Os dias que se passaram para a preparação do jantar foram um caos.
Genevive ficou rouca de tanto gritar com os outros cozinheiros, pois era muita comida que devia ser picada, temperada, assada. Mal troquei cinquenta palavras com ela, era obvio que ela era importante ali.
O estresse da cozinha simplesmente me tirou do controle, então me ofereci em todas as manhãs a levar as baratas com mel para Lady Kris. Era melhor os corredores silenciosos do que insetos por toda a parte, sem contar o cheiro horrível do tempero que fazia meu estômago querer sair para fora do meu corpo. Além do mais, eu poderia me encontrar com Anton e pedir educadamente que ele encontrasse Iscos para mim.
Mas não o achei.
Nem mesmo Lohan.
E Lady Kris me dispensava mais rápido do que me olhava.
Tentei usar a vela diversas vezes para achar o gêmeos mas ela sequer acendia. O que me aliviava era poder perguntar onde estava Iscos e a chama apontar para o horizonte.
Fiz isto em tantos momentos que receei acabar com o gás do isqueiro.
Marelen, por outro lado, parecia igualmente ansiosa. Mas de um jeito bom. Quando nos encontrávamos ela estava muito cansada, mal jantava e só queria dormir “para ter um sono de beleza”. O jantar com Torien exigira que a limpeza da Casa fosse mais delicada. Flores foram colocadas nos salões, taças chiques foram polidas para a mesa, perfumes aplicados em cada assento. No fundo, senti pena dela, pois além do árduo trabalho braçal feito durante o dia, a noite era obrigada a ouvir todas as minha lamentações de como meu dia foi infrutífero em encontrar Iscos.
De acordo com Marelen, as limpadoras tiveram que arrumar uma mesa com vinte e quatro lugares. Vinte e quatro Imortais em um jantar apenas para decidir o destino dos resgatados de Chrowe.
Finalmente chegou a noite do jantar e me senti nervosa.
O céu estava lindo, um azul escuro intenso com estrelas reluzentes, uma lua brilhante e ventos frescos.
Isto estranhamente me irritava.
Quando deu sete horas da noite, Mare e eu fomos chamadas por Crescida para comparecer à residência. Eu nem olhei para a cara da maldita, meu sangue fervia só de pensar no quão inútil ela era com aquela prancheta de madeira.
As regras que ela nos repassou no caminho foram simples: todos uniformizados, não falar nada até que alguém autorize, cabelos bem presos e penteados como se fosse um dia normal de trabalho.
Crescida nos guiou para um sala onde todos os resgatados da Casa de Torien estavam, umas quinze pessoas no total. Ninguém animado com a ideia de ser comprado.
— Esperem aqui até serem chamados. — avisou — Se existe magia que preste, todos serão vendidos... — saiu reclamando.
Assim que Crescida saiu de perto de nós, Mare e eu nos entreolhamos.
Corremos, indo atrás da porta que ela saiu para bisbilhotar o jantar.
Observamos um pouco dos convidados.
Eram pessoas bonitas, usando joias, sorrindo com gentileza, conversando baixo. Os gêmeos estavam ali também, ambos distraídos, vestindo ternos brilhosos. Um deles estava sentado ao lado de Kris, a olhando com afeição.
Agora Anton aparece?
— Não estou vendo Torien.
— Nem sabemos como ele é, benzinho. Aqui tem tanta coisa mágica que ele pode ser aquele garotinho ali.
Ela segurou o riso.
— Acha que vamos ir embora de Lafesen?
Dei de ombros, realmente tendo dúvidas quanto a resposta.
Se Torien comprasse os Mortais de Chrowe, eu não teria tempo de pedir nada a Anton. E se ficássemos, ele podia sumir outra vez fazendo com que eu tivesse que esperar mais para fazer o pedido. Cada dia longe de Iscos seria um dia sem saber se meu noivo estava vivo ou bem.
Voltei para perto dos outros Mortais, pensativa.
— Não podemos ir embora sem antes descobrir onde está Iscos. — falei baixo, somente para Mare ouvir.
— Torien pode buscá-lo para nós se pedirmos.
Bufei.
— Marelen, para tudo que eu falo você responde “Depois fazemos isso”, “Quando casarmos com um homem rico ele faz”, “É só pedir para alguém” ... Eu estou exausta disso. Eu não preciso encontrar Iscos depois ou quando. Preciso dele agora.
— Rice...
— Sei que não gosta dele, benzinho, mas veja nossa situação. Não mandamos na nossa vida como antes, quero fazer algo enquanto ainda posso pelo menos um pouco. Isso não é importante para você... — peguei a vela no bolso do vestido, a cera desgastada de tantas vezes que acendi — Mas é importante para mim. Perdemos mamãe e tia Mer, eu não quero perde-lo também. Não quando eu tenho a chance de estar com ele outra vez. E eu não brinquei quando disse que posso estar grávida de Iscos, porque eu acho que estou. Eu preciso tentar, Mare. — suas sobrancelhas arquearam, surpresa.
— No que está pensando, sua bruxa?
Sorri confiante.
— Anton está jantando com os outros Imortais, certo? Vou aproveitar e roubar o manto dele.
— Você enlouqueceu, Rice? — ela se segurou para não gritar — Não pode simplesmente esperar o jantar acabar para fazer seu pedido? — neguei.
— Genevive disse que depois do jantar, o visitante vai embora. Se formos vendidas não terei chance.
— E se alguém te ver?
— Finjo que estou perdida.
— E se não acreditarem?
— Vomito em quem duvidou, estou ganhando uma certa fama por isso.
— Não vou te convencer, não é?
— Ainda bem que você sabe.
— Por que você não pode ter planos inofensivos como os meus? — dei de ombros, ela respirou fundo — Certo. Escute bem, esta é minha noite de conhecer um bom pretendente, então não estrague tudo. — olhou por um momento para minha barriga e depois em volta para a cara de tédio dos outros Mortais, cada um perdido em suas próprias expectativas — Temos que voltar antes de sermos chamadas.
Demos apenas alguns passos quando uma voz familiar nos alcançou:
— Rice, finalmente te encontrei aqui!
— De que buraco esse velho surgiu? — murmurou Mare. Tentei sorrir para o Sr. Tins, um sobrevivente de Chrowe. Fiquei com vontade de sentar e conversar com ele, tomar chá de maçã e fofocar como costumávamos fazer na vila, mas agora não. Logo agora não!
— Eu pensei que ainda estava em coma. — ele disse.
— Sr. Tins, eu nunca fiquei em coma.
— Que alivio, eu sabia que era exagero de sua irmã. — ele ajeitou os óculos emendado que escorregavam pelo nariz pontudo, olhando Mare de esguelha — Me preocupa a condução dessa menina, Rice. Eu não sei bem, Marelen parece desajuizada e agora que sua mãe...
— Estou bem aqui, Sr. Tins.
— Oh, sim. Sempre está não é Marelen? — revirou os olhos, focou em mim — Sabe, eu fiz o vinho para o jantar desta noite. Aqui tem muitos ingredientes, dá para fazer vinho muito rápido além do meu clássico de maçã, até mesmo já inventei uma receita...
— Coitado dos convidados. — murmurou Mare.
— Como é, menina?
— Coitado dos convidados. — ela falou mais alto para ele ouvir bem. Eu queria muito ficar e ver até onde essa conversa daria, porém, percebi que minha irmã estava disposta a insultar o vinho dele para distraí-lo. Era minha chance.
— Preciso ir ao banheiro. — inventei já saindo de perto deles. Sr. Tins nem pareceu me ouvir, concentrando em Mare.
— Você fala como se meu vinho fosse ruim. Lembro-me de vê-la tomando as garrafas nas festividades....
— Se tivesse outro tipo de álcool eu nem chegaria perto dessa porcaria que você chama de vinho!
Sai pela porta do outro lado da sala. Os outros resgatados estavam focados na discussão de Mare e Sr. Tins.
No corredor, peguei o isqueiro e acendi a vela.
Era o meu momento!
A trouxe para perto da boca e murmurei:
— Me leve até o manto de Anton Conghansed.
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Atualizado até capítulo 59
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