés, não tinha nem como comparar, na verdade era uma blasfêmia tentar comparar. O meu corpo todo queimava por uma expectativa que ainda não sabia o que era, sua língua dançava na minha boca provocando as mais intensas sensações.

Eu me repreendi naquele momento por pensar no Tom. Ao pensar se beija-lo também me causaria as mesmas sensações. Me senti tão perdida que mordi os lábios do Noah, recuei fazendo ele pensar que eu estava arrependida, quando na verdade eu só queria mais. No momento em que pensei em avançar, meu pai começou a bater na porta, estava claro que se ele pegasse o Noah no meu quarto ele me deixaria naquele internato o resto da vida.

A viagem foi inevitável, e eu não os veria por pelo menos um ano, nem ao menos pude rever o Noah antes de ir, ou me despedir do Tom. E era tão estranho não te-los no dia a dia comigo.

Aquela maldito beijo não saia da minha cabeça, mas não apenas isso, a maldita curiosidade de saber se sentiria o mesmo com o Tom. E eu me reprovava por isso, por que eu não queria magoar e nem brincar com o sentimento deles. Eu sempre os amei, sempre estivemos juntos para tudo.

E se eu precisasse escolher? Eu não saberia. Eu realmente não saberia.

Não queria pensar nisso. Noah sempre falava comigo, mas nunca sobre aquele beijo, eu queria que ele falasse, por isso sempre conversava com ele, a ponto de esquecer de responder o Tom.

Eu só não imaginava que o dia em que eu finalmente decidisse falar do beijo o celular estaria nas mãos do Tom, eu ouvi toda a briga deles por que no meio daquela discussão sem querer um deles me ligou e eu atendi, pensando ser o Noah. Eu ouvi os socos, me lembrei do que o Tom fez com o Jason aquele dia, gritei para que parassem, o celular ficou mudo, e eu fiquei atordoada sem notícias. Soube pelos meus pais que Tom tinha quebrado o nariz do Noah.

Depois disso o Tom não me respondeu mais, e eu fiquei corroída pela culpa de ter destruído a amizade que tínhamos, por que agora eu sabia, que se escolhesse poderia perder um deles, e isso eu não queria, mas de certa forma perdi os dois, por que tudo mudou entre nós, do internato ouvia os rumores de quem o Tom estava se tornando, não consigo mensurar o quanto fiquei ressentida, por saber que ele ficou com cada uma daquelas que eu considerava amiga.

Eu tentei me envolver, tentei esquecer algo que sequer aconteceu. Como posso sentir falta do que nem ao menos conheço? Mas era exatamente assim que me sentia.

— Por favor.

Peço novamente. Noah respirou fundo antes de enfim caminhar em direção a cama e sentar ao meu lado. Só pensei no que pedi depois que já havia pedido. Meu Deus, me dou conta nesse momento que eles estão sem camisa, Tom com uma bermuda fina, Noah em um moletom cinza. Cada um de um lado, como quando éramos crianças, mas com a adição de algo nessa cena que costumava ser tão comum, a tensão entre nós é quase palpável, nós três estamos rígidos, mas apesar disso, o medo me deixa, e a sensação ruim que agitava o meu peito se desfez.

Suspiro, entre os dois, me sentindo segura, nenhum de nós fala nada, o que é tão estranho, vencida pelo sono eu adormeço.

E da forma que nos três estamos nesse momento ao abrir os meus olhos percebi que pelo menos dormindo estavamos muito a vontade, eu estava com a perna em cima do Tom, minha mão em cima do seu peito. Enquanto Noah estava abraçado a mim, sentia a sua respiração no meu pescoço, eu os sinto completamente duros, e isso me deixa vermelha, meu Deus não posso mover um único músculo, me sinto quente, em combustão, como se estivesse diante de uma erupção, principalmente quando o Noah me puxa mais para perto, sua mão perigosamente próximo aos meus seios, que ficam intumescidos.

Aí caramba.

É tudo o que consigo pensar.

O telefone começa a tocar, e eu literalmente me finjo de morta, quando o Noah se afasta, ele ainda coloca uma mecha dos meus cabelos atrás da minha orelha antes de sair, quando penso em levantar, Tom coloca a mão em cima da minha coxa, mantendo a minha perna ali, enquanto eu o sinto pulsar.

Merda!

Isso é constrangedor, e toda essa situação é a receita certa para o caos. E não vou ser hipócrita de dizer que talvez seja exatamente isso que estou em busca.

A porta se abre novamente, e a cama afunda ao meu lado, e Noah toca o meu braço.

— Chloe?

Abro os olhos devagar, fingindo descaradamente que ainda estava dormindo, Tom acorda quando tiro a perna de cima dele.

— Seus pais estão vindo para cá. Parece que saiu nos noticiários os roubos de ontem, quando ele viu que o seu prédio estava entre um deles, começou a ligar e como você não atendeu...

— Ele deve estar surtando.

— Já estão a caminho daqui.

— Droga!

Levanto rápido quase caindo em cima do Tom, e sigo para o banheiro, me olho no espelho vendo o quanto estou vermelha, e suada, lá fora pode estar frio, mas aqui? Aqui está quente como o inferno.

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