Capítulo Dezenove

Abraham — Kaity Brown. Não imaginava ver você aqui essa noite. Sente-se.

Kaity apontou a arma para ele. O homem não se moveu.

Abraham — Ora, antes de puxar o gatilho, vamos conversar. Quero saber o que fez. Como chegou até aqui.

Kaity — Matei o Oligarca russo...

Abraham — Dimitri? Mas ele estava com você?

Kaity — O seu filho o levou até mim para me estuprar... De novo.

Abraham — Jesus! Eu sinto muito... Não sabia. Fez bem...

Kaity estava furiosa com o modo como Abraham a estava a tratar.

Kaity — Não se faça de cínico. Com certeza o senhor sabia disso.

Abraham — Sou muitas coisas. Chefe de uma organização criminosa. Mandante de assassinatos. Seu marido foi um dos meus alvos. Não por que merecesse, mas pelo simples fato de eu agir com a razão. Ele era um risco. Mas não sou mentiroso.

Kaity — Não fale do Jean como se o conhecesse.

Abraham — De fato eu não o conhecia. Mas conheço os homens. Ele certamente quando saísse dessa casa acionária a polícia.

Kaity — De fato. Ele faria...

Abraham — Viu? A minha visão ainda está certa. Então Kaity, eu não sabia do Dimitri. Lamento.

Kaity — Dane-se. Eu não dou a mínima para sua lamentação. O seu filho é um monstro. Ou era…

Abraham permaneceu sério no seu semblante, sem demonstrar nenhuma emoção.

Abraham — Também atirou no Brian?

A moça assentiu com a cabeça.

Kaity — Foram sete tiros se não me engano. Penso que está morto.

Abraham — Bom, se isso aconteceu ele é quem foi descuidado. Aplaudo a sua coragem, Kaity.

Kaity riu... Não acreditava no que estava ouvindo. Como um pai poderia reagir dessa forma com uma notícia dessas?

Kaity — Ele era o seu filho. Não sente nada? É um psicopata?

Abraham sorriu.

Abraham — Óbvio que sinto. Ele era o meu único filho. Mas era um idiota. Sinto raiva de você por ter me tirado isso, mas também orgulho-me. Eu mesmo queria ter feito isso, mas infelizmente não pude.

Kaity não sabia o que responder.

Abraham — Certo, mas feito tudo isso, o que pretende fazer agora?

Kaity — Matar o senhor...

Abraham — Ok, mas como isso lhe ajudaria? Deixe eu elucidar as coisas um pouco.

O homem então se levantou e acendeu um charuto. Com um gesto calmo pediu que a garota sentasse. Ela prontamente atendeu o seu pedido.

Abraham — Dimitri era chefe de uma organização criminosa russa... Um dos homens mais poderosos que eu conheci. Certamente você e o seu filho seriam caçados.

Kaity continuou a ouvir. Isso parecia fazer algum sentido. De alguma maneira os sentidos de Kaity estavam a retornar ao corpo.

Abraham — Além disso, se me matar, como pretende sair dessa casa com o Adam? Os meus homens a essa altura ja sabem do ocorrido. Seriam mortos antes que pudesse dizer... pizza.

Kaity — Não pretendo sair viva...

Abraham — Mas o Adam? Pensei que vivesse por ele.

Kaity — E vivo...

Abraham — Então... Parece que não tem um plano real e concreto. Dito isto, gostaria de fazer uma última proposta.

Kaity — Estou ouvindo...

O homem então se sentou e juntou a ponta dos dedos.

Abraham — Trabalhe para mim. Eu sou o único que pode garantir a sua proteção.

Kaity — Ficou louco?

Abraham — Claro que não. Eu desde o momento que a vi percebi que é uma mulher forte. Tenho o cargo perfeito para você. CEO do Private Bank.

A garota ficou muda. O seu semblante era de terror.

Abraham — Pode fazer tudo o que Jean faria. Exceto algumas mudanças que eu irei executar. Mas tem talento para isso.

O homem então continuou.

Abraham — Sobre Dimitri e Brian eu posso alegar que ambos tiveram uma discussão. Acabaram se matando por alguma motivação torpe. É fácil.

Kaity — E a sua esposa?

Abraham — Conhecera a mesma verdade que os demais. Sou um homem prático, Kaity.

Kaity — E se eu aceitar, o que vai acontecer comigo e com o meu filho?

Abraham — Ficarão no Brasil. Ricos. Sem preocupações. Claro, desde que continue leal a mim. Se manter na corda é fácil e só tem a ganhar com isso.

Kaity estava pensativa. O homem não era de confiança.

Kaity — O senhor disse que eu e Jean iríamos embora, mas mudou de ideia. Como posso confiar?

Abraham — O que eu tenho a temer? Jean iria me prejudicar, mas você... O que tem contra mim? Eu iria esmagar você facilmente. Não há nenhuma garantia. Apenas a minha palavra.

Kaity — Está bem. Eu aceito.

A garota então colocou a arma sobre a mesa. Abraham a pegou e tirou as balas que ainda restavam no pente. Ele pegou o telefone e ligou para Francesco que apareceu em minutos.

Francesco — Milorde, o seu filho foi levado para o hospital. O russo está morto.

Abraham levantou-se e olhou para a janela.

Abraham — Está bem. Acompanhe Brian, por favor. Também quero que avise Analisee, mas apenas amanha cedo.

Francesco — Certo. E quanto a garota?

Abraham — Procure outro quarto para Kaity. Leve o seu filho para junto dela. Temos um acordo.

Abraham então foi até a garota e apertou sua mão olhando dentro dos seus olhos.

Kaity então olhou para Francesco. Ela sabia que ele deixara a arma no seu quarto, mas porquê?

Francesco — Venha senhorita. Irei a levar-la até o seu filho.

Eles então foram até o quarto onde Adam estava. No caminho Kaity quis perguntar ao homem por que ele tinha a ajudado, mas tinha medo de que se metesse em confusão.

Kaity — Obrigada, Francesco. Por tudo.

Francesco abriu a porta e antes de fechar, olhou para Kaity.

Francesco — Não me agradeça ainda, Kaity. Temos muito trabalho pela frente.

Logo em seguida ele fechou a porta por fora e Kaity viu Adam dormindo numa enorme cama de casal. A garota se viu no espelho e estava cheia de sangue. Foi até o banheiro e tomou um bom banho.

Durante aquele momento ela só poderia pensar numa coisa. A vingança contra a família Ashford estava apenas começando. E era muito mais fácil destruir Abraham e Analisee por dentro, mantendo Adam seguro, do que de modo irresponsável.

Ela vingaria Jean. Vingaria Sueli. Vingaria Evellyn. Vingaria Flora. Todos aqueles que foram prejudicados por essa mafia seriam vingados. Kaity não era mais a ovelha, agora também era um lobo.

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