Antes de me encontrar com Anton e lhe passar as informações, eu precisava passar no Salão dos Quadros, que era exatamente o que o próprio nome diz: um salão que tem quadros.
Mas não quaisquer quadros, e sim o quadros pintados por meu pai.
Os quadros que ele fazia nunca eram apenas paisagens ou simples retratos, eram visões.
Klon Conghansed nasceu cego, incapaz de ver as coisas do presente, porém, a magia Imortal nele o capacitava a ver e pintar o futuro com perfeição sem nem mesmo nunca ter visto qualquer coisa, ou sem saber o que estava pintando.
Ele havia pintado minha mãe antes de conhecê-la, fez um desenho de dois bebês quando a viu pela primeira vez, previu a morte de duas Casas e um Lorde, dentre outras pinturas repletas de significados.
O que prejudicou toda a extensão de seu poder foi a doença inesperada. Uma maldição jogada nele pelos Lordes, como eu acredito. Algo que fez seus quadros passaram de belos à horrendas paisagens de mortes, destruições e tanto sangue, que sua tinta vermelha, azul e amarela acabou em dias.
Visões do futuro de Lafesen.
A Grande Casa despedaçada, queimando em ruínas, manchada com toda a vida que pertence aos habitantes daqui.
Desde que vi a primeira pintura do caos, considerei meu dever evitar a guerra. Lafesen é minha Casa, em breve eu serei seu cabeça. Eu tenho que protegê-la.
— Você deve ter previsto a chegada dessas Feras. — murmurei ao vento, olhando para as pinturas inacabadas — Preciso saber se elas estão envolvidas com esse caos.
Vasculhei pelas telas da parede, do teto, as encostadas no chão. Nada, nem ninguém que se assemelhasse a Marelen ou a Rice. Fui até os rascunhos em cima da mesa.
Nada.
Precisava haver algo.
— Está mexendo nas minhas coisas outra vez? — a voz do meu pai percorreu nos meus ouvidos. Para um velho, ele tinha uma garganta potente — O que foi agora?
— Chegaram duas Feras de Chrowe na nossa Casa. Quero saber se já desenhou algo sobre elas.
— E desenhei?
— Parece que não.
— Hm, vamos ver se posso resolver isto. — ele coçou os cabelos louros debotados, tateando a mesa para pegar uma folha e um pedaço de carbono — Sua mãe está bem? Ouvi que teria um jantar esta noite.
— Está e já foi dormir. Ela anda meio...
— Instável?
— É. — olhei para seu corpo pouco enrugado, vestido apenas por uma camisola bege, a coluna encurvada. Se o meu futuro for me parecer com meu pai, talvez não valesse a pena viver muito.
— Para de olhar para mim. — não pude evitar erguer as sobrancelhas surpreso — Quantas mortes houve em Chrowe, Lohan? Já faz dias e você não me contou.
— Isto importa?
— Pensei que para você, a vida importasse.
— A vida de Lafesen. — esclareci.
— E se Lafesen fosse todas as Casas? Então importaria, não é?
— Pai, conquistamos a fidelidade de Quez esta noite, em pouco tempo o nosso traidor não terá com quem contar e será detido antes que crie uma guerra aqui.
— E se você for o traidor?
Franzi o cenho.
— Eu sou?
— Me responda você.
Respirei fundo, tentando não perder a paciência com o velho. Não ficou claro para mim se suas palavras eram sua magia agindo ou a doença.
— Não, sou inocente.
— Até que ponto?
— Pai. — resmunguei — Por favor, só me ajude a resolver isto. Não ligo para as mortes em Chrowe, estou mais preocupado com as Feras na Sala de Recuperação aqui em Lafesen.
Um silêncio pairou sobre nós durante alguns segundos.
Suas mãos corriam rápido pelo papel, os olhos fechados. Sempre fechados. As órbitas foram arrancadas quando era jovem. Por ele mesmo usando uma lâmina de prata. Minha mãe disse que foi um momento de desespero de meu pai, uma autopunição por seus olhos inúteis não ajudarem em nada.
— Como está seu irmão?
— Corno ainda.
Ele reprimiu um riso.
— Talvez um dia as coisas mudem para ele.
— Se continuar com a noiva que tem, eu duvido muito. — suas mãos se apressaram sob o rascunho. De repente, algo de errado não estava certo, pude sentir na magia ao seu redor e nos poros hiperventilados — Pai? — todo seu corpo tremeu, então caiu no chão — Pai!
— Es-estou bem. — sacudiu a cabeça — Foi só um pressentimento.
— Horrível, pelo que percebi. — o ajudei a se sentar na cadeira.
— É.
— Não vai me contar?
— Me deixe sozinho, Lohan. — virou as costas para mim, tateando a mesa em busca de suas tintas.
Certo, ele iria pintar o que viu. Ficaria horas a fio, sem comer nem beber até finalizar o quadro.
Soltei um suspiro e peguei o rascunho que ele havia feito.
Os traços estavam meio tortos devido à pressa, só que deu para ver que eram flores. Margaridas, jasmins, girassóis. Nem podia imaginar o que tinham a ver com as Feras.
— O que desenhei?
— Flores.
— Ai está uma resposta para elas.
Esperei que dissesse mais alguma coisa, mas não falou nada.
Sai dali sem me despedir, o deixando no silêncio, pitando sua visão de caos.
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Atualizado até capítulo 59
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