Capítulo 19

Felipe

        Os raios solares atingiram meus olhos, o incômodo da luz me fez acordar e olhar aquele quarto grande e uma cama espaçosa, me virei para o lado e me deparo com Pedro dormindo comigo. Ontem deitamos um do lado do outro e algumas coisas foram claras, sei que parecia estranho, entretanto era necessário abrir todo o nosso coração.

        Pedro era meu irmão, e vou amá-lo para sempre e nada um dia vai mudar isso. Antes de irmos dormir, o meu melhor amigo entrou no quarto, seus olhos estavam com lágrimas e então pediu para deitar comigo. Eu concordei e logo lhe abracei ali e por longos minutos o menino chorou em meus braços sem falar nada.

        Após chorar, seus olhos viraram para mim e então me contou que sua ex-namorada entrou em contato com ele. Segundo ele, Clarice queria saber sobre sua vida e também se um dia poderiam sair juntos, segundo meu amigo, a sua ex-namorada estava fazendo História na nossa universidade.

        Então me contou que teve gatilho com suas mensagens, principalmente depois de tudo que ele passou, a garota nunca chegou a procurar depois do término. Lembrou da noite anterior a nossa separação e o quanto Clarice estava estranha, então na manhã seguinte pegou o celular da namorada e viu as mensagens de Carla para ela sobre a traição.

        Foi a primeira vez que falou abertamente como descobriu sobre a traição e podia escutar a dor na sua voz. Contou-me que sua reação foi confrontá-la e a menina apenas disse que Carla estava para terminar comigo, que não me amava mais há algum tempo e se envolveu com o melhor amigo do primo dela. Foi quando sua namorada disse que todos iam se encontrar hoje na lanchonete e aproveitaria que estaria em casa fazendo um trabalho.

        Pedro foi na lanchonete no intuito de exigir que Carla terminasse logo comigo, também queria enfrentar os amigos por ser arrogante ao ponto de ignorar meus sentimentos. Me lembrei daquele dia, eu fui no centro para comprar uma aliança de namoro, tinha juntado dinheiro suficiente para enfim comprar uma aliança para Carla.

        Lembro que inventei uma desculpa para Carla de ter um trabalho para fazer, realmente tinha, então era meia verdade. Nem mesmo contei a Pedro, pois meu amigo ia contar a Clarice e provavelmente a garota contaria para sua melhor amiga.

        Meu amigo não esperava que eu fosse ver aquilo, como também achou que ele concordava com aquilo, mesmo tentando me dizer que não era verdade. Quando eu disse as palavras para ele, seu coração quebrou e sabia que não seria fácil me convencer em escutar sua versão.

        Naquela noite de sexta-feira, Pedro chorou implorando para nunca mais lhe afastar dele sem conversar e me disse que nunca mais conseguiria namorar Clarice, entretanto, com a aproximação de Isaac e mensagens de Clarice fez lembrar daquele dia, e me disse que nunca me faria se afastar de Isaac, no entanto, me pediu para não começar um romance quando o meu colega de casa ainda esteja namorando.

        Dormimos juntos e agora ali deitado sentindo sua respiração calma me faz refletir muito sobre, tudo e mostrar que não fui o único afetado. Ver meu amigo tão vulnerável me deixava triste, me culpo por não deixar que contasse sua versão. Contudo, eu também estava machucado e não tinha coragem de falar com nenhum deles, muito menos de ver aquelas pessoas, com ajuda da minha psicóloga entendi que a única errada na história era Carla, mesmo que todos tivessem escondido.

        Chamei meu amigo para levantar, pois íamos para a praia de Daniela com todos e precisávamos estar arrumados. Antes de sair do quarto, Pedro virou para mim e um lindo sorriso foi lançado para mim e um obrigado mudo saiu de seus lábios. Sorri de volta e fui me arrumar também, o quarto que estava era uma suíte e usei o banheiro do quarto para me arrumar.

        Encontramos nossos amigos na grande mesa que tinha no pátio, o café da manhã já estava servido e todos conversavam animados e principalmente sobre hoje. Combinamos de ir em dois carros, dessa vez Pedro iria com Isaac para Gabriela ir no seu lugar. Era por volta das oito horas da manhã que saímos da casa de Gabriela e fomos para a praia.

        Demorou cerca de vinte minutos para chegarmos, apesar do calor, ainda havia poucas pessoas ali. A paisagem era extremamente linda, principalmente as montanhas em frente da praia.

        A água era calma, limpa e de certa forma única, me sentia tão bem olhando aquele mar, não ficamos na primeira entrada, passamos pelas pedras que tinham na praia e ficamos em um local mais isolado. Eu e Isaac ficamos responsáveis por colocar os guardas-sóis, os outros ficaram responsáveis pelas cadeiras, a música e também a canga estendida no chão.

        Se acomodamos depois de 15 minutos, Pedro e meu Luan puxaram o Luan de Isaac e Cláudio para jogar futebol, Isaac e eu ficamos esperando o time perdedor. Pedro estava bem próximo de Isaac e dos seus amigos, até fazia piadas com ele, me senti feliz ver meu amigo bem.

        As meninas foram tirar umas fotos na beira da praia e deixando apenas eu e Isaac ali sentados, era o nosso silêncio observando as coisas. Queria saber o que Pedro falou com ele no uber, pois Isaac também tinha se apegado aos meus amigos e não via ele sendo amigo rápido de muitas pessoas.

        – Eu gosto do mar – falei olhando as pequenas ondas na beirada, eram as únicas.

        – Eu também – confessou e um sorriso foi me dado. – Eu gosto do azul do mar de como me acalma.

        – A mim também – sorri também para ele. – Quando estava sofrendo uma desilusão amorosa, eu ia para a beira da praia no Arroio e ficava olhando o mar e pensando sobre tudo.

        Isaac me olhava, não sabia se falava algo, entretanto seus olhos eram de compreensão e conforto. Sorri para ele, olhei para o mar e respirei fundo sentindo todo o aroma que a praia proporciona e soltei suavemente.

        – Foi por causa do mar que via meus olhos brilhar novamente, brilhar para uma vida que poderia ter – minha voz era suave e profunda. – Olhar a imensidão me fazia ter forças para continuar viver e perceber que o mundo é grande demais para sofrer em um mundo tão pequeno dentro da minha cabeça – senti suas mãos segurarem a minha e lhe olhei. – Hoje sei que o mar é algo que mais gosto.

        – Desculpa – saiu baixo e, ao mesmo tempo, incerto.

        – Quê?

        – Desculpa – disse novamente firme e olhando nos meus olhos. – Todo seu sofrimento foi por minha causa, eu lhe causei isso. Não sabe quantas noites perdi de sono me culpando por arruinar sua vida e principalmente ver sua mãe chorando sobre você não comer mais – vi seus olhos encherem de lágrimas. – Eu realmente peço desculpas, nunca tive a oportunidade de pedir e agora quero pedir, não por merecer seu perdão, mas por estar gostando de você.

        Lhe olhei surpreso e então sorri, com uma mão sequei as primeiras lágrimas que caiam do seu rosto e então lhe olhei no fundo dos olhos.

        – Eu não tenho o que te perdoar – seu rosto de surpresa pela minha frase me fez rir. – Pois não era comprometido com você, mas com Carla, você era apenas o terceiro elemento, algo que de alguma forma me fez ver quem realmente importa. – suspirei. – Eu realmente não lhe culpo, pois nesses últimos meses de tratamento, a psicóloga me mostrou que devo perdoar quem tinha um relacionamento comigo e Carla quem tinha. Mas se é para você ficar bem, lhe perdoo e também digo que estou gostando de você.

        Antes que pudesse falar algo, Pedro veio emburrado xingando meu amigo Luan, pelo que entendi foi o responsável por perder a partida. Isaac e eu levantamos e fomos jogar, perdemos também de seus amigos, ambos estavam orgulhosos por serem os melhores. Claro que depois eu e Pedro nos juntamos e acabamos com os dois que ficaram chocados com o instinto competitivo que eu e meu amigo tinha.

        A manhã passou rápido, tomamos banho de mar, dei um caldinho em Pedro que tentou fazer o mesmo, mas eu nadava mais rápido que aquele garoto. Em um determinado momento fizemos quem ia mais ao fundo sem cansar no nado, como um bom competidor que sou, fui mais longe, quando voltava, Isaac descansava com a respiração apressada.

        – Você nada muito bem – disse rindo quando me viu aproximando.

        – Sou cria do Arroio, lá tem que saber nadar, por causa daquele mar violento – digo rindo também.

        – Você poderia me ensinar, então, posso pagar – disse voltando devagar comigo.

        – Não precisa me pagar – joguei água nele. – Nem tudo é pagável, sabia?

        – Nem um momento disse como pagaria – recebi uma água na cara. – Quem chegar por último perde.

        Claro que o garoto perdeu e tirei sarro dele, apenas recebi uma língua de fora e meus amigos rindo da atitude de Isaac. Guardamos nossas coisas por volta de umas onze e meia, para irmos almoçar em Jurerê, segundo Gabriela apesar de caro, era um dos melhores restaurantes que tinha.

        Fizemos uma trilha de mais ou menos dez minutos que conectava as duas praias, mesmo assim andamos mais dez minutos até chegar no restaurante. Passamos por uma fortaleza, claro que tiramos fotos e aproveitamos para conhecer um pouco.

        O restaurante não era longe da fortaleza, era ao lado de uma das entradas para uma praia, sentamos na beira de praia mesmo. Os garçons juntaram as mesas e todos nós escolhemos algumas coisas para comer, foi um almoço repleto de risada e descontraído.

        Nesse meio tempo, aproveitei e liguei para meus pais mostrando o mar calmo da praia e também mostrei todos os nossos amigos que deram oi. Aproveitei, entrei no Instagram, postei umas fotos nos stories e também vi os marcados de meus amigos.

        Deu tempo de ver os do Isaac, uma era do mar, outra era nossa jogando, tirada por alguém do nosso grupo, outra é um vídeo de Cláudio, filmando nós dentro da água jogando uma água no outro e marcando nós. A foto tinha a seguinte legenda:

        “Esses dois são competidores, mas acredito que Felipe melhor que meu amigo”

        Dei uma risada com aquilo e mostrei ao Isaac que estava sentado ao meu lado, que riu também, disse que foi obrigado a compartilhar e dizer que era mentira de Cláudio. Me mostrou minha mãe respondendo os stories, dizendo que nunca me viu perder nada.

        Foi tempo suficiente para ver uma mensagem de Carla chegar, não li muita coisa, pois Isaac ficou desconfortável e retirou o celular. Conseguia ver sua irritação, ao ver o que estava escrito, também vi digitar rápido e de certa forma forte, como se estivesse com raiva.

        Depois disso o almoço foi tranquilo, conversamos um pouco mais sobre a tarde, descansamos antes de pegar o uber e ir para Canasvieiras. Iríamos ficar à tarde naquela praia antes de irmos jantar nos ingleses, também íamos no mercado comprar bebidas para fazer um Luau.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***