Capítulo 9

Felipe

        – Deixa ver se entendi, você ativou sua conta do Instagram e stalkeou o cara – Pedro me olhava incrédulo. – E mandou uma mensagem para ele bêbado?

        – Vai repetir isso até quando? – perguntei, frustrado por contar a ele e a Luan.

        – Até você perceber o quão burro você foi em ter feito isso com o amante da sua ex – disse algo que já não soubesse.

        Suspirei e me joguei dentro da água, sentindo o gélido do mar, queria me afogar pela vergonha de mandar uma mensagem para aquele idiota, bem nem tanto, mas isso não muda o fato de ter sido eu o idiota. Pedro tinha suas preocupações e eu também, e se Isaac me achasse estranho, ou se ele me achasse um perseguidor. Só de lembrar que tive que seguir ele de volta para não sair como um maldito perseguidor, odeio me sentir assim, odeio mais ainda ter que feito isso.

        – Não pegue no pé dele, Pedro – indagou Luan. – Pode ter sido meio burro, mas quem nunca mandou mensagem para alguém bêbado?

        – Mas normalmente manda para alguém que conhece – Pedro suspirou e então virou para mim. – Pelo menos o idiota não foi desagradável e até te seguiu.

        Nada falei, apenas concordei com a cabeça e mergulhei mais uma vez quando uma onda forte veio em nossa direção. O mar estava um pouco agitado hoje, entretanto isso não muda o fato de querer que ele leve minha estupidez embora.

        Ao voltar para terra estávamos na beira da praia, hoje meus irmãos e meu pai não vieram, na verdade, tinha um futebol dos meninos e meu pai queria acompanhar os dois. Conversamos um pouco, peguei meu celular para ver as notificações que recebi e a maioria era do Instagram, provavelmente pela foto que postei pela manhã.

        Ao abrir as notificações, percebi que tinha várias curtidas, algumas de alguns veteranos que me seguiram, alguns colegas que segui e também de Pedro, Luan e Isaac, o que me deixou um tanto intrigado. Minha cara se desfez no momento que vi as notificações de curtida daqueles que um dia foram meus amigos e pior ainda era da Carla estar no meio.

        – Por que está com essa cara de mau-humor? – disse Luan.

        – Lembra da foto que postei? A nossa na praia na semana passada? – Perguntei.

        – Sim – responderam juntos.

        – A Carla e sua turminha curtiram, esqueci que não são bloqueados na minha conta – falei com um gosto amargo na boca – Nossa, mas não vou perder tempo para fazer isso e bloquear agora.

        Os deram uma risada pelo jeito que falei, já abrindo cada página daquelas pessoas e bloqueando todos. De certo modo minha psicóloga disse que deveria pelo menos deixar ver eles o quão bem fico sem eles, todavia não queria isso, muito menos saber mais, os perdoei, mas não significa que quero que saibam sobre minha vida.

        Talvez o único que ainda vai saber sobre mim será Júlio, já minha mãe contará provavelmente as coisas para sua irmã e minha tia por sua vez vai repassar para ele, assim como minha mãe faz comigo. Sei que Júlio não conseguiu passar numa federal, o pai prometeu pagar um cursinho para o filho esse ano para mandar para uma faculdade pública como eu, diferente dos meus pais, meus têm condições de manter o filho em um cursinho e também de sustentar em outra cidade.

        Não que me importe com o que meu primo acha, não podia pensar mal dele, minha mãe até tentou convencer nós conversarmos, claro que isso foi a pior coisa que aconteceu. Uma, ele saiu com um olho roxo, dois, tive um ataque de fúria e três, Júlio falou que Carla estava certa me trocar por alguém mais rico e mais interessante que eu depois que bati nele.

        Desde então, se tem uma reunião de família, ou não vou por sua conta, ou fico o mais longe dele possível, sei que minha tia me ama e odeia o que tenha acontecido conosco, no entanto, era melhor para nós dois. Agora a única coisa que eu quero é ir para Florianópolis, viver uma vida nova e conhecer pessoas novas, quem sabe lá meu coração abra de novo.

        Sempre fui um menino que ama amar, que gosta de se apaixonar, Carla só esteve parte de um ano da minha vida, antes dela tive paixões passageiras e uma que continuam, mesmo de uma forma de amizade. Até porque sentir o coração pulsar e um tanto alegre por ver uma pessoa era incrível e eu gostava desse sentimento.

        Quando me descobri pansexual foi um tanto revelador para mim, na verdade, me apaixonei primeiramente por Pedro, depois entendi nossa amizade conheci uma menina chamada Laura, no momento achei que minha paixão por Pedro era algo de convivência e eu era hétero. Mas tudo mudou quando conheci Daniel, um menino do nono ano e me apaixonei perdidamente por ele, tivemos um pequeno namoro escondido por cinco meses antes do seu pai ir embora numa oportunidade de emprego, nunca mais soube nada dele.

        No primeiro ano conheci uma garota trans, depois de Daniel foi minha namorada, namoramos por cerca de cinco meses, infelizmente não deu muito certo nosso relacionamento e depois tive um caso com um de seus amigos que morava em Criciúma. Por fim, no final do primeiro ano conheci Carla, na verdade, já havia conhecido ela antes, pois sempre estudamos juntos, mas a conheci verdadeiramente.

        Naquela época já havia revelado minha orientação sexual aos meus pais e no começo foi difícil eles entenderem, contudo, o tempo se provou bom para ambos e eles me aceitaram. Durante todo o meu segundo ano namorei Carla, meus pensamentos era somente nela e sempre seria, tínhamos sonhados juntos, até nome de nossos filhos já tinha, todavia foi apenas uma ilusão para mim, tudo que mais sonhei acabou no exato momento que ela me traiu e percebi que apenas eu a amava.

        – Está muito pensativo – Pedro me entregava uma cerveja e eu tomava um gole sentindo o amargo descer minha garganta.

        – Apenas pensando em tudo e que Floripa vai mudar nossas vidas – tomo outro gole e sinto o gelado da bebida descer tão bem quanto uma água. – Sinto que cada parte minha precisa ficar aqui com o passado e uma nova surja.

        – Eu lhe entendo, também quero isso – Pedro tomou sua cerveja e olhou para Luan. – E você Luan, quer isso também?

        – Bem, talvez nem tanto quanto vocês, já que passaram por coisa pior do que eu – deu uma risada bebendo. – Quero apenas focar na faculdade, me tornar o melhor médico e com certeza nunca mais pisar nessa cidade sem vida.

        – Penso o mesmo – Pedro diz rindo e eu concordo com a cabeça.

        – Mas confesso que sentirei falta de algumas coisas daqui – continuou Luan. – De certa forma, minha família será a principal, mas sei que eles estão me apoiando.

        – Assim como nós – falei sorrindo para ele.

        – Agora vocês são minha família também – diz Luan.

        – Melhor parar com isso, se não irei chorar – quebra o clima Pedro tomando um longo gole e fazendo eu e Luan caíssemos na gargalhada.

        Passamos então mais uma tarde ali, liguei para meu pai nos buscar, cada um foi para sua casa e durante a noite combinamos de jogar e foi o que fizemos. Eu estava realmente agradecido de ter eles na minha vida, serei principalmente grato a Luan por me ouvir chorar por horas sem me julgar ou até questionar o porquê de tanto drama.

        Agora teremos um novo capítulo da nossa vida, até brincamos que a série da nossa vida terminou em dezembro e o elenco está de férias, e vai voltar no final de fevereiro quando todos nós iremos para a capital. Confesso que apesar de faltar um mês, estava ansioso por cada minuto.

        Mas como minha mãe falou, os dias passam rápido demais e quando eu perceber já estarei finalizando a última mala antes de ir embora. Sei que minha família sentirá saudades, como sei que vão fazer de tudo para me visitar ou me fazer visitar eles em feriados importantes.

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