Poucos segundos depois fui praticamente expelida para fora do manto, caindo sentada.
Olhei para o meu sequestrador, notando os olhos verdes me fitando com curiosidade. Olhos que refletiam como esmeraldas, que habitavam um rosto marcado, de um homem estranhamente sólido para ser considerado um espírito. Ele parecia olhar para mim e além de mim, para o mais fundo possível da minha existência.
Magia.
Estava usando magia em mim.
— A-aonde eu estou? — questionei.
— Eu não sei bem. — ele murmurou estendendo a mão — Entrada de Berlow, talvez.
Berlow? A vila de Purke?
Recusei a mão estendida, me sentia exaurida por todos os fatos e descansar sentada era minha melhor opção.
— Berlow... a vila? — perguntei baixo. Ele assentiu indiferente — Não estamos em um lugar mágico?
— Existem muitos lugares mágicos, mas não acho aqui um deles. — ele se agachou e tocou o meu rosto. As pontas de seus dedos eram quentes, eu quase podia ver a mágica exalando de seu corpo. Continuei imóvel, mas o analisei melhor. Apesar do capuz, alguns fios castanhos claros escapavam pelas laterais. Ou seriam louros escuros? Não importava, congelei quando o vi pegar uma faca de dentro da bota e apontar para mim. Com um movimento sutil, tirou de dentro do manto uma maçã, partiu com a faca e me entregou um pedaço — Sei que está faminta, coma um pouco antes que a morte lhe alcance.
Aceitei o pedaço de maçã cautelosa.
— E quando você vai me matar?
— Alimentar para depois matar? Que desperdício. — ele recuou olhando em volta, um tanto impaciente.
— Você é um espírito mágico, não é? Veio por que eu lhe amaldiçoei. Saiba que eu não me arrependo, eu mal diria cem vezes caso...
— Eu pareço uma porcaria de espírito mágico? — cruzou os braços contra o peito, ofendido.
— Sim.
— Pois bem, eu não sou.
— E o que você está esperando? Por que não faz nada além de ficar olhando em volta?
Ele me olhou por cima do ombro. Ao mesmo tempo que ele exalava vida, demonstrava uma parcela sinistra de frieza.
— Estou esperando meu irmão chegar com os outros sobreviventes.
— Outros...?
Minha voz foi abafada por alguns passos, que em pouco tempo se tornaram mais altos.
Me obriguei a ficar em pé, apenas esperando o que viria a seguir.
Tive que piscar algumas vezes quando vi uma cópia do meu sequestrador surgir dentre as árvores. Esta, porém, não usava um manto, ressaltando muito bem a largura dos ombros, a postura reta e a força que era seu corpo. Junto com ele, algumas pessoas maltrapilhas surgiram cercadas por homens e mulheres sérios e estranhos.
— Está atrasado. — comentou meu sequestrador.
— Claro que estou. Lamento que não tenho uma noiva que me dê capas mágicas para transporte e precise vir a pé.
— Não é transporte, é viagem através das sombras.
— Claro... — ele olhou para mim. Assim como o outro, tocou o meu rosto usando seus truques invisíveis — Vinte anos, interessante. — murmurou — É esta a garota? — perguntou por cima do ombro. Os maltrapilhos abriram caminho para um homem servindo de apoio para uma garota linda de olhos azuis.
Ela olhou para mim, a felicidade estampada em seu rosto.
Ela correu até mim, me abraçou tão forte que caímos juntas no chão.
— Sua bruxa, como faz isso comigo? — perguntou com a voz abafada — Como ousa a sumir assim?
— Benzinho... — segurei seu rosto entre minhas mãos. Mare estava suja, com olheiras, mas nenhum machucado aparente ou grave — Achei que você tinha morrido também.
— E desde quando vaso ruim quebra, Rice? — a abracei outra vez — Eu sabia que estava viva, eu sabia.
— Você…?
— Estou ótima, você quem parece acabada, está cheirando a urina. — ela sorriu, recuou um pouco e olhou para a cópia do meu sequetrsador — É ela mesma. Muito obrigada, Sr. Lohan.
— Conhece eles? — questionei.
— Me resgataram, Rice. Algumas mulheres e homens da nossa vila também.
— Somos Lohan e Anton Coghansed, da Grande Casa de Lafesen. — disse Lohan, o que estava sem manto — Vocês tiveram muita sorte em sobreviver.
Me pus de pé, outra vez, apoiando em Mare.
— Muito obrigada por nos ter ajudado, mas agora temos que ir.
— Ir!? — indignou Mare — Ir para onde? Chrowe está destruída.
— Berlow está perto daqui. — respondi — Purke é o prefeito, ele...
— É um covarde, Rice. Se não assumiu mamãe que dizia que amava, vai nos aceitar que somos filhas dela? Claro que não.
— Para onde vamos então?
— Íamos chegar nesta parte. — disse meu sequestrador, que agora se tornou de certa forma meu resgatador — Quando salvamos pessoas, e elas não têm para onde ir, as levamos para servirem em Lafesen até decidirmos seu destino.
— É óbvio que queremos ir. — falou Marelen, apertando com força minha mão. Uma demonstração clara para que não a contradissesse.
— Iscos... — falei baixo para somente ela ouvir — Quando ele voltar...
— Vamos buscá-lo depois, sua bruxa. Não se preocupe.
— Promete?
— Claro. — Mare era uma mentirosa horrível. Iscos ficaria no esquecimento se dependesse dela — Estamos prontas.
— Muito bem. — disse Lohan olhando para todos em sua volta — Vamos para Lafesen. Todos para o manto mágico.
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Atualizado até capítulo 59
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