Isaac
Apesar de já estarmos na segunda semana de março, quase entrando em outono, o calor ainda predomina, principalmente aquela terça-feira. Odiava andar de bermuda em público, mas aquele dia tive que usar para não morrer do calor.
O ar da sala de aula trabalhava o mais rápido possível, no entanto, parecia que não estava funcionando como deveria, pois ainda sentia o calor e ter que prestar atenção em um espaço tridimensional daquela aula de representação gráfica fazia meu cérebro bugar. Uma vez um professor de física tinha explicado que se nós tivéssemos parados, íamos parar de sentir calor, mesmo assim não estava adiantando.
– Ainda não entendi bem – a voz do Luan tirou a minha atenção do suor que descia pelo pescoço de um dos nossos colegas.
– Com esse calor é complicado entender o que está naquele quadro – digo olhando para seus olhos em completa confusão.
– Não estou falando disso – os olhos cor de caramelo eram iguais aos da sua prima.
– Do que está falando então?
– De você sair com o namorado da sua ex – se vira para mim e lhe olho com as sobrancelhas levantadas. – E o que me deixa mais indignado é que você me culpa em pensar nele quando pediu um relacionamento para uma árvore.
– Claro que foi você – minha irritação saiu pela voz.
– Eu só falei para você não se apaixonar pelo garoto, pois você está namorado e tudo que está fazendo claro que ia se apaixonar – seu tom elevou um pouco, então percebeu os olhos do professor sobre nós. – Você nunca me convidou para ir no centro, conhecer, quem dirá praia, eu quem normalmente tenho que te carregar de um lado para outro.
– É diferente – digo num suspiro. – Você já mora aqui há sete meses e o Felipe está aqui há um mês.
– E isso foi suficiente para você se apaixonar?
– Não estou apaixonada, já falei isso – minha voz irritada. – Nem sei porque te contei sobre nós darmos três voltas na figueira da praça.
– Não julgo você por ter dado três voltas numa árvore centenária, mas julgo por fazer com alguém que você de certa forma machucou e ainda por cima a pedido de uma senhora aleatória na rua – sua voz baixa, mas mostrava um tom de descrença. – Ainda ousou dizer que fiz sua cabeça com suposições que levou você a pensar no garoto quando pedia um romance.
– E não foi?
– Claro que não – disse indignado. – Acha mesmo que iria pedir para se apaixonar pelo ex da sua namorada que também é minha prima – conseguia ver sua frustração por não poder gritar comigo. – Percebi que você ia se apaixonar por ele no momento que foi embora daquele Pida. Você realmente gosta da minha prima?
– Já falei que um dia gostei, mas hoje não sinto nada por ela – falei sincero. – Eu realmente quero terminar com a Carla, porém tem que ser pessoalmente, pois não sou covarde de terminar com ela por telefone.
– Você está certo – senti suas mãos segurarem a minha por um conforto melhor. – Mas até lá tente não trair ela com o ex dela, se puder evitar realmente se apaixonar, se bem que acho que você já está apaixonado.
– Não estou apaixonado.
O final da aula foi algo tão bom que fui para casa o mais rápido possível, pois com certeza estaria um clima agradável pelo sistema automático de climatização do lugar. Aproveitei e mandei mensagem para Felipe perguntando se já tinha comprado pão, poderia passar antes de ir para casa, pois sabia que sua aula tinha acabado às três horas.
Até que não demorou para me responder, pois um minuto depois recebi uma figurinha de um desenho animado dizendo que tinha comprado e segurando um pão. Dei uma risada sincera, pois achei extremamente fofo, senti algo em meu peito esquentar, mas sabia que não era um calor qualquer.
Parei em frente ao prédio, olhei para minha mão sobre o meu coração, a agitação que ele sentia me dizia que Luan estava certo. Merda, me apaixonei por meu colega de casa, não poderia mostrar isso, simplesmente precisava fingir que tinha esse sentimento. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para o idiota do meu amigo.
“Merda, você me conhece melhor que eu”
Entrei no condomínio antes de receber uma mensagem do meu amigo de volta. O hall já estava mais fresquinho do que na rua e pela primeira vez usei ele, me sentei ali para recuperar minhas forças. Perdi elas naquele portão, quando percebi que realmente estava apaixonado por aquele menino.
Mesmo que eu negasse era impossível, queria entender que em uma semana consegui me apaixonar por ele. Lembrei então que talvez tenha vindo antes mesmo do que pude imaginar, lembrei da vez que tive que passar nas cotas raciais e vi ele sentado ao lado da sua mãe e o quanto isso me deixou feliz por aceitar morar comigo.
Peguei pensando em todas às vezes que olhava em seus olhos azuis e me perdia na calma que me transmitia. Os seus sorrisos com sua presa da frente leve torto para frente, não que fosse feio, mas sim um charme. Ou sempre em nossos silêncios em momentos que precisávamos pensar ou sua feição de envergonhado de quando me vê sem camisa.
Gostei de como ficou confortável em tirar fotos comigo no passeio que fomos, ou das fotos escondidas que tirei enquanto olhava tão concentrado uma obra de arte ou lia as informações que explicavam. Ou do seu sorriso sincero que dava com alguma coisa engraçada nos filmes que víamos.
Como eu não reparei isso antes, como não identifiquei isso antes, para ser sincero, não tinha como reparar quando não queria acreditar. Droga faz apenas um mês que moramos juntos e já foi suficiente para eu me apaixonar pelo Felipe. Precisava pelo menos esconder até terminar com a Carla e quem sabe um dia tenha coragem em assumir o meu amor.
Amor…
Nunca senti algo assim com outra pessoa, nem mesmo com Carla, esse sentimento de aquecimento do meu coração, ou de simplesmente saber que quero lhe beijar. Precisava ir para casa, tomar um banho e seguir em frente, não queria estragar nossa amizade, tínhamos uma amizade né.
Suspirei frustrado quando pedi o elevador e parei no andar de casa. Em frente a minha porta hesitei em entrar, mas precisava e tinha que enfrentar. O apartamento estava climatizado e um arrepio percorreu pelo meu corpo quando o frio do apartamento bateu em meu corpo.
Felipe estava lá sentado sem camisa e assistia alguma série, comia uma pipoca e pude ver exatamente no momento que dava uma risada tão linda. Seus olhos me olharam e senti meu coração descompensado e minhas mãos suar pelo nervosismo.
– Boa tarde – disse lhe olhando, porém, desviei logo para fechar a porta.
– Boa tarde – disse se ajeitando no sofá. – Estou vendo Brooklyn 99, já assistiu?
– Sim, eu amo essa série – digo sorrindo para ele. – Vou tomar um banho e depois venho assistir com você.
– Beleza, então vou fazer mais pipoca – pausou a série e saiu do sofá, foi o tempo suficiente para ver uma pipoca que estava no seu peitoral cair suavemente até a bermuda cinza dele.
Engoli seco, apenas concordei com a cabeça e fui em direção ao meu quarto. Só larguei a minha mochila em cima da cama e fui direto para o banho, precisava acalmar meu coração. Sentia cada parte de mim fervendo com aquela visão e de certo modo senti ciúmes de uma pipoca por não ser eu escorregando pelo seu peitoral.
Sentir que meu corpo fervendo se fez presente quase todos os dias que via Felipe, ou seja, todos dias da minha nova vida e mesmo assim conseguia ser um bom ator digno de oscar para não mostrar minhas emoções. Luan até mesmo já estava tentando me dizer que estava fazendo certo, pois o plano inicial era me afastar, porém, tivemos que concordar com um dos nossos amigos dizendo que isso seria estranho.
Cláudio era um dos caras que fazia a mesma matéria que nós, porém cursava ciência da computação. Começamos a conversar com ele depois da terceira aula, pois precisávamos fazer um trabalho em trio e o único que sobrou foi o coitado.
Acabamos se enturmando mais do que pensei fosse possível, lembro então do exato momento que disse os meus pensamentos para eles quando fazíamos os trabalho na biblioteca e o Luan apenas soltou um “eu disse”.
Cláudio até deu um conselho sobre esconder os sentimentos, segundo ele, era um especialista, já que passou o terceiro ano apaixonado pelo melhor amigo que era hétero. De certo modo, percebi que Luan ficou interessado na história de Cláudio, principalmente quando disse que era gay e recém tinha assumido para a família que lhe acolheu muito bem.
Sei que para Luan é diferente, pois seus pais lhe recusaram quando assumiu, apesar de hoje já serem mais de boas com a sexualidade do filho. Uma coisa que não podia dizer, era que Carla era uma pessoa ruim, pois ajudou o primo e hoje percebo que só realmente sentia algo por ela, pois era agradecido por ajudar seu primo.
Por fim daquele dia saí com um plano nas mãos, esperaria até às férias quando voltaria para Araranguá e terminaria com Carla. Até lá agia como estava agindo todos os dias com Felipe, depois que terminasse com Carla diria para Felipe que estava apaixonado por ele.
Está certo que tem tudo para dar errado em assumir que estava apaixonado por ele. Tinha o problema dele não sentir o mesmo, droga como Cláudio disse, o não já tinha, apenas precisaria saber lidar com esse não.
No final daquela semana ainda tinha combinado de ir numa praia com Felipe, até combinamos de levar nossos amigos. Levaria Luan e Cláudio e meu colega de quarto levaria quatro amigos. Combinamos de ir para Danielas e de lá conhecer ir a tarde para Canasvieiras e jantar nos ingleses. Até íamos dormir na casa de uma de suas amigas no Santinho, pois sua mãe tinha uma pousada na localidade.
Durante toda semana também postei umas fotos, a principal era de mim e Felipe no museu, pois não queria repetir as mesmas fotos que ele, confesso que ficou estranho ter uma foto só dele sério olhando para uma estátua de Cruz e Souza.
Recebi vários comentários naquela postagem, como minha mãe dizendo que estava feliz por termos nos dado bem. Meu pai dizendo que o bigodudo tinha cara de mal, no caso o Cruz e Souza, até a mãe de Felipe comentou dizendo que queria a foto para emoldurar e por na sua sala, pois tinha ficado muito bonito a foto.
Mas os comentários que chamaram minha atenção foram de Carla, dizendo que não sabia que nos conhecíamos, de seus amigos dizendo que queriam vir conhecer os lugares. Mais tarde naquele dia, Carla me mandou mensagem dizendo que não conseguia ver o perfil de Pedro. Provavelmente ele deve ter bloqueado e informei isso também, recebi várias mensagens dizendo que era injusto ele me perdoar e não a ela.
Por fim, o que me irritou foi sua fala dizendo que não queria que tivesse amizade com um garoto que não gostasse dela, pois eu era seu namorado e não se sentia confortável de ter essa amizade. Apenas informei que era impossível, pois o garoto mora comigo e não precisava ter autorização de ter amizade com alguém ou não.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
amo mangá
prima????
2024-11-02
0
_mandioca><.2
ok,creio que seja sobre Isaac né?!
2024-09-21
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_mandioca><.2
é sobre o Isaac ou sobre Felipe?sei que pode parecer idiota mas eu realmente estou perdida,tipo,no começo fala q está narração de Isaac,mas quem saiu com o namorado da ex foi o Felipe🫨🤯😕
2024-09-21
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