Meu primeiro pensamento foi olhar para a limpadora.
Devido ao acúmulo de pessoas em volta da garota caída na mesa, Mare esticou o pescoço para ver melhor o que estava acontecendo e quando finalmente pareceu entender a situação... Seria uma reação interessante de ser vista.
— Não. — ela murmurou. A cor deixou seu rosto, os olhos ficaram terrivelmente nebulosos — Rice? — ela começou a se aproximar. Péssima ideia. Crescida a segurou antes que desse três passos — Me solta! Por favor, me solta! Ela é minha irmã! Por favor!
Todos os olhares foram para ela e o dela para mim.
— Por favor, me ajude! Ajude ela! Ela está grávida! — Crescida sufocou sua garganta o suficiente para cessar os gritos. Tudo bem, isso me deu pena.
— Uau, duas Feras em Lafesen. — Kris bebericou o vinho despreocupada — Eu realmente não esperava isso.
— Vocês iam vender duas Feras para mim? — Torien falou completamente perplexa — Seus desgraçados.
— Elas vieram da sua Casa. — lembrei — Você quem nos colocou em risco aqui.
— Certo, acho melhor sairmos. — minha mãe disse um pouco assustada, ainda olhando para a garota em cima do leitão — O jantar será servido em outra sala, e claro, vou mandar servir outra coisa. Filhos, cuidem deste assunto.
— Sair quando a reunião começa a ficar boa? Não, obrigada Sra. Marisca.
— Vamos, Corinta. — Kris se pôs de pé — É melhor deixar esta confusão com quem entende do assunto. Você pode flertar com Chaid na outra sala. — sua voz era calma e controlada, sempre era, uma das coisas que eu mais gosto nela.
— Depois dessa bagunça espero que me devolvam os Mortais de graça.
— Ainda vamos discutir o preço Torien, só que antes sairemos daqui. — todos se levantaram hesitantes, murmurando, inclusive as crianças. Ver uma Fera morta era um prazer para seus olhinhos depois de ouvir tantas histórias horríveis sobre elas. Minha mãe olhou para Mare, levemente sufocada pelo espírito mágico — Crescida, por favor, leve os Mortais para uma sala privada e confira o sangue de cada um. Se houver outra Fera no meio deles, mande matar.
— Sim, Sra. Marisca. — assentiu reaparecendo.
— Deixe esta aí. — intervi. Ela com certeza também é uma Fera e eu não a queria morta, não sem antes me explicar o que aconteceu já que o estado de sua irmã era decerto degradante — Preciso conversar com ela.
— Como quiser, Sr. Lohan.
Mare ficou quieta, trêmula com as mãos no pescoço e tentava ao máximo engolir o choro enquanto observava sua irmã de longe. Seu peito subia e descia em uma rapidez preocupante.
Respirei bem fundo até todos saírem relutantes e as portas se fecharem.
— Certo, isso foi assustador. — falei, relaxando os ombros.
Fui até Marelen sem hesitar, me agachando para que meu rosto ficasse na altura do seu. Seus olhos azuis, tão azuis, transmitiam súplica e medo. Ela estava com medo de mim? Logo eu que a ajudei desde que a vi em Chrowe? Deve estar me confundindo com Anton.
— Isto vai doer.
Seu cenho delicado apenas se franziu quando toquei a mão por cima de seu esguio pescoço. Ela se encolheu. Senti cada contração muscular, cada pedaço assustado de seu corpo.
Usando meu poder, fiz seu sangue se concentrar em seu cérebro.
Nada demais, apenas o suficiente para que desmaiasse.
Meu irmão, por outro lado, estava mais interessado na garota da mesa.
— Vou salvá-la. — disse, retirando rápido o manto daquele quase cadáver.
— Sério? Ela caiu na mesa no meio de um jantar importante, roubou o seu manto e ainda é uma Fera.
— Vamos ser sensatos, Lohan, ela não sabe o que é. Caso contrário, não teria nem chegado perto das minhas coisas.
Fiz uma careta ao vê-la.
A vida nela era um fiapo que tentava se agarrar com força, os ferimentos abertos causados pela magia do manto esgotavam seu ar lentamente. Feras não são resistentes à magia, apesar de por dentro ser bem o oposto. Olhei para seus olhos revirados, um gemido baixo ecoou de sua garganta. A maior parte de sua derme fora arruinada, não existia mais, nem as pontas de seus dedos haviam unhas. Seu corpo inteiro fora exposto à magia do manto, algo que continuaria a consumindo mesmo que não o usasse mais.
Parecia uma pessoa totalmente diferente da que me serviu chá há três dias atrás.
— Esta situação está ficando cada vez mais desconfortável. As Feras estão perdendo o juízo pensando que procriar com Mortais irá aumentar sua prole.
— Precisamos saber mais sobre a família dessas garotas. Eu vi a mãe morta, mas nenhum sinal do pai.
— Ótimo, mais um caso de abandono. Por que será que isso não me surpreende? — carreguei Marelen inconsciente, ela não pesava praticamente nada — Escute, quero ajudar nossa mãe na negociação dos Mortais. Não confio em Torien. Pode levá-las à Sala de Recuperação sozinho? — a coloquei com cuidado ao lado da irmã.
— Claro. — ele disse enquanto vestia o manto — Caso veja a Kris, diga a ela que tenho planos de sairmos no restante da noite.
— Aposto três moedas de ouro que ela vai recusar antes que eu termine a frase.
— Estamos começando a nos entender outra vez.
— Diz isso para os oito amantes dela.
Anton me fitou sério.
Sorri.
De certa forma, era bem estranho ter um irmão gêmeo e saber que as reações dele eram as minhas. Era como estar acompanhado de um espelho ambulante, um pouco distorcido. Ao menos admito que Anton tem uma aparência formidável, coisa que também possuo, mais que ele até. Fico aliviado em saber que no restante somos diferentes. Principalmente pelos relacionamentos. Qualquer interesse romântico que tive não durou duas semanas, pura distração, sempre imagino que irei me casar por causa de uma aliança entre as Casas. O noivado de Anton com Kris também é algo político, meu irmão apenas foi burro o suficiente por se encantar de verdade por ela. Na primeira crise séria que eles tiveram, minha cunhada arrumou tantos amantes, que Anton deve acordar todo dia com torcicolo no pescoço devido ao peso dos chifres.
— Só faça o que eu pedi, sim? — disse.
— Certo. Quando eu estiver livre, te encontro lá.
— Vá logo antes que nossa mãe estoure a cabeça de Torien.
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Atualizado até capítulo 59
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