Capítulo 5

Bruna…

Sou Bruna Carter, 25 anos, recém-formada em veterinária.

Sou uma mulher inteligente, extrovertida e me considero forte e determinada, mas também muito vulnerável na minha vida sentimental.

Vou contar um pouco da minha história e o motivo de ter forças para levantar todos os dias da minha cama.

Desde a época da escola, sou completamente apaixonada por Danilo, no entanto, nunca me olhou com outros olhos. Na escola sempre fui uma menina tímida e reservada, sofria bullyng por ser gordinha, e o mesmo nunca me olhou. Nunca me importei com os apelidos, até que isso começou a interferir na minha relação com Danilo. Ele se aproximou, ficamos amigos, contudo, longe dos outros me tratava bem, mas perto de colegas da escola, fingia não me conhecer.

Num determinado dia, fui convidada para uma festa de roda de viola, apenas aceitei ir, por saber que Danilo estaria também. Confesso que foi a pior noite da minha vida, todos de menor, bebiam sem limites, alguns mexiam com drogas, uma das nossas colegas brigou por um garoto, aquilo não era para mim. Quando decido ir embora, Danilo impede e me convida para irmos até um lugar mais tranquilo. Vamos até um dos quartos, ficamos conversando e rola um beijo, iludida e com tantas coisas acontecendo com meu corpo, decido me entregar. Deixo que ele tire a minha virgindade. Não foi ruim, foi estranho e teve consequências.

Logo que gozou, nem se importou se eu estava bem, apenas mandou eu me vestir e me levou para casa. Deixou claro que eu nunca poderia contar o que aconteceu a ninguém e que nunca mais isso voltaria a acontecer. O que era para ser a mais bela noite, se tornou a minha primeira decepção. Quando o questionei por qual motivo estava falando comigo daquele jeito, me tratando como se fosse uma qualquer, disse que nunca poderia ficar com uma garota gorda como eu, que tudo não passou de momento. Meu coração despedaçou-se com tais palavras.

Não tinha nenhuma experiência, mesmo usando camisinha engravidei.

Quando soube da gravidez, eu e minha mãe ficamos em pânico, era uma adolescente inexperiente, mas em nenhum momento passou por minha cabeça fazer um aborto, nem minha mãe aceitaria tal coisa. Já estava separada do meu pai e contar para ele foi muito difícil, mesmo inconformado me chamando de irresponsável aceitou a gestação. Não o julgo, pois tinha apenas dezesseis anos quando engravidei, imagino como deve ter pensado em meu futuro, no que eu perderia dali em diante, mas hoje é um grande avô, diariamente liga para saber como Zoe está, sempre que pode a visita e minha filha o ama muito.

Como o esperado, Danilo não reagiu bem ao saber da gravidez, insistiu para abortar, mas me mantive firme no que eu queria, por mais que a criança ainda estava se formando, não deixava de ser uma criança, um ser humano. Ainda fui obrigada por ele, a fazer exame de DNA, não acreditava ser dele, por termos usado camisinha, porém nem se atentou em olhar se a camisinha havia furado. Quando seus pais souberam, insistiram num casamento, que meu pai não permitiu. Por mais que eu o amasse, os conselhos de meus pais eram verídicos. Me casaria apenas para sofrer e fazê-lo sofrer, pois nunca me amou da mesma forma que eu, ainda me odiaria pelo resto da vida. Levei a gestação em frente, com a ajuda da minha família, não foi fácil, pois Danilo sempre me deixava para baixo com palavras que feriam mais que tapas. Contudo, como disse, sou vulnerável na minha vida sentimental e toda vez que ele queria transar me entregava a ele e assim foi a gestação toda.

Não nos casamos e quando minha pequena Zoe nasceu, Danilo foi embora com a comitiva de rodeio da Austrália.

Depois disso, desenvolvi um medo de engordar novamente e faço regimes para não voltar a ter aquele corpo. Toda vez que olho no espelho, não encontro nenhuma beleza em mim.

Os anos se passaram, Danilo viu Zoe apenas cinco vezes, ainda porque eu a levei na casa de seus pais, quando veio os visitar. Ela não diz nada, mas sei que sente falta da presença paterna. Meu irmão Luis Henrique, cuida dela, às vezes brinca, mesmo tendo aquele jeito bruto dele, demonstra seu amor, porém não é o suficiente, ela sente falta da presença do pai. Se tornou uma menina muito calada, gosta de ficar apenas em casa, não é como nós que ama o campo e os cavalos, diz que quando crescer, vai embora desse lugar assim como seu avô.

Dói muito suas palavras e me sinto culpada, mas minha mãe diz que eu fiz muito por ela, e que no momento certo, vai perceber isso, a qual é apenas uma fase.

Com a ajuda e apoio da minha mãe e irmão, consegui fazer a faculdade e amo a profissão que escolhi. Tenho uma vocação, que vem de dentro, não há nada mais gratificante do que poder salvar um animal. Cada socorro prestado, a cada criação salva com a minha ajuda, faz com que a carreira que escolhi, tenha um significado.

Meu irmão Luis Henrique, quem cuida de tudo por aqui e eu o ajudo. Faço trabalhos aqui e nas fazendas vizinhas, o que ganho dá para manter eu e Zoe e inda guardo um pouco.

Nós dois, somos uma excelente dupla, quando se trata de trabalho, meu irmão diz, que os animais são puros e inocentes, que o ser humano é cheio de maldade em seu coração; por isso, ama e cuida dos animais.

Após o almoço tenso de hoje, fico com Zoe na sala assistindo a um desenho. Ela acaba pegando no sono, minha mãe entra na sala e ficamos conversando. Está cada dia mais preocupada com meu irmão.

Vou até o haras, sei que esse horário Luis Henrique, fica cuidando dos cavalos.

Uma das filhas dos peões, está treinando para a prova dos tambores, quando for o rodeio. Subo no cercado e fico olhando ela treinar.

— Devia participar! — diz Luis Henrique, me assustando.

— O quê?

— Acho que deveria treinar e participar da prova dos tambores! Sempre sonhou…

— Mas esse sonho acabou! Não tenho mais idade para isso!

— Idade? Está falando como se tivesse noventa anos! Ainda tem muito o que viver, Bruna… é jovem, bonita, inteligente! Zoe já não é mais um bebê…

— Também vai viver os seus sonhos, Rick?

Ele nada responde, vira as costas e saí.

— É assim? Vai fugir de novo do assunto? — pergunto indo atrás dele.

— É diferente!

— Não tem nada de diferente! Você se privou do mundo por uma decepção e agora…

— Não foi uma decepção, Bruna! O que aconteceu, desencadeou várias perdas, vários sofrimentos! Nunca mais quero passar por isso! Já é tarde demais!

— Já passa por isso todos os dias! Não percebe isso?

— Não quero e não vou mais falar sobre isso! Eu me nego!

— Está bem, mas precisa aprender a perdoar! Quando procurar ajuda, tudo vai melhorar! Desde aquela época…

— Eu não preciso de ajuda, entendeu? Eu escolhi me fechar, eu optei por estar só!

Ele sobe em seu cavalo e segue para o campo. Já não sei mais o que fazer para ajudá-lo.

Volto para a fazenda, muito triste. Nossa vida é um caos instável, desde que aquela maldita entrou na vida dos meus irmãos.

( créditos imagem )

Zoe, acabou de completar nove anos.

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