Cap_9

— Veio tentar convencer. — Pergunto cheia de ódio.

— Ainda não conversamos sobre tudo que lhe aconteceu. Consegue entender o nosso noivado? — Senta na beirada da cama.

— Não sou burra.

— Ótimo. Pode fazer o que quiser, ir onde quiser e gastar tudo o que quiser, no entanto, viva sem causar problemas para mim e para a minha gente.

— Como queira.

— Não vou tocar-lhe, nosso casamento é apenas politicagem. Vamos nos separar, assim que conseguir o meu objetivo.

— O que vou ganhar com isso?

— Quer a sua liberdade? Darei o suficiente para não precisar trabalhar, casa, dinheiro e tudo o que comprar. Não vai ter que se preocupar com nada.

— Qual garantia tenho, vai cumprir com sua palavra?

— Na sua posição, somente terá de cumprir com os meus pedidos. Posso facilitar a sua vida ou torná -la pior, Lady Elizabeth não teste a minha paciência.

Deixando a sua ameaça, levantou-se pra fora do quarto. Tem toda a razão, sou uma prisioneira sem um lugar para voltar. Se quero viver, devo obedecer suas ordens, lutar vai piorar a minha situação.

Passo muito tempo dentro do quarto, sempre trazendo as refeições em diferentes horários. Modista a cada duas semanas vem tirar medidas para fazer vestidos novos, mas do que adianta se não consigo ver a beleza das peças.

Joias são fabricadas com exclusividade com as melhores gemas do reino, as empregadas sempre ficam deslumbradas com cada conjunto que o meu noivo traz.

Elas sabem que isso não me anima, por isso tentam o máximo elogiar para que o seu mestre não se irrite com a indiferença nos meus olhos sem luz.

Em pouco tempo, a maioria dos criados decorou seus nomes, conseguindo reconhecer as suas vozes. Os guardas que ficam na minha porta são bem cautelosos e fiéis ao seu mestre, gostam de comer às escondidas na madrugada.

Felipina é uma doce menina que sonha em casar com seu cavaleiro de armadura branca, sei que anda se encontrando com o lorde Hélio que está tendo um caso com a senhora Madalene.

As duas já saíram nos tapas pelo cafajeste, elas sempre desabafam sobre a outra enquanto arrumam meu cabelo.

O cozinheiro adora cozinhar minhas refeições. Ele se sente honrado por apreciar a sua comida e, já chegou criar novos pratos inspirados pelo sorriso que dou em casa garfada.

Também tenho pesquisado comidas medicinais para ajudar na minha recuperação. O médico é um velho gentil que chorou quando viu todas as cicatrizes no meu corpo magro.

Soube que brigou muito com o general, proibindo que sofresse qualquer outro tipo de punição física, também está vindo acompanhar meu processo de cura, ajudando com tônicos nutritivos.

Queria que minha vida fosse só com essas pessoas boas, todavia sempre ouço as risadas da minha irmã pelo corredor ou do lado de fora da janela do quarto.

Rindo chamando pelo meu noivo o tempo todo, faz o mesmo que fez com o príncipe herdeiro. As criadas que cuidam de mim, estão furiosas com essa atitude dela, sempre reclamam como está grudada no braço do general.

— Lady Elizabeth, deve fazer algo para afastar a sua irmã do seu noivo. — Diz Madalene furiosa.

— Você está dando conselhos?! Rã! Uma garota que vive traz do homem da sua colega de trabalho, não tem que dar palpite. — Sarcástica Felipina.

— Olha aqui a sua... — Interrompida Madalene.

— Não tenho interesse na vida privada dele, se quer uma amante que tenha. — Falo friamente.

As duas suspiram, deixando a brigas delas de lado para me ajudar ficar bonita.

— Não deveria fazer isso. — Penteando o cabelo Madalene.

— O mestre valoriza-te e muito. Duvido que coloque outra mulher nessa casa. — Apertando o espartilho.

— Que seja. — Respondo dando de ombros.

— Claro que ele te valoriza, todos os seus vestidos são deslumbrantes, não sabe o quanto fica bonita em todos eles. — Fala animada Felipina.

— Já disse que não quero usar nada extravagante.

— Sim, Lady Elizabeth. — Responde Felipina. — Mas, é uma pena. — Resmunga.

Hoje como em qualquer outro dia resolvi sair do quarto para tomar uma sesta ao ar livre. Tudo foi preparado pelos criados no jardim abandonado do leste.

O único lugar do palácio tranquilo onde me sinto à vontade. Gosto do cheiro das ervas daninhas, o silêncio, o canto dos pássaros e a grama alta. Quando estou nesse lugar sinto paz, apesar das damas que me acompanha são sempre muito barulhentas.

Dois cavaleiros e duas damas estão sempre do meu lado, não importa o que passe, estou começando a relaxar e esquecer que tudo isso é um livro do qual possui o corpo da protagonista.

— É ela... — Sussurrando algumas criadas do outro lado do palácio.

Não é todo o palácio que se agrada de mim, toda a vez que tenho de passar por uma área específica ouço os cochichos das criadas de outro setor.

Sinto o desprezo deles, mesmo que não consiga enxergar.

— Onde pensam que vão? — Chefe das criadas Berenize.

— Saia do caminho. — Guarda chefe Théo responsável pela segurança.

A mulher ri debochando.

— Tenho ordens de impedir a entrada de desconhecidos no jardim leste. — Fala arrogante.

O homem puxa a sua espada da bainha furioso.

— Entre no nosso caminho! — Ameaça.

Com medo ela se afasta.

— Vamos, Lady Elizabeth. — Pega minha mão guiando para o jardim.

Ao pisar no chão sinto a diferença no piso, no cheiro da grama cortada e terra molhada como o aumento da claridade.

— Algo está diferente. — Resmungo.

Todos estão agindo estranhos, ninguém fica quieto por mais de cinco segundos quando estão ao meu redor.

— Théo, diga-me o que está vendo. — Peço-lhe preocupada.

— Chama um homem que não é seu noivo pelo nome? — Fala uma voz cheia de raiva.

As criadas continuam caladas e percebo imediatamente do que se trata.

— Vamos embora! — Dou a volta para sair.

— Irmã, Por favor não vá. — Chama Angela.

Sabia que ela estava tendo um encontro com ele, porém ouvir chamar deixou-me furiosa.

— Quero que nos demos bem, não sabia das coisas que passou. Entendo o seu ódio por mim, mas o nosso pai não sabia o que passava. Ele te ama como se fosse sua própria filha, não, acho que te ama mais do que como uma filha. Ficaria feliz se descobrisse o amor nele.

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