Cap_10

Volteei em completo nojo, franzindo completamente o rosto no vômito que sinto subir pela garganta.

— Fique longe de mim. Não só você como esse homem que está me usando para chegar no seu objetivo. Vocês embrulham meu estômago.

O guarda que apoiava o meu braço soltou e ouvi uma batida de espada.

— Afaste-se! — Gritou.

O vento do golpe passou por minha bochecha e senti um rasgo na pele. Toquei no viscoso sangue que saiu, com as pontas dos dedos.

— Lady Elizabeth, está bem?! — Diz Théo preocupado.

— Estou melhor do que nunca. — Falei friamente.

Fui embora daquele lugar processando as palavras daquela mulher malvada. Utilizando todos em volta para fazer que saia como vilã, o pior é saber que não importa o quanto grite ou choro nenhum me apoiará.

Foi melhor ocorrer isso agora, pois estava começando a enxergar este lugar como lar. Havia esquecido todo o horror que Elizabeth fez durante a vida para tentar escapar de ser a sombra da meia irmã.

Esqueci que este mundo foi feito para ela ser feliz.

Depois de voltar para o quarto, comecei a bolar um plano para fugir. Darei um jeito de desaparecer, fingir minha morte e assim ir para bem longe de todos.

Passei a noite imaginando o que poderia fazer, em quem poderia confiar nesse lugar e como sair. Foi uma tremenda alegria ao abrir os olhos na manhã seguinte com o som da voz do velho que cuidou de mim.

O abracei chorando, feliz por estar vivo.

— Nunca mais faça algo tão perigoso novamente.

— Como machucou a bochecha? Por que não trataram a ferida? — Ele perguntou furioso.

— Ah, isso?! Não vamos falar disso, me diga como sobreviveu? O que está acontecendo? Ninguém responde minhas perguntas.

— O Duque, seu pai, declarou apoio ao segundo príncipe. O imperador furioso quis matar todos que seu pai ama.

— Não quero saber isso, quero saber se está morto?

— Se estiver morto, será mais feliz?

— Lógico! — Digo animada.

O senhor ficou em silêncio por um tempo, estranhei essa atitude e fiquei fazendo perguntas.

— Ele morreu? De verdade está morto? responda-me!

— Está. — Fala com a voz trêmula. — O mestre está morto.

Senti algo no peito, não era dor, não era alegria. Uma sensação estranha invadindo todo meu interior.

— Bom... Bom... — Digo incrédula.

— Que é essa reação?! — Entra no quarto a voz do príncipe herdeiro furioso. — Agora sente pena pelo seu pai morto?! Não tem o direito de ficar em luto!

— O que quer de mim?! nosso noivado acabou! — Grito descontando algo no peito que não sei o significado.

— Seu pai está morto! Morto, por você! Meu mestre faria tudo pra te proteger, até perder sua vida se isso a mantiver segura. Traiu a coroa para dar ao meu irmão por você! E tudo que tem a dizer que foi bom sua morte?

— Sofri em suas mãos, seu idiota!

— Não sofreu nas mãos deles! Sofreu por covardes que queriam o poder dele e usaram-te para o atormentar!

— Pois funcionou o plano deles!

— Funcionou muito bem! Somente uma bastarda faria seu próprio pai morrer em combate!

— CHEGA! — Grita o velho com o príncipe.

— Deveria ter morrido no lugar de sua mãe, tenho certeza que ela estaria decepcionada da filha que se tornou.

— Pro inferno, seu merda! Desgraçado! 🤬🤬🤬.

O príncipe foi retirado do quarto à força, proferindo palavras de baixo escalão. Retrucava gritando no mesmo palavreado, sendo segurada pelos braços do velho.

Acalmei depois de várias horas andando de um lado para o outro furiosa.

— Não afaste-os. Precisa de ambos os príncipes para sobreviver.

— Não preciso...

— Precisa de ambos se quiser sobreviver. Está luta é muito maior do que imagina, começou antes do seu nascimento e só vai terminar quando o atual imperador cair.

— Tudo isso por uma coroa inútil?! — Grito.

— Para você pode ser inútil, mas não é o mesmo para corte. Nós possuímos sangue legítimo enquanto o imperador tem sangue impuro. Sua mãe era a jóia do império com o poder imenso da purificação. O imperador nunca aceitou a rejeição da proposta em casamento. Se ardeu em inveja quando viu seu irmão se dar bem com ela. Por isso o Duque foi enviado para o norte, ninguém esperava que a jóia do império abandonasse o luxo para lhe seguir. Eles tentaram manchar sua reputação, tentaram sequestrar seu bebê, envenenar para sofrer aborto. Finalmente teve uma filha saudável, mas teve de fugir do castelo para evitar a morte da criança. Tem razão a duquesa que não morreu pela pobreza, morreu tentando fugir do marido. O Duque nunca se perdoou pelo sofrimento da mulher que ama. Oprimido pelas forças do seu irmão teve de deixar a filha nas mãos do inimigo e jurar lealdade, garantindo a segurança de todos. Evitou dar carinho e atenção, pois dessa forma sua filha seria poupada do castigo. Suas decisões fizeram você sofrer e odiar, mas ele nunca lhe culpou ou vai culpar, pois como pai está disposto a carregar todo o seu ódio, contudo vai te manter segura.

Permaneci em silêncio sem ter palavras para dizer.

— Continue odiando o duque, esse é o castigo por ter deixado seus inimigos lhe ferir. Peço que não afaste os príncipes, o imperador nunca ficará satisfeito com sua mesquinha vingança.

— O que querem que faça? — Pergunto de cabeça baixa.

— Ouça tudo que puder e mantenha -se longe de tudo.

Respiro fundo.

— Infelizmente não farei. Foi por ele ter se feito de cego que passei por várias torturas, se quero sobreviver tenho que proteger minha vida e é isso que farei.

— ELIZABETH, NÃO OUVIU O QUE DISSE!? O IMPERADOR VAI TE MATAR POR TER SIDO REJEITADO!

— Ele já o fez.

— Elizabeth. — Diz tristonho.

— Ele me matou com tudo que passei no castelo. Quando abri os olhos novamente numa segunda vida decidi que irei fazer diferente.

— Não pode lutar contra ele. — Fala com voz rouca. — Fique longe das suas vistas, imploro.

— Se pudesse ficaria, mas ambos sabemos que não é possível. Precisa me ajudar a conseguir proteger mesmo estando cega.

— O que está tramando?

— Me ensine a lutar.

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