Capítulo Seis

Brian ficou pensativo a respeito do conselho que Francesco havia-lhe dado. De qualquer forma isso teria que ser melhor arquitetado, afinal os três estavam no Brasil, bem longe das suas mãos.

Na manhã seguinte Brian desceu bem cedo para tomar o seu café, mas percebeu que a mesa não estava posta. Procurou por alguém e encontrou Francesco no jardim orientando os jardineiros.

Brian — Ei! Escuta... Não tem café da manhã hoje? Estão racionando comida?

Francesco se afastou dos funcionários com um olhar penetrante, e, ao mesmo tempo debochado.

Francesco — Não há nenhum racionamento de comida nesta casa, senhor. O seu pai não está. Portanto não existe necessidade de aprontamos a mesa. Caso queira algo para comer esteja a vontade para pedir as cozinheiras.

Brian encarou ele bem nos olhos, mas engoliu seco a sua vontade de responder.

Brian — Onde está o meu pai?

Francesco — Lorde Abraham viajou essa manhã para a Inglaterra. Tinha negócios a resolver com o duque de Edimburgo.

Brian — Parece que ele é mais político do que os próprios políticos. Quando ele volta?

Francesco — Acredito que em dois dias. Se precisar de algo estou aqui. Ah! Senhor, antes de ir, poderia ajudar-me com uma dúvida?

Brian — O que quer?

Francesco — Apenas uma confirmação, nada mais. O senhor Joel Schneider está em qual presídio?

Brian ficou pensativo. Qual relevância tinha isso para o assunto? Além disso, Francesco sabia de absolutamente tudo antes de todos. Seria um teste?

Brian — Soube que está em Franco da Rocha. Mas por que você se importa?

Francesco — Não é nada. Apenas uma confirmação como eu havia-lhe dito. Bom, irei cuidar dos meus afazeres. Lembre-se se precisar de algo me procure.

Francesco então voltou a desempenhar as suas atividades de rotina e Brian foi até a cozinha pedir algo para as cozinheiras. Estava faminto.

As mulheres prepararam panquecas com mel, ovos mexidos e bacon frito em tiras. Também espremeram laranjas frescas com um toque de limão siciliano que deixam o suco de Brian perfeito.

Ele então foi até o escritório do pai tentar encontrar alguma informação relevante, afinal, o seu pai deveria guardar muitos segredos importantes que poderiam ser usados como trunfo em ocasião futura.

Quando ele começou a mexer nos papéis numa gaveta na mesa de madeira maciça, uma voz quebrou o silêncio e fez Brian perder a força nas suas pernas.

Francesco — Posso te ajudar com algo, senhor?

Brian — Maldito! Você me assustou. O que está fazendo aqui?

Francesco — Eu poderia perguntar a mesma coisa para você. Seu pai detestaria saber que você estava mexendo nas coisas dele.

Brian retorceu a boca e humedeceu os lábios. Estavam secos.

Brian — Eu procurava um papel que deixei aqui no dia em que cheguei. Coisa minha.

Francesco não pareceu acreditar. Tinha um sorriso malicioso no canto da boca.

Francesco — Certo. Achou? Se ainda não achou sugiro que pare de procurar. Quando o seu pai voltar o senhor pode perguntar se ele viu.

Brian — Certo, farei isso. Mas antes de sair, me tira uma dúvida. Como conheceu o meu pai?

Francesco — Curioso me perguntar isso depois de anos.

Brian — Bom, parece que você é o braço direito dele. Justo que eu também te conheça.

Francesco apertou os olhos e sorriu. Não acreditava na desculpa de Brian, mas acabou cedendo.

Francesco — Eu servia a outro senhor. Ele era membro da organização. Em dado momento ele tramou a queda do seu pai. Eu juntei provas e entreguei ele ao lorde Abraham.

Brian — Traiu o seu senhor?

Francesco — Sim, mas não trai a organização. Esse é o meu principal compromisso. Sou leal ao time. Bom, você deve imaginar o que o seu pai fez com ele quando soube.

Brian — Eu imagino. O corpo deve estar no fundo de algum rio... Mas enfim, então depois disso você veio para cá?

Francesco — Não de imediato. Mas seu pai confiou em mim e me trouxe para servi-lo. Desde então eu estou aqui. Ao lado do seu pai.

Brian sorriu. Como se tivesse ouvido uma piada. Um sorriso forçado que deixou Francesco sem graça.

Brian — Então isso significa que assassinou o seu patrão para servir ao patrão dele? Quem diria Francesco. Não imaginava isso de você.

Francesco — Senhor, acredito que deva imaginar que a vida dos outros seja um reflexo da sua própria, mas na realidade, há coisas que temos que fazer. Nem sempre prazerosas.

Brian — O que meu pai viu em você?

Neste instante o telefone tocou. Francesco atendeu e colocou o telefone do viva voz. Era um homem com voz de idoso e tossia bastante.

Francesco — Edgar? Há novidades?

Edgar — Serviço feito. O homem rico foi conhecer jesus de perto, ou melhor, ver se consegue passar por um buraco de agulha ou entrar no reino de Deus.

O Edgar deu uma gargalhada finalizada com uma tosse seca.

Francesco — Excelente. Obrigado Edgar. Lembre-se, o pagamento será feito como anteriormente. Descarte o celular. Se eu precisar de algo sei onde encontrar você.

Francesco então desligou. Parecia extremamente satisfeito com o teor da ligação.

Brian — Quem mataram?

Francesco — Joel Schneider. A sobrevida dele estava atrapalhando os planos da organização.

Brian parecia estarrecido com a notícia. Joel era um homem importante. Dono do maior banco da América latina. Mesmo preso ainda tinha influência.

Brian — Então é isso que faz? O trabalho sujo?

Francesco — Justamente. Isso responde a sua pergunta anterior. O seu pai sabe que todo pedido feito para mim, pode ser considerado feito. E quanto a você, pode dizer a mesma coisa?

Francesco então fez uma reverência e saiu. Brian ficou com a resposta entalada na garganta. Mas agora sabia que o homem era perigoso.

Agora entendia por que Abraham gostava de Francesco. Ele era um homem frio e calculista que não aparentava ser malvado ou algo do tipo. Isso o fazia o inimigo ou aliado perfeito. Depende da lealdade.

A morte de Joel Schneider era um alerta para Brian. Jean agora era dono do Private Bank. E Abraham queria as ações daquele banco. Como Brian faria para conseguir isso rápido?

O tempo estava contra ele.

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