Felipe
O calor de janeiro já castigava, e estar em Araranguá era três vezes pior. Poderia dizer que a cada minuto eu iria morrer, principalmente morando no Mato Alto; é quase um deserto do Saara, e nada fazia passar o calor. Mesmo com o ventilador ligado em cima de mim, tinha a sensação de um demônio soprando de tão quente que estava. Poderia ter ido para a praia, mas não conseguia, principalmente com os resultados dos vestibulares saindo hoje.
Faltavam exatamente vinte minutos para os resultados saírem, entretanto, isso não me impedia de atualizar aquela página a cada dois minutos. Estávamos todos na sala: meu pai estava de férias, minha mãe tirou folga, já que a patroa pediu para estar comigo nesse momento. Meus irmãos eram os únicos que falavam alto e já faziam planos para o meu quarto, discutindo quem ia ficar com ele e até mesmo sobre minhas coisas, decidindo quem ficaria com o quê.
Eu não estava nem um pouco irritado com eles quase me expulsando de casa. Só pensava em passar para a Capital, ter uma nova vida e carreira e, quem sabe, nunca mais pisar nessa cidade que não cresce. Minha mãe perguntava se eu estava bem, e eu sempre respondia monossílabos, voltando minha atenção para a tela do computador. Respirava com dificuldade quando atualizei a tela e lá apareceu a lista de aprovados por curso.
– Mãe, pai, manos – chamei todos, que prestaram atenção em mim. – Saíram os resultados.
– Então? – Questionou meu pai.
– Não vi. Vamos ver juntos.
Abri a lista de cursos, procurei "Engenharia Eletrônica" e comecei a procurar meu nome. Infelizmente, ele não estava entre os Felipes selecionados. Quase chorei de desespero. Me senti tão decepcionado que quase chorei na frente da minha família.
– Não passei – falei decepcionado.
– Ah, meu filho, não fica assim – minha mãe me abraçou e deu um beijo na minha testa, enquanto meu pai deu um aperto no meu ombro. – No próximo ano você tenta de novo.
– Isso mesmo, mano. No próximo ano, com certeza, você entra em Engenharia Elétrica – falou Kleiton, um dos gêmeos.
– Na verdade, quero Engenharia Eletrônica – olhei para ele e percebi sua confusão no rosto.
– Então, por que está na lista de Engenharia Elétrica? – Disse Kleber, confuso.
Olhei para o topo da lista e realmente entrei na lista errada. Ri nervosamente pelo erro, assim como toda minha família. Kleber até deu um tapa na minha cabeça por ser burro.
Voltei à página, me preparei mentalmente novamente para outra decepção, mas quando cheguei na letra F, tinha somente um Felipe. E lá estava escrito meu nome: Felipe Pereira Almeida. Não sabia o que falar, estava tão chocado que tomei um susto quando minha mãe gritou do meu lado. Meu pai me abraçou, e meus irmãos começaram a me parabenizar, entrando novamente na discussão sobre o meu quarto.
– Vamos sair para comemorar hoje, vamos a uma pizzaria – falou meu pai animado e já vi minha mãe ligando para minha vó para avisar que tinha passado.
Eu fiquei ali, parado, olhando meu nome na tela, ainda sem acreditar que eu tinha passado. Estava tão incrédulo que nem percebi que meu telefone estava tocando. Meu irmão chamou minha atenção, e vi o nome de Pedro estampado na tela do computador. Só percebi que estava tremendo quando peguei o telefone, e foi até difícil pegá-lo.
– A-alô? – Digo incerto nas minhas palavras.
– Conseguimos, nós conseguimos – gritava Pedro do outro lado da linha. – Eu, você e Luan passamos, não estou nem acreditando, meu Deus.
Nada falei, apenas solucei e então comecei a chorar de emoção, uma felicidade tão intensa que não conseguia conter, e minha respiração ficou até difícil.
– Conseguimos, nem acredito – falei com a voz trêmula.
– Agora precisamos começar a procurar um lugar para morar, juntar a documentação e principalmente ver que dia temos que ir para Floripa – disse Pedro eufórico. Eu me acalmei e concordei com ele.
A semana passou tão rápido e o calor não me deixava frustrado, mas sim achar um lugar para morar, pois não esperávamos que os aluguéis fossem tão caros. Se fôssemos dividir um apartamento bom e cada um tivesse seu próprio quarto, não sairia por menos de mil e quinhentos reais para cada um. Até consideramos apartamentos com três quartos, mas depois passamos a procurar com dois quartos e até mesmo quitinete. No entanto, a maioria dos lugares tinha o problema de não aceitar mais de uma pessoa, especialmente no caso de quitinete, e nos apartamentos de dois quartos só aceitavam duas pessoas.
Além dos problemas com o local, tínhamos que lidar com a burocracia das cotas de baixa renda, que exigiam muitos documentos que precisávamos conseguir. Alguns deles justificavam nossos gastos nos meses anteriores, e até mesmo tínhamos que classificar cada gasto nas contas dos meus pais e até nas minhas, apesar de ser apenas uma poupança.
Em uma conversa sincera com os meus pais, eles até sugeriram que eu considerasse fazer a faculdade em Criciúma, mas teria que ser em outro curso, já que o meu não estava disponível na cidade. Isso sairia mais barato para eles do que me enviar para a Capital.
Eu fiquei tão frustrado com essa situação que estava quase aceitando a proposta oferecida pelos meus pais. Também pensei em pedir auxílio à universidade, mas infelizmente não consegui, pois a nota de corte era três vezes menor do que a minha, então estava fora de cogitação. Cheguei até a considerar conseguir um trabalho de meio período, mas percebi que seria difícil conciliá-lo com os estudos, mesmo se conseguisse o emprego.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
ana souza
Acredito que não vou esquecer nunca o dia que passei no vestibular da UESPI. Não sabia me expressar, pois o resultado saiu justamente no dia do meu aniversário
2024-08-19
1
Juh Avk
essa documentação toda quase que me deixa loucaaa
2024-05-14
4
Ana Lúcia
😂😂😂😂😂😂😂
2024-05-13
1