O porão

Mari entra em casa, estava ainda se acostumando com o clima do Brasil, o que lhe causou uma gripe, estava um pouco febril e cansada, mas precisava abrir as demais caixas, então pegou as demais e começou a olhar cada objeto, encontrou as armas de seu pai e escondeu em pontos estratégicos, como ele mesmo havia lhe ensinado.

***Narrado por Mari ***

Eu poderia ouvir a voz de meu pai, ensinando as coisas, onde esconder as armas, como fazer um curativo emergencial, minha mãe balançando a cabeça e ficando brava com ele, como sinto falta de cada uma dessas coisas, quando será que essa dor irá passar?

Pego uma posta e nela tinha uma ficha com o nome Beatriz Torres, mas como não tinha certeza do sobrenome precisava dar um jeito de saber.

— Vou ter que ir lá verificar isso.

Para ter certeza que não estariam em casa, precisava falar com a dona Lúcia, ela era a única que sabia da rotina da casa. O jeito era ir lá perguntar pessoalmente, então peguei uma blusa e fui até lá, por sorte acabava de chegar.

— Mari? Você está melhor?

— Só um pouco resfriada, mas bem, dona Lúcia preciso preguntar algo, sabe me dizer como é os horários de minha tia, porque preciso buscar minhas coisas.

— Pretende ir até lá?

— Talvez.

Conversamos por algum tempo e ela me passou mais ou menos como funcionava na casa, saí de lá, voltei em casa e peguei minha arma, conferi o pente e desci a rua, eram quase 19 h, precisava chegar com tempo para descobrir uma forma de entrar.

Perto do condomínio tinha uma praça que sentei e fiquei alguns minutos observando, até que uma caminhonete parou, o homem parece que tinha ido pedir autorização, então rapidamente entrei na caçamba e ne escondi embaixo da lona.

Foi arriscado, não tinha outro jeito, ele parou, mas escutei o tocar da campainha, desci rapidamente e caminhei até a casa de minha tia que parecia não ter ninguém, dei a volta e como pensei a porta da cozinha estava encostada, peguei minha pistola e entrei devagar.

As luzes apagadas, caminhei até os quartos e consegui encontrar uns documentos, realmente o sobrenome “Cardoso” é o dela, pelo visto minha mãe não queria nenhum vínculo com o passado.

Tudo era limpo e organizado demais, aproveitei e peguei umas roupas, desci as escadas e percebi uma porta que deveria ser do porão, abri e tinha uma luz acessa, desci com cuidado e assim que pude ver o espaço, tinha algumas cordas na parede e numa delas uma menina de no máximo 12 anos.

— Moça, por favor, deixa eu ir embora?

— Oh my God (oh meu Deus), por que está aqui? Quem é você?

— Me chamo Rebeca, um homem que pegou a força no parque.

— Espera, vou dar um jeito de te soltar, mas fica calada ok?

Pedi que ela se virasse e consegui desamarrar, estava suja e aparentemente com fome, olha a gente precisa sair daqui em silêncio, você vai correr até a portaria e pedir para chamarem a polícia, tudo bem?

— Tá bom, mas e você?

— Eu dou um jeito de sair, agora vamos, fique atrás de mim, tá?

Começamos a subir as escadas e logo escutamos o barulho da porta, a voz não era de Fred, senti um frio na barriga, peguei a pistola e engatilhei apontando para a porta.

Mas ela se abriu, um homem mal-encarado se assustou ao me ver, ele tinha uma arma em mãos, antes que ele atirasse, puxei o gatilho, mas ele fez o mesmo me acertando no ombro de raspão, atirei novamente e acertei seu peito.

— Filha da puta, olha o que fez?

Subimos correndo e ele viu a garotinha comigo e arregalou os olhos, tentou se levantar, mas pisei sobre seu peito o fazendo gritar de dor.

— Porque ela estava no seu porão, seu desgraçado?

Ele cuspia sangue e, ao mesmo tempo, debochava, olhei para os lados e não vi minha tia, forcei novamente, mas ele se recusava a falar.

— Rebeca, foi ele quem trouxe você?

— Sim. Mas tem outro tio que é mal.

— O que eles fizeram? Ele tocou em você?

Ela apenas balançou a cabeça e começou a chorar, meu sangue ferveu de ódio, então pedi que ela saísse e fizesse o que pedi e o homem riu.

— Polícia? Kkkkk que idiota, vai lá, chama a polícia, piranha.

Peguei minha arma e coloquei sobre seu membro, ele continuou a rir, dizendo que eu não teria coragem, depois ainda completou.

— O Fred comentou de você, sorte sua ter ficado tão pouco, adoraria ter comigo essa tua bucetinha americana rsrsrs, cadela.

— Quero ver rir depois disso, seu son of a bitch (filho da puta).

Atirei a queima-roupa, ele deu um grito e logo escutei a voz da minha tia, estava tentando abrir a porta, engatilhei mais uma vez e atirei na cabeça de Fred. Sai correndo, apoiando o braço que sangrava.

Pessoas começavam a se aglomerar na porta, logo o segurança do condomínio apareceu, mas Rebeca não estava com eles, caminhei depressa, a vi na guarita, coloquei minha touca e no mesmo instante a polícia chegava e aproveitei o tumulto para ir embora.

Após alguns minutos eu tremia, não acreditava que tinha feito aquilo, precisei me sentar por alguns minutos, retirei minha blusa e a camiseta estava encharcada de sangue.

— Que merda, como vou embora agora?

Cada ensinamento do meu pai veio a minha mente, retirei minha camiseta ali mesmo, como o local era sem muito movimento consegui sem chamar a atenção, abri o moletom, rasguei um pedaço da camiseta e coloquei sobre o ferimento.

Vi um táxi e dei o sinal, o homem ficava olhando pelo retrovisor, mas eu mantive a cabeça abaixada. Como sabia que os táxis não entravam na comunidade, pedi que parasse próximo.

Assim que desci do carro, caminhei bem rápido passando pelos homens armados de Chupim que ficavam na entrada da comunidade, torcendo para que nenhum deles visse que estava ferida.

Por mais que eu confiasse na dona Lúcia, não poderia justificar o que teria acontecido, então o jeito era me virar sozinha e usar todo conhecimento que meu pai me deu durante os anos que me ensinou táticas de defesa e sobrevivência.

Entrei em casa, e a dor que sentia era fora do normal, respirei fundo, e pedi para que meus pais olhassem por mim e me dessem força.

Entrei no chuveiro, retirei aquelas roupas que certamente iriam para o lixo…

— Ahh, what a pain, my God, dad please help me, what do I do? (Ahhhh que dor meu Deus, pai me ajuda o que faço?)

Dados: https://www2.oabrs.org.br/noticia/cada-24-horas-320-criancas-sao-abusadas-audiencia-publica-ndash-prevencao-e-combate-pedofilia-oabrs-/27290

A cada 24 horas, 320 crianças são abusadas: Audiência Pública – Prevenção e Combate à Pedofilia da OAB/RS quer pôr fim à violência infantil

No dia 9 de março, uma menina de 7 anos caminhava sozinha em direção à sua escola, quando, no meio do caminho, o motorista de um carro a convence a entrar no veículo. Dias depois, não mais vista desde então, intensas buscas foram realizadas, até que a triste notícia veio: a menina Naiara Soares Gomes havia sido encontrada morta, com sinais de estupro, na região da represa do faxinal nos arredores de Caxias do Sul. O crime comoveu o Rio Grande do Sul. A história de Naiara aumenta o índice de violência infantil em um país onde, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são vítimas de abuso, segundo a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Do total de estupros no território brasileiro, 70% são contra essa parcela da população.

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Comments

Carmilurdes Gadelha

Carmilurdes Gadelha

É triste essas histórias 😢

2024-05-03

0

Sandra Busnello

Sandra Busnello

Sim a minha amiga Vanderlice(policial cívil), que conseguiu prender o desgracado, moro em Caxias do Sul RS

2024-05-03

9

Wilma Lima dos Santos

Wilma Lima dos Santos

estou amando cada capítulo 👏💖💖💖

2024-04-05

0

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Atualizado até capítulo 56

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