Capítulo 7

Anthony Gabriel...

Fiquei transtornado ao saber a verdade.

— Por favor, estamos num hospital… — diz mamãe.

— Eu nunca disse nada, porque nunca se abriram comigo, nunca confiaram em mim!

— Claro! Seu trabalho sempre foi sua prioridade, nunca se importou conosco! Vem aos finais de semana e se acha no direito de exigir confiança da nossa parte?

— Busco o melhor para vocês! Não podem me culpar…

— Busca apenas o que é melhor para você! Porque nós, sempre somos deixados de lado, somos sua segunda opção!

— Parem por favor! — implora minha mãe entre lágrimas.

— A fazenda sempre deu lucro alto, para sustentar todos nós, não precisava sair de casa para nós dar conforto!

— Eu não fui criado para passar a vida enfiado numa fazenda!

Minha mãe paralisa com suas palavras.

— Eu sempre sonhei em estar onde estou, crescendo profissionalmente, não acabaria com a minha vida estando nesse fim de mundo!

— Então, por que se casou comigo? — pergunta mamãe.

Meu pai se arrepende do que diz. Tenta se justificar, mas somos bombardeados com a chegada de nosso melhor amigo dando entrada no hospital sem vida. "

Dias atuais…

Desperto daquelas lembranças, sentindo o ar faltar. Vou até a pia e lavo o rosto diversas vezes, tentando afastar tais lembranças.

Acabei ficando muito tempo revivendo os fatos, que perdi a noção do tempo, olho no relógio e já era hora do almoço.

Ouço batidas na porta do trailer e é meu amigo é irmão do coração Dimas.

Nos cumprimentamos e ele entra com duas marmitas de comida.

— Você é o cara, irmão! Estava com fome já! — digo.

— Sem mim, não seria nada! — diz divertido colocando as marmitas na mesa.

Pego pratos, copos e talheres no armário, enquanto ele pega bebida no frigobar. Nós acomodamos na mesa e começamos a almoçar.

— Como foi com a morena, ontem?

— Ótimo! E vocês, saíram com alguém?

— Danilo como sempre saiu com duas loiras e eu apenas fiquei conversando com uma gatinha linda no restaurante! Combinei de nos encontrarmos hoje a noite!

— Aí fala sério!

— Cara, você sabe que não faço o gênero cafajeste, como você e Danilo!

— Por isso sofre tanto, meu amigo!

— O que me aconselha a fazer, então?

— Siga as cinco regras claras! Não demonstre interesse, não atenda quando ela ligar, não fique de papo em redes sociais, não fique com essa coisa de marcar encontros, muito menos marque jantares românticos e por último priorize outros compromissos! Pode deixar, vou acompanhar você hoje a noite e não te deixarei fazer nenhuma besteira! — digo divertido e ele revira os olhos.

— Depois desse rodeio, a comitiva estará indo para a Austrália!

— É, eu sei!

— Está pronto para finalmente voltar para casa?

— Não sei! Onze anos longe de casa é muito tempo, não é mesmo?

— Está na hora de superarem isso!

— Mesmo que voltar para nosso país, não quero voltar naquela fazenda! Já faz tanto tempo…

— Sei disso, mas precisam se reconciliar, cara! A vida é muito curta para carregarem tanta mágoa, ódio, rancores em seus corações! Sua mãe, irmã sentem a sua falta…, nem conhece a sua sobrinha!

— Realmente não quero falar disso!

— Não, cara! Estou falando sério, está na hora de superarem o passado! Todos saíram prejudicados, por culpa daquela mulher! Não pode mais deixar isso te prejudicar, nem afastar mais ainda sua família! Mesmo não aceitando, isso te afeta, afeta sua família e...

— Não entende, como isso é difícil! Quando partimos meu irmão não olhava mais na minha cara, meus pais se separavam e nosso melhor amigo foi encontrado morto!

— O sofrimento da sua família, também foi e é o meu sofrimento, por isso estou aqui tentando abrir os seus olhos! Pelo menos pense…

— Infelizmente, já não tem mais nada que me prenda naquele lugar! Amo a minha família, mas às vezes, é preciso deixar pessoas para trás…

— Não a nossa família, cara! Perdi meus pais muito cedo, você tem uma família linda devia valorizar, estar com eles!

— Falo com a minha mãe todos os dias!

— Isso não é o suficiente! Sabe disso, mas se nega a aceitar! Pior cego é aquele que não quer ver!

Não posso nem dizer que ele não conhece a dor que sinto, pois Dimas também sofreu muito quando perdeu os pais, tudo o que aconteceu, também o afetou de certa maneira.

Um acontecimento, se desvencilhou em outros e tudo foi formando uma avalanche de problemas insustentáveis de carregar. Fui fraco por fugir, mas sei que foi o melhor a se fazer, pelo menos naquele momento.

— Não quero mais falar disso! — digo levantando-me da mesa levando meu prato até a pia.

— É sempre assim, fugir é a saída para você!

— O que foi, Dimas? O jeito, que está agido nos últimos dias, até parece que não quer mais continuar levando essa vida?

— Já está sabendo como será o sorteio? — pergunta mudando de assunto.

A conversa dali para frente, foi apenas sobre rodeio.

Ao anoitecer, me troco e seguimos para o local que combinou com as gatas, era um bar mais afastado da cidade, mas muito movimentado.

Quando fomos atravessar a rua, vejo um carro em alta velocidade vindo em nossa direção, sem muito tempo, empurro Dimas para o lado. Sinto meu corpo sendo arremessado por cima do veículo e caio no chão bruscamente.

O carro foge em alta velocidade, sem prestar socorro, fico zonzo, com a vista turva. Apenas noto uma grande movimentação se formando em volta do meu corpo e consequentemente a voz de uma mulher gritando.

— Se afastem! Por favor, se afastem!

Sinto a sua presença ao meu lado, foco a visão para tentar vê-la e parece até um anjo, branca com sardas que lhe dão um charme, cabelos longos ruivos e o seu olhar acredito que seja esverdeado parecendo duas esmeraldas.

— Fique calmo, sou médica e vou te ajudar? Pode me ouvir? — pergunta docemente.

Antes que pudesse responder, sou consumido por uma escuridão.

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