No começo, fiquei com medo da chama da vela se apagar enquanto eu corria, mas não, para o meu alívio nem o vento a fazia tremer.
Depois de subir pelo menos três lances de escadas, virar sete corredores e não ver rastros de outros empregados ou espíritos mágicos... Deduzi que talvez estivesse indo para algum lugar bem privado, afinal.
Pela primeira vez desde que saí do meio do salão me questionei se estava fazendo o certo. Bom, eu estava descumprindo prováveis regras, iria invadir o quarto de uma pessoa importante para Lafesen, além de roubar algo. Era bem errado. A adrenalina e a ansiedade, para minha tristeza, não permitiam que eu me arrependesse. Eu estava fazendo isso por amor, por Iscos, por mim.
Quem ouvisse acharia um motivo idiota, quem não entendesse minha razão acharia também.
Finalmente a vela se apagou.
Quase chorei de felicidade, cansada de dar voltas, sentindo câimbras e falta de ar.
A porta do quarto de Anton não me intimidou muito. Sua madeira escura com entalhes dourados me deixaram mais curiosa. Parecia contar uma história bizarra, com arabescos delicados, foices e pessoas graciosamente jogadas no chão.
Girei a maçaneta de ferro, tão gelada, mas estava destrancada. Tudo o que eu precisava.
O interior quarto estava escuro.
Completamente.
Acendi a vela para ter alguma visão, até encontrar alguma coisa que acendesse as luzes. Tateei a parede, apertei um botão e um cristal ciano esbanjou sua claridade pelo espaço.
Dei uma olhada ao redor e segurei o queixo para não cair pela grandeza do quarto. Uma cama grande com um enorme dossel dourado, uma penteadeira feita da madeira mais polida, um guarda-roupa do tamanho da parede!
Sacudi a cabeça.
Não interessa a cama grande, e com certeza fofa, ou o cheiro de frescor que o cômodo tinha, nem a bela vista que a sacada do quarto oferecia. Eu só precisava do manto.
Tranquei a porta por precaução, a tensão de ser pega é aterradora.
Dei uma volta no quarto apenas para encontrar o que eu tanto queria bem posto em um cabideiro.
Um frescor entrou pela janela aberta, fazendo soprar em mim uma corrente de ar suave. Revirei os olhos. O Outono se tornou minha estação mais desgostosa. Depois de tudo o que houve em Chrowe, que os ventos fossem ao meu favor pelo menos agora.
Peguei o manto sem hesitação. Era tanto tecido que levei dois minutos inteiros apenas para encontrar o capuz. Analisei o fecho dourado e fitei a frase posta ali. Ignorei-a, não interessava o que estava escrito, eu não entendia mesmo. Ajeitei o tecido grosso nos meus ombros, parecia uma coberta quentinha.
De início, senti o formigamento da ansiedade pelo meu corpo.
Parecia irreal que consegui.
Respirei fundo.
E agora? O manto funcionava como a vela? Era só pedir e pronto?
Coloquei o capuz, pensando no meu noivo.
— Me leve até Iscos Walt.
O tecido reagiu a minha ordem. Começou a envolver meu corpo, e de repente, senti um puxão tão repentino que gritei.
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Atualizado até capítulo 59
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