Marelen murmurava alguma coisa no sofá.
Um possível xingamento devido a ressaca que se encontrava.
Eram dez da manhã, Iscos já havia partido para sua viagem. As pessoas da vila retiravam as decorações da festa. Luzes, lenços âmbar, frutas e até carne, estavam sendo recolhidos. Mamãe e tia Mer foram procurar o que havia sobrado para ser reaproveitado, enquanto Marelen insultava à todas as festas em que já esteve.
— Rice, vou dizer de novo, eu nunca mais vou beber daquele vinho horrível do Sr. Tins.
— Você disse isto no Verão, Mare benzinho. — retruquei com paciência enquanto cortava os legumes para o almoço. Meu coração torcia muito para que mamãe encontrasse carne nas sobras para fazer uma sopa digna.
— Eu só passo mal porque o vinho é ruim e barato. Vinhos bons são caros. Eu quero beber coisas caras.
— Você passa mal até com água.
— Minha cabeça está doendo e girando. — choramingou — Vamos ser miseráveis até o fim dos nossos dias!
— Não vamos não.
— Vamos sim! — ela se pôs de pé em um pulo para apenas cair sentada no sofá — Mamãe diz que vai se casar com o prefeito da outra vila, mas ele nunca pede a mão dela. Tia Mer aceitou o destino de morrer solteira. Seu noivo é um inútil que viaja para o Norte e o Sul, dizendo que vai mudar Chrowe e é mentira.
— Mare...
— Eu quero ser rica, casar com um homem rico...
— Diz a garota que estava abraçando o filho do padeiro.
— Rice, tente entender minha situação. Eu sou uma jovem linda de ressaca, já vomitei mais do que comi hoje e não tenho perspectiva de vida. Seja compassiva, sua bruxa.
Revirei os olhos.
O silencio é a melhor resposta para alguém neste estado.
Continuei picando a cenoura em rodelas, quando mamãe chegou seguida de tia Mer. Sua grande barriga de gestante, chamando muita atenção, não ofuscava a beleza de seu rosto. Sempre tão linda. Ela e tia Mer compartilhavam de cabelos caramelos longos, olhos cor de mel e um humor maravilhoso.
Tudo que Marelen precisava.
— Encontramos um pedaço de carne! — exclamou tia Mer colocando o pedaço na minha frente.
— E frutas, bolos e vinho. — continuou mamãe.
— Joga este vinho no quintal! Pelo amor que você tem a mim, mãe... — resmungou minha irmã.
— É um vinho podre de maçã do Sr. Tins. — rendeu titia — Eu nunca jogaria fora uma porcaria dessas. Talvez um gole te ajude a melhorar, Mare benzinho.
O som do refluxo de Mare foi música para os meus ouvidos.
— Ela está insuportável. — falei baixo para mamãe.
— Tenha paciência, Rice. Conversei hoje com um dos mensageiros de Purke, lhe dei o prazo de uma semana para pedir minha mão antes que eu arruíne sua imagem. Ele vai aceitar por bem ou por mal. Vamos mudar de vida, mudar Chrowe.
— E se ele não quiser? Se não ceder?
— Seja positiva, sempre lhe ensinei a ver o lado bom das coisas, não me decepcione agora.
— Estou sendo realista. Eu odeio concordar com minha irmã, mas ela está certa. Purke só diz, diz, diz e não faz nada. Nossa vila mal tem recursos, o prefeito é mais coitado do que nós.
— O que sugere, então?
Pensei por um momento.
— Sequestrar Purke, pendurá-lo de cabeça para baixo em um barril cheio de ratos e bater nele até que faça o pedido de casamento. Vai ser fácil, só precisamos de uma corda, um pedaço de pau, um barril e o que não nos falta são ratos.
— Eu topo. — disse tia Mer chegando perto.
Mamãe soltou uma gargalhada alegre.
— Vocês são doidas. Estamos no primeiro dia do Outono, ventos de mudança! Sinto isto.
Assim que terminou a frase, um grito soou do lado de fora.
Um grito de desespero.
— Eu acho que não quero esta mudança. — resmungou Mare, sua voz quase abafada por mais gritos que surgiram.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Ryoma Echizen
A trama está surpreendente, autora! Você é uma verdadeira talentosa!
2024-01-04
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