Kaity e Adam chegaram ao endereço que Jean havia dado. Era uma casa no interior de São Paulo. Ela não sabia de quem era a casa, mas parecia um lugar aconchegante.
A casa era muito bela. Uma construção colonial com duas grandes árvores na frente e plantas nos beirais e varanda.
Eles desceram do carro e Kaity tocou a campainha. Uma voz respondeu. Parecia uma mulher idosa. A voz perguntou quem era e Kaity disse que Jean a havia enviado.
A voz desligou. Alguns minutos depois uma senhora abriu o portão. Ela era idosa como a voz denunciará. Aparentava ter 80 anos, no mínimo. O seu cabelo era vermelho assim como o batom que ela usava na boca. As roupas floridas a deixavam ainda mais simpática.
Ela identificou-se como Flora.
Flora — Entre filha. Não veio até aqui ficar me olhando do lado de fora não é mesmo? Venha. Esse menino parece faminto.
Kaity então entrou. Segurou firme nas mãos do Adam e seguiram por um corredor cheio de plantas e ervas culinárias.
Atrás dela a mulher fechou o portão e a seguia dando as coordenadas de onde deveria entrar. Kaity acabou entrando em uma porta que deu acesso a uma sala. Lá tinha um jogo de sofás em couro. Uma mesa de centro feita de granito e vidro. Uma televisão grande em um painel branco. Havia um tapete florido no chão que ocupada todo o centro da sala.
Nas paredes quadros com fotografias de paisagens e um certificado de conclusão de um curso de direito em nome de Flora Mattos. Do teto pendia um lustre com forma de flores.
Flora — Sente-se meu bem. Devem estar famintos não é mesmo?
Kaity — O que é esse lugar?
Flora — Essa é a minha casa. Mas uma coisa de cada vez, não é mesmo?
Kaity — Quem é a senhora?
Flora — Eu sou alguém que sabe pelo que está passando meu bem. Por isso o Jean envia para cá todas as moças que sofrem nas mãos desses monstros. Mas falaremos mais sobre isso depois. Não na frente desse menino lindo. Qual o seu nome meu amor?
Adam — Eu sou Adam.
Flora — Adam? Mas que nome lindo. Está com fome querido? Eu fiz pães de queijo. Estão quentinhos. Quer?
Adam fez que sim com a cabeça.
Flora — Então venham. Vamos até a cozinha.
Eles então foram até a cozinha. Era agradável. Havia uma grande mesa com dez lugares. Nela já havia pães franceses, Sucos, iogurtes, frutas, queijos e os deliciosos pães de queijo que Flora tinha citado.
Flora — Sentem-se. Estou passando um café.
O coador era aquele de tecido. O cheiro do café inundava a cozinha. Era um lugar cheio de afeto.
Kaity — Obrigado dona Flora.
Flora — Apenas Flora, meu bem. Sou idosa e você não me faz bem algum em me lembrar disso me chamando dona ou senhora.
Kaity e Adam deliciaram-se com as coisas que Flora fez. A garota estava arrasada. Muito cansada de tudo. Os olhos estavam inchados de chorar e o corpo carregava as marcas das correntes e do abuso.
Quando terminaram Flora os levou ao quarto. Era um cômodo agradável. Haviam duas camas de solteiro. Os lençóis eram brancos e havia édredons dobrados deixados aos pés da cama. Uma televisão pequena, ar condicionado e uma cortina branca que tomava uma parede inteira. O cheio do quarto lembrava casa de vó.
Flora — Esse é o quarto de vocês. Há roupas no guarda-roupa. Ali naquela porta é o banheiro. Tomem um banho e descansem. Nos falamos depois. Esta bem?
Kaity então agradeceu. Flora os deixou. Ela deu um banho em Adam e o vestiu com roupas que tinham no guarda-roupas. Eram grandes para ele, mas ela dobrou as mangas e barra da calça. O garoto mal encostou na cama e dormiu.
Kaity tomou um banho. A água que caia do seu corpo estava suja. A sujeira do ambiente em que estava e sangue das feridas. Ela aproveitou para chorar mais. Quando terminou se vestiu e deitou ao lado de Adam. Não conseguiu dormir. A cabeça estava cheia de pensamentos.
Ela se lembrou de ligar para o Jean. Então pegou o celular que ele havia dado e discou o atalho um. A ligação foi atendida no primeiro toque.
Jean — Alô, Kaity? Esta tudo bem?
Kaity — Sim. Eu estou no endereço que você me passou. Quem é essa mulher?
Jean — Que ótimo. Ela vai ajudar com o que precisar. Não se preocupe com nada. Bom, eu preciso desligar. Nos falamos depois. Cuide-se.
A ligação então foi encerrada. Kaity se deu conta que Jean poderia estar em maus lençóis. E se descobrissem que ele havia soltado ela? O rapaz não havia protegido a garota, mas ajudou ela a fugir.
Kaity se levantou e foi até a cozinha. Flora já estava a preparar o almoço. Ela ouvia um som com uma música de MPB e cantarolava baixinho.
Flora — Ah Kaity, não dormiu nada, não é?
Kaity — Não. Estou sem sono. Avisei ao Jean que chegamos aqui. Tem problema?
Flora — É claro que não. Eu também já havia avisado. Acredito que queira informações não é mesmo?
Kaity — Sim, por favor. Que lugar é esse?
Flora — Bom, eu não menti. Essa é minha casa. Eu uso ela para acolhimento de pessoas abusadas e traumatizadas.
Kaity — Mas... Onde o Jean entra nessa história? O pai e avô dele fizeram isso.
Flora — O Jean é meu amigo. Conheci ele num grupo de apoio que conduzo. Ele procurou-me e disse saber de umas coisas. Eu disse que poderia ajudar e é o que eu estou fazendo há dois anos.
Kaity — Mas como isso funciona?
Flora — Meu bem. Eu acolho vocês. Já passei por isto. Leonel Schneider estuprou-me há muitos anos. Eu trabalhava no Private Bank na área jurídica e ele achou-se no direito de usar o meu corpo. Não tive coragem de falar nada para ninguém. Ele é um homem poderoso, e a época... Bem, era outra época.
Kaity — Eu sinto muito Flora.
Flora — E eu sinto por você também. Sei que eles fizeram crueldades com você. Jean enviou-me a gravação. Ele participa para gravar e expor essa quadrilha. Outra moça esteve aqui há algum tempo. Deve conhecê-la. Evellyn.
Kaity ficou em choque. Evellyn Gallant também havia sido estuprada? Mas Brian disse que ela ficou doente e desde então ela... Sumiu.
Kaity — E onde está ela?
Flora — Partiu. Disse que não queria ir em frente com as acusações. Tinha medo. Eu entendo ela. Ele também não permitiu que usássemos o vídeo como prova. Enfim, acabou indo embora e perdemos a oportunidade de pôr um fim a esses monstros.
Kaity — Tem a minha gravação?
Flora — Sim. Eu não assisti. Não vejo. É reviver um trauma. Mas serve como prova para condenar essas pessoas.
Kaity — Eles são homens poderosos. Não vão presos, flora. O meu chefe está envolvido e deixou claro que nada vai acontecer com ele.
Flora — Isso é mentira, meu bem. A lei é para todos. Claro que ela tem as suas falhas, mas no fim, rege a todos nós. Sou uma advogada expediente e já vi homens como Brian Ashford chorando no banco dos réus quando foram condenados.
Kaity — Eu não sei o que fazer. Tenho medo pelo meu filho.
Flora — Seria tola se não tivesse. Mas eles precisam pagar. Essa é uma oportunidade importante para colocarmos esses homens atrás das grades. Pense com cuidado. Não quero pressionar ou fazê-la pensar que precisar fazer o que não tem vontade. Eu vou aceitar qualquer que seja sua decisão.
Kaity então foi se deitar. O sono enfim chegou. Ela dormiu e quando acordou já era noite. Adam não estava no quarto. Ela se levantou agitada e correu até a sala onde ele estava assistindo televisão enquanto Flora fazia um croché.
Flora — Olá meu bem. Dormiu? Eu não quis acordá-la. Precisava descansar. O seu pequeno já almoçou. Ele está ótimo.
Adam — Oi mãe. Estou vendo desenho.
Kaity — Eu fiquei preocupada. Não o vi na cama.
Flora — Está com fome? Eu guardei o seu almoço que será agora jantar. Venha comigo até a cozinha. Eu esquento.
Flora e Kaity foram até a cozinha. Lá Kaity contou a Flora cada detalhe do que aconteceu desde que Adam ficou doente. Flora ficou chocada. Não acreditava que o mundo tinha tantas pessoas más a ponto de usar uma doença como porta de entrada para o mal.
Kaity — Flora, eu quero denunciar. Eu quero esses homens presos. Apodrecendo atrás das grades. Me ajuda?
Flora sorriu. Um sorriso cansado e esperançoso.
Flora — Mas é claro, filha. Vamos começar?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 21
Comments
Denise Gonçalves das Dores
Tomara que com essa denuncia, eles paguem por tudo que fez e as outras vítimas se pronunciem também. Sabemos que é difícil, mas necessário pra exterminar esses monstros.
2024-03-10
2
Lua Cheia
Isso mesmo Kaity, tem que denunciar
2024-01-02
1
Euza Lisboa
Às gravações são o suficiente junto com o testemunho dela. Tomara que Brian e sua corja peguem a pena máxima.
2023-12-29
1