Levar as baratas com mel para Lady Kris me pareceu um risco.
Em apenas um dia consciente em Lafesen comecei a sentir um certo temor pelas coisas mágicas. Manto que transportava pessoas, espíritos pequenos e agressivos, comidas asquerosas que eram uma ilusão. Minha mente fervilhava de perguntas, porém, eu precisava ficar sozinha e testar a vela mágica.
Genevive preparou um carrinho com rodinhas com tudo bem arrumado com chás, xícaras, biscoitos, o aperitivo e me dispensou. Fiquei satisfeita ao sair da bagunça que era a cozinha. Algumas vezes ouvi coisas como “Está no seu cabelo!” e “Ele me mordeu!”.
Andei todo o corredor em silêncio, indiferente.
Ao final, peguei a vela e o isqueiro. A coloquei em um pires à parte, na frente do carrinho, e a acendi. Uma chama tremeluziu na ponta, alaranjada, talvez esperando uma ordem.
A trouxe perto da boca, murmurei um pouco incrédula:
— Onde está Iscos? — o fogo ganhou uma cor vermelha intensa, as chamas dançando de modo gracioso para o lado esquerdo e a segui surpresa, prestando atenção no caminho. Ao virar um corredor, avistei uma janela e a chama tremeluzia contente para o horizonte. Um momento depois se apagou.
Meu coração deu um salto no peito de esperança. Uma cambalhota!
Se a vela me levou para alguma direção, significa que Iscos estava vivo.
Eu precisava encontrá-lo.
Ele precisava saber que eu estava viva de algum jeito.
Me recordei do plano de Mare: casar com alguém rico que pudesse me levar para fora de Lafesen para procurar o meu noivo. Esse plano pareceu bem atarente agora.
Não que eu fosse boa em algo do tipo, mas mamãe era. Eu devia ter herdado algo que não fosse seus cabelos e olhos.
Sorri frustrada.
Eu nunca seria mamãe. Às vezes ela era bem mentirosa, manipuladora, vingativa... Eu não conseguia ser assim. Bem, talvez Mare conseguisse.
Em uma Grande Casa devia existir alguém disposto a me ajudar por algo mais justo, mais sincero.
Peguei novamente o isqueiro, acendi a vela.
— Me leve à Lady Kris. — pedi e ela deu a direção e fui seguindo.
Como aquela vela funcionava exatamente? E mais, como podia ter consciência dos meus pedidos? Será que tinha um espirito mágico preso na cera? Será que ouvia tudo?
Fiquei questionando o suficiente ao ponto de perder a noção do tempo.
A quanto tempo eu estava andando exatamente? Dez, vinte minutos? As paredes eram muito parecidas, altas, pintadas metade vinho e metade rosê. O carpete era marrom escuro, o tapete aveludado abafava o som dos meus passos e das rodinhas. Era uma Grande Casa, afinal. Mare tentou me avisar.
Tentei me apressar, olhando para a vela pensando o qual inútil era aquela coisa. Era bem possível que eu estivesse dando voltas no mesmo lugar. Com certeza eu estava perdida, pelo menos tinha o aperitivo de Lady Kris caso a fome apertasse.
Antes que algum impropério soasse da minha boca, porém, virei mais um corredor e dei de cara com uma porta.
A vela se apagou.
Certo, cheguei.
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Atualizado até capítulo 59
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