Capítulo Doze

Kaity não conseguia acreditar que havia perdido a sua amiga. O corpo de Sueli foi levado pelo IML. Kaity teria que organizar tudo para o velório e enterro já que Sueli não tinha familiares próximos.

Ela ligou para o chefe para avisar que estaria ausente devido ao falecimento da melhor amiga.

Sueli era como uma mãe para Kaity. Gentil, doce e carinhoso. Mas acreditava que a parte mais difícil seria contar ao Adam. O garoto não iria receber essa notícia com facilidade.

Kaity foi até a escola do Adam buscá-lo. Quando chegou em casa precisou ter forças para contar ao garoto. Ela estava segurando as lágrimas para não desabar.

Kaity — Filho, a mamãe precisa falar algo com você.

Adam — Mãe, eu tinha aula de natação hoje. Que saco. Por que você me pegou na escola antes?

Kaity — Bom, sabe a tia Sueli?

Adam — O que tem ela?

Kaity — Ela foi encontrar o papai do céu. Por isso eu tive que lhe buscar.

Adam — Ela morreu?

Kaity — Sim, meu amor.

Kaity já estava chorando nesse momento.

Adam — Mas ela sentiu dor?

Kaity — Não amor, foi dormindo. Em paz.

Adam — E quando ela volta?

Um nó fechava a garganta de Kaity. Ela sabia que essa resposta era cruel mas era necessária.

Kaity — Não volta meu amor.

Adam — Ah, mas ela vai estar em boa companhia, não é mãe? O papai do céu. É o melhor amigo da gente.

Nesse momento Kaity apenas abraçou Adam e chorou. Ele abraçou a mãe com força.

No dia seguinte o corpo de Sueli foi liberado para enterro. Kaity fez o pagamento de um velório simples. Não tinha muita gente para ir. Apenas alguns vizinhos.

O velório durou seis horas. Logo seguiu para enterro. Kaity foi a primeira a jogar terra no caixão da sua melhor amiga. A ficha ainda não caíra.

O corpo foi enterrado no cemitério do Carmo. Sueli morreu e não deixou herdeiros. A sua casa ficou fechada e Kaity e Adam adotaram apenas o cachorro Buddy que não estava na casa da Sueli no momento da morte. Ela costumava deixar ele dormir com o Adam vez em quando.

Quando chegaram em casa Kaity sentiu uma sensação de tristeza. O seu celular corporativo em seguido tocou. Era seu chefe. Brian.

Kaity — Kaity Brown.

Brian — Kaity, tudo bem?

Kaity — Eu cheguei do velório agora. Não dá pra entender.

Brian — Sinto muito. Espero que fiquem bem. Amanhã eu preciso que esteja aqui bem cedo. Tenho alguns detalhes sobre um pedido que eu preciso acertar com você.

Kaity — Certo. Só preciso ajustar quem ficará com o Adam. Mas eu dou um jeito.

Brian — É claro que dará. Conto com você.

Kaity então desligou. Ela pensava que o seu chefe não era tão mau. Mas quando ele falava desse jeito, frio, ela sentia muito medo dele.

No dia seguinte Kaity conversou com a sua vizinha Lúcia se ela poderia pegar o Adam na perua. Pagaria um valor mensal pela ajuda. Ela então deixou o pequeno Adam na perua e foi trabalhar.

Chegando na sede da Red Tower ela subiu direto para a sala do Brian. Ele já estava lá. Sentado. Tomando o seu café com um jeito bem descontraído.

Brian — Bom dia! Kaity. Chegou cedo. Já tomou café?

Kaity — Bom dia. Já sim.

Brian — Excelente. Então vamos falar sobre o que eu gostaria de alinhar.

Kaity — Certo. Como posso ajudar?

Brian — Um investidor Russo vira para São Paulo na próxima semana. Dimitri Peskov. Ele é um dos nossos maiores investidores. O fundo que ele libera para a Red Tower é bilionário.

Kaity — Ual... Parece uma figura importante.

Brian — Não só parece. Ele é. Eu falei com ele sobre você e o excelente trabalho que vem fazendo. Ele gostou muito.

Kaity — Isso é incrível.

Brian — É sim. Ele me perguntou se poderia levar você para jantar. Eu disse que sim. Há problema?

Kaity — Bem, penso que não, mas o senhor deveria ter falado comigo antes não é?

Brian — Estou falando agora, Kaity.

Kaity — Bom, certo, penso que não tem problema. Eu vou sim. É um negócio importante.

Brian — É aí que entra. Ele não quer falar sobre negócios. É um jantar pessoal.

Kaity — Como é?

Brian — Exatamente. Não vejo problema. É solteira. Ele também. Além disso, você vai ajudar a companhia.

Kaity — Brian isso não faz o menor sentido. Eu sou solteira sim, mas isso não me coloca a venda. Tenho princípios. Se ele quiser que pague uma acompanhante.

Kaity estava muito irritada. Além dos papéis que assinou, agora teria que sair com investidores da empresa para garantir que continuem a ser doadores financeiros.

Brian havia mudado de semblante novamente. Agora aquele rosto frio e duro havia tomado conta do magnata.

Brian — Kaity Brown. Deixa eu te esclarecer uma coisa. É uma funcionária da minha empresa e, além disso eu salvei a vida do merdinha do seu filho. Isso não significa nada para você? Quando passou a ser uma ingrata de merda?

Kaity levou um choque. É como se as palavras do Brian socasse o seu rosto. Ela sentiu a boca amarga e o coração apertado.

Kaity — Eu não acredito que está falando assim comigo e jogando sua ajuda com a vida do meu filho na mesa. FICOU LOUCO?

Brian — ESCUTA! Não vou mais tolerar o jeito que fala comigo. Eu sou o seu chefe e você deve-me a vida do seu garoto. Eu gastei quase um milhão de reais com o seu menino.

Kaity — Eu disse ser emprestado. Eu vou te pagar.

Brian — Se eu cobrasse agora? Assinou promissórias. Eu poderia entrar com pedido de recuperação na justiça e tomaria tudo o que tem. Acabaria indo morar na rua com o seu filho e perderia a guarda dele.

Kaity — Brian...

Brian — Eu ainda pediria a guarda na justiça alegando que me afeiçoei ao garoto e que a mãe dele é uma corrupta. Sabe aqueles papéis? São outra arma que tenho contra você. Certamente seria presa por desvio de milhões para ‘offshores’.

Kaity estava prestes a desmaiar. As informações estavam confusas e ela não sabia mais o que dizer.

Kaity — Mas Brian... O que eu fiz para você?

Brian — Kaity, vamos resumir. Fará o que eu estou a dizer. Do contrário a sua vida acaba. Além de sair com o Dimitri vai jantar com ele, e caso ele queira fazer sexo, vai deixar e agradá-lo. Está entendendo?

Kaity — Brian... E-e-e-eu... O que você disse?

Brian — Simples não é? Bom, agora eu tenho que sair para uma reunião. Pode ir para a sua sala. Eu falo com você assim que ele chegar.

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