Felipe
Foram momentos difíceis para mim. Após aquele dia, não fui mais o mesmo. Exclui todas as minhas redes sociais e troquei de número, pois não queria mais usar celular. No entanto, meus pais queriam manter algum tipo de comunicação comigo, então acabei trocando de número para atender às necessidades deles. Eu me tornei como um robô, indo apenas da aula para casa. Meus amigos tentaram entrar em contato comigo diversas vezes ao longo dos meses, até começarem a desistir. O único que persistiu em buscar meu perdão foi o Pedro, que, assim como eu, enfrentou a depressão e se isolou do mundo.
As coisas só começaram a melhorar para mim cerca de três meses depois, quando comecei a fazer terapia e, principalmente, a tomar antidepressivos. Posso dizer que meu pai estava certo quando afirmou que não deveria namorar na adolescência, pois os sentimentos muitas vezes são mais intensos do que na vida adulta.
Carla ainda estava namorando aquele cara, e eu o conhecia melhor do que deveria, já que minha mãe era empregada da mãe dele. Isaac foi o único que não veio falar comigo, o que não me importou muito. Tive a sorte de não estar na mesma escola que ele, o que também evitou que eu visse aqueles traidores se envolvendo por aí. De certa forma, isso me ajudou bastante.
Agora, sentado no intervalo da escola, faltando apenas 2 meses para o fim das aulas e 1 mês para eu prestar vestibular na capital, já que os cursos que a Universidade Federal oferecia na minha cidade não eram o que eu queria, estava lendo o livro recomendado para o vestibular com o Luan, um amigo que fiz durante os meses de tristeza e infelicidade. Nossa amizade começou de forma silenciosa, eu chorando em um canto e ele ao meu lado, me oferecendo um lenço para enxugar as lágrimas.
Nenhuma palavra foi trocada entre nós durante duas semanas, até que finalmente perguntei por que ele sempre ficava ali comigo. A resposta que recebi foi simples: aquele era o lugar que ele gostava de sentar, e eu estava ocupando o seu lugar. Depois disso, ele vinha todos os dias para se sentar ao meu lado. No começo, não conversávamos muito, embora hoje sejamos os maiores conversadores que existem. Temos uma amizade sincera e, de certa forma, genuína.
– Em qual capítulo você está? – Perguntei, desligando meu Kindle, que mostrava a capa de "Senhora" de José de Alencar.
– Estou terminando a primeira parte do livro – ele disse, mantendo os olhos no livro. – E você?
– Terminei essa parte agora – peguei a garrafa de água ao meu lado. – Vou esperar você terminar para discutirmos juntos.
– Beleza.
Peguei meu celular e vi uma mensagem da minha mãe perguntando se eu tinha tomado o remédio. Respondi dizendo que era o dia de não tomar, já que o psiquiatra queria reduzir a medicação. Em seguida, respondi ao grupo com os meus irmãos. Eles estavam enviando memes engraçados, mas metade deles eu não entendia, talvez porque fossem de um nicho mais heterossexual do que eu estava acostumado. Não que eu seja o maior entusiasta de memes gays do mundo, mas são os que eu mais gosto. Mandei uma figurinha de risada para eles, sabendo que eles não a veriam, provavelmente estavam jogando futebol na quadra de cima.
– Terminei e já sei o que você vai dizer – Luan falou antes mesmo que eu pudesse abrir a boca. – É ridículo Aurélia ficar rica e ir atrás dele depois que Fernando a largou para ficar com uma mulher rica.
– Eu não ia dizer isso – Luan levantou as sobrancelhas. – Está bem, eu sei que é uma vingança, mas Aurélia ainda o ama, e acho que Fernando não sente nada por ela.
– Estamos apenas no começo do livro, mal sabemos sobre a história deles no passado – Eu sabia que Luan tinha razão. – Você está julgando ele, mas sabe que ele tem problemas financeiros e precisava do dinheiro.
– Vocês, homens heterossexuais, sempre dão desculpas para outros homens.
– Em minha defesa, não estou dando desculpas para ele. Só acho que é cedo demais para julgar os dois. Temos que entender que, naquela época, ter posição social e dinheiro era muito importante – Luan ajustou seus óculos mais perto dos olhos. – E agora, finalmente, vamos descobrir o que realmente acontece com ambos.
– Mas pelo que percebemos no pouco que lemos, podemos ver que Aurélia ainda é inocente e ainda ama Fernando, então tudo o que ela vai fazer é dar tudo para ele – disse antes de ouvir o sinal tocar.
Apesar de ambos estarmos no terceiro ano, não estávamos na mesma sala; Luan fazia espanhol e eu inglês. Continuamos discutindo sobre o livro enquanto caminhávamos até nossas respectivas salas de aula e concordamos em continuar a discussão no intervalo do dia seguinte. Quando cheguei à minha sala, percebi que ainda estava designado a sentar ao lado do Pedro, pois a disposição dos assentos não podia ser alterada.
Pedro já estava lá, então fiz o que vinha fazendo nos últimos cinco meses: sentei-me ao seu lado como se sua presença não me afetasse. No entanto, hoje era diferente. A psicóloga havia me aconselhado a começar a perdoar aqueles que ainda desejavam o meu bem, e ele era uma dessas pessoas. Não íamos voltar a ser como éramos antes, mas, no máximo, seríamos bons colegas.
A aula começou, era de história, sua matéria favorita e talvez o único momento em que ele parecia feliz. Segundo sua irmã, meu irmão contou que Pedro se trancava no quarto, saía poucas vezes e nem os medicamentos que ele tomava o ajudavam a encontrar ânimo para fazer qualquer coisa. Seu pai queria levá-lo embora, mas o garoto se recusava.
A aula passou rápido, e estávamos nos preparando para sair da sala, mas antes de colocar minha mochila nas costas, tirei uma carta de dentro dela. Era uma carta que continha todo o meu perdão e também o meu número de telefone. Eu não sabia como começar a conversa, como abordar o assunto, mas quando quase todos já haviam saído da sala e Pedro se levantou para sair, a coragem veio.
– Pedro – minha voz estava trêmula e ansiosa. Ele parou de andar e se virou para mim; seus olhos estavam úmidos, era a primeira vez que alguma expressão retornava a eles. – Quero entregar isso, por favor, leia com cuidado.
Então, entreguei-lhe a carta. Pedro já estava chorando e talvez esperasse um abraço ou algo do tipo. No entanto, apenas entreguei a carta e caminhei em direção à saída, deixando-o ali, aparentemente atônito com tudo. Antes de sair da sala, me virei para o garoto que me encarava e dei um pequeno sorriso, dizendo:
– Eu lhe perdoei. Leia a carta; nela está o meu coração. – E então, saí da sala.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Elba Damasceno
comigo eh despreso total......
2024-11-27
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amo mangá
eu tô me mordendo de raiva, eu sou do tipo que dificilmente esquece ou perdoa alguém, ver esse tipo de situação me dá nos nervos
2024-11-02
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amo mangá
POR QUE VOCÊ DEU A PORRA DO SEU NÚMERO????
Você tinha que o perdoar, não voltar a falar com ele /Scream/
2024-11-02
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