O médico examinou-me, afastando-se da cama com outro homem. Naquele tempo, só pude esperar pelo pior, perdi a visão e agora terei de viver diariamente aterrorizada.
Não precisava ouvir a conversa deles para saber o que estava por vir. O choro foi meu único alívio, nessa angústia de viver.
Comecei a surtar com todas as coisas ruins que me aconteceram nas duas vidas. Meus pais, meu noivo, minha irmã, o trabalho, e a vida de Elizabeth, tudo num cubículo pequeno de carga enorme que se rompeu em pedaços com a última tragédia que poderia acontecer.
Após diversos diagnósticos, o homem parou de procurar por cura. Chorei todos os dias, alguns bons, outros ruins, a cada instante nessa escuridão meu sofrimento aumenta.
Preciso de ajuda para tudo nessa nova vida, imagina você crescer vendo o mundo brilhar, independente, mas tudo muda numa completa escuridão que lhe dá medo, precisando de todos o tempo inteiro.
Me tornei a minha pior versão, joguei comida fora, gritei com os empregados, se tornando insuportável. Toda essa raiva dentro de mim está afundando minha alma. Nem consigo ter esperança de que as coisas vão mudar, já não tenho empatia, estou morta.
Às vezes as empregadas me deixam perto da janela e posso sentir o sol nas bochechas, ouvir o canto dos pássaros e ouvir risadas, me pego sorrindo nesses momentos. Se perguntar: por que sorri? A minha resposta será: não sei.
Ouvir as pessoas felizes, me traz conforto, as suas histórias e os romances das empregadas traz luz na minha escuridão. Nem posso ler, adorava ler, mas nem consigo fazer...
Os dias passaram e o ódio foi diminuindo, meu trauma continua vivo, mas esses demônios que me atormentam são as únicas nessa escuridão. Se eles desaparecerem não verei mais nada e isso aterroriza-me.
Acostumar viver num completo caos trouxe-me outros benefícios, reconheço as vozes das pessoas que cuidam de mim, como também daqueles que vem verificar se realmente estou cega.
— Como está se sentindo hoje? — Voz de um homem mais velho.
— Não deveria vir, já lhe disse várias vezes que a sua vida estará em perigo. — Disse friamente.
— Realmente acredita que o Duque quer lhe matar? Tudo pode ter sido um mal-entendido. — O velho responde no mesmo tom de sempre.
— Pare de tentar enxergar algo bom naquele monstro. Não sabe as coisas terríveis que passei no castelo, mesmo quando pedi por ajuda, tudo que obtive foi suas costas. — Respondo amargamente mordendo os lábios com as terríveis lembranças da infância.
— Ele se vingou... — Pausa. — Sou testemunha que aqueles homens tiveram a pior das mortes.
— É daí? — Tento sair da cama sozinha, acabando em apoiar a mão no braço do senhor. — Não vai mudar nada do que tive de passar, não muda o fato de ter sido abandonada à própria sorte. Por que ele não me deixou com minha mãe? Mesmo na pobreza teria sido muito mais feliz ao lado dela.
— O Duque tem os seus motivos. — A voz está levemente fraca.
Outra pessoa entra no quarto pelos passos , sei que é o príncipe herdeiro.
— Realmente está cega? — Ele pergunta no tom soberbo.
— Por que está aqui vossa alteza? — Não sei para onde estou andando, mas quero me afastar desse desprezível.
— CUIDADO! — Grita o senhor que sempre vem me visitar pegando pela minha cintura. — ORDENE QUE AS EMPREGADAS TIRE TODO OBJETO PONTIAGUDO DO QUARTO!
Sinto estranha em ser cuidada dessa forma, nem sei o que devo dizer ou fazer. Minha atitude quieta processando o que dizer, faz o príncipe se irritar, questionando a minha integridade.
— Nem sequer consegue agradecer a pessoa que acaba de se machucar para lhe proteger? Você é uma besta de sangue fria!
O quarto virou uma bagunça do qual está fora das minhas mãos, pois as empregadas e o velho senhor começaram defender-me expulsando-o do quarto.
Ri da situação como há muito não ri. Esses pequenos gestos enchem o vazio que sinto. Meu riso contagiou o ambiente fazendo todos rirem juntos.
Ouvi os passos pesados dos guardas se aproximando, parando de rir. Sou criminosa que está sob a proteção do grande general para interrogatório, esses dias calmos fizeram esquecer do meu objetivo.
Paguei um preço alto para sair daquele castelo, minha visão foi o suficiente. Está na hora de partir, por isso aproveitei que estavam vindo novamente verificar meu estado emocional.
Quando entraram no quarto, sorri de canto, aliviada sem nenhum arrependimento. Teria feito tudo novamente para escapar da tragédia de ser a vilã da história de outra pessoa.
— Estava esperando por vocês. — Disse suavemente.
Os guardas pigarrearam sussurrando entre eles.
— Lady Elizabeth, temo não poder mais adiar seu julgamento. — Fala o general friamente.
Sorri, pois, era exatamente como esperava que conduzisse está situação.
— Do que está rindo? — Pergunta um cavaleiro que nunca ouvi a voz antes.
— Hã? Do que rio? — Tento pensar numa resposta. — Não tenho uma resposta pra dar.
— Temos que ir para o palácio imperial. — O general diz-me conduzindo para fora do quarto.
O velho senhor que está sempre de visita, toca minha mão, sinto o frio e as emoções no tremor das pontas dos dedos.
— Não se preocupem. Foi minha escolha ir ao tribunal, sabia o que iria acontecer. Por favor, não fiquem tristes, quero morrer. — Sorri o mais agradável que pude, ouvindo as silenciosas lágrimas batendo no assoalho do chão.
— Duque, por favor salve a Lady Elizabeth! — Grita a empregada que sempre penteia meu cabelo, me surpreendendo.
Todos começaram a implorar pela mesma coisa e o general puxou meu braço para fora dos gritos que imploram pela minha salvação.
Estou aquecida e o pouco que experimentei dessa vida foi o suficiente por tudo de ruim que passei. Fui a pessoa mais difícil de lidar esses dias, porém todos eles estavam chorando implorando por minha vida.
No caminho ouvi a voz de Angela e a sua mãe, imagino que meu pai esteja com elas e as expressões do meu rosto mudam completamente.
— Já que vou morrer de todas as formas, pode pelo menos deixar chutar o rosto deles? — Digo cheia de ressentimento.
Os guardas tentaram não rir, todavia dava para ouvir suas risadas.
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Atualizado até capítulo 88
Comments
Yasmin cardoso
nunca chorei tanto lendo uma história 😭😭😭😭😭😭😭😭😭
2024-11-28
0
New Biana
Comovente
2024-03-04
3
yui
o sofrimento dela nunca vai acabar?
2024-02-27
1