Felipe
O ar quente em Florianópolis era pior do que eu pensava. Quando minha família e eu chegamos à cidade, ficamos impressionados com o trânsito caótico para entrar na ilha. Embora não fosse a nossa primeira vez em Florianópolis, a sensação de ansiedade era completamente diferente desta vez.
Mesmo que planejássemos passar apenas um dia na cidade, minhas mãos estavam suando. Naquela manhã, eu faria a validação de renda e, à tarde, a matrícula final na coordenação do curso. Meus irmãos estavam animados, apontando para as casas no topo das colinas e fazendo perguntas sobre como aquilo era possível. Quando entramos no túnel que dava acesso à ilha, eles brincaram, questionando se realmente estávamos na mesma cidade, o que nos arrancou risadas.
Apesar de ter quinze anos, meus irmãos pareciam crianças de dez, cheios de empolgação. Eles ficaram ainda mais animados quando viram o tamanho do campus da universidade. Ao explicar que o campus abrangia cerca de cinco bairros, eles ficaram ainda mais surpresos.
Meu pai estacionou o carro em um estacionamento próximo ao local onde eu faria a validação de renda. Ele conhecia bem a universidade, pois havia estudado administração lá. Ele trabalhava em uma empresa no continente durante o dia e, à noite, fazia faculdade, então não morava em Florianópolis, mas sim em São José, que ficava ao lado e era mais barato. Eu até tinha pesquisado a possibilidade de morar lá, mas meus pais acharam que era muito longe e complicado, especialmente considerando que eu provavelmente teria aulas à noite.
Minha mãe e eu seguimos em direção ao Centro Socioeconômico, que ficava próximo à biblioteca e à rua principal que dava acesso à universidade. Pedimos informações a algumas pessoas e, em breve, estávamos aguardando nossa vez de sermos atendidos pela comissão de cotas sociais.
Enquanto esperávamos, observei a agitação ao meu redor. Calouros ansiosos, como eu, perambulavam pelo local, ansiosos para começar a universidade. Nossa sala de atendimento ficava no segundo andar e tinha algumas cadeiras na entrada. Dali, podíamos observar bem o movimento e foi quando meus olhos se fixaram em uma pessoa no terceiro andar, de frente para mim.
Isaac também me encarava. Ele estava sentado ao lado de algumas pessoas e parecia o mais tranquilo de todos. A garota ao seu lado estava tremendo e seu cabelo afro balançava com seu corpo. O garoto com óculos ao lado de Isaac estava mexendo no celular, provavelmente mandando mensagens para alguém.
"**Felipe Pereira Almeida**"\, uma voz feminina me chamou. Virei-me e encontrei um sorriso simpático no rosto de uma senhora que devia ter a idade da minha mãe. "Por favor\, entre."
Concordei com a cabeça. Infelizmente, minha mãe não podia entrar comigo, então ela apenas me entregou a pasta com todos os documentos e desejou boa sorte.
Dentro da sala, havia apenas a senhora e outro rapaz. Ambos sorriram quando me viram e me ofereceram uma cadeira para me sentar. Eu estava tremendo um pouco antes de entregar os documentos que eles solicitaram. Tinha uma sensação constante de que algo poderia dar errado a qualquer momento, apesar de ter revisado essa pasta umas trezentas vezes.
Eles fizeram algumas perguntas adicionais sobre despesas mensais e me informaram sobre os programas sociais disponíveis, como refeições gratuitas no restaurante universitário. Além disso, deram algumas orientações sobre como acessar editais e outros recursos, como o mapa do campus, onde a Pró-Reitoria de Permanência e Assuntos Estudantis ficava para obter mais informações. Em seguida, entregaram alguns documentos assinados e me deram as boas-vindas à universidade federal.
Saí da sala feliz e aliviado. Logo vi minha mãe e a abracei, dizendo que tudo tinha dado certo. Enquanto caminhávamos pelo corredor em direção à saída, olhei novamente para o terceiro andar, onde Isaac estava, mas ele não estava mais lá. Enviei uma mensagem para meus amigos informando que tudo estava certo. Pedro já tinha validado a matrícula um dia antes e Luan não precisaria fazer isso, apenas finalizar a matrícula entregando os documentos.
Voltamos para o carro, onde meu pai estava conversando com o Sr. Luiz. Isaac estava ao lado do pai, ouvindo atentamente a conversa dos dois. Minha mãe se aproximou, cumprimentou todos e eu fiz o mesmo. Foi a primeira vez que apertei a mão de Isaac, que surpreendentemente estava muito macia, provavelmente devido a algum hidratante.
"Já que vocês estão aqui, que tal irem até o apartamento para conhecer? A Luana está lá nos esperando", sugeriu o Sr. Luiz.
"Não queremos ser um incômodo", minha mãe respondeu.
"Claro que não são. Vamos lá, viemos a pé porque é perto. Deixem o carro aqui, pois não sei se haverá lugar na rua para estacionar", sugeriu o Sr. Luiz.
Meus pais apenas acenaram com a cabeça e trancaram o carro antes de seguirmos em direção à saída que usamos anteriormente.
O apartamento era realmente muito próximo, em frente ao hospital universitário, em um prédio alto com uma portaria eletrônica equipada com reconhecimento facial e digital. O Sr. Luiz informou que autorizaria meu acesso ao prédio e eu apenas concordei com a cabeça, ainda em silêncio.
"É um lugar silencioso", disse Isaac, sua voz tão baixa que só eu pude ouvir.
"Como assim?", perguntei.
"É um lugar silencioso, apesar de estar localizado em um bairro universitário, muitas famílias moram aqui", ele explicou.
"Você já veio aqui antes?"
"Sim, venho todos os verões, exceto este, quando preferi ficar em Araranguá", ele respondeu.
Entramos pela porta de vidro que dava para uma área comum elegante, com sofás e plantas. Era extremamente chique.
"Uau", foi tudo o que consegui dizer.
"É lindo, não é?" Isaac concordou. "Você vai ter que se acostumar, já que vai morar aqui."
"Eu espero. Nunca estive em um lugar tão caro, além da sua casa", eu disse, rindo.
Isaac também riu baixinho. "No prédio em que algumas pessoas que eu conheço moram, mal tem porteiro, quem dirá um hall com sofás."
Entramos no elevador e subimos até o penúltimo andar. O Sr. Luiz explicou que havia apenas dois apartamentos por andar e que dificilmente veríamos os vizinhos. Quando saímos do elevador, encontramos uma área com duas portas, duas poltronas e uma mesa de centro.
Era um lugar extremamente luxuoso, e eu tinha certeza de que o salário da minha mãe nem pagaria a diária de um lugar como esse se fosse um hotel. Quando entramos no apartamento, fiquei ainda mais impressionado. A entrada dava para uma ampla sala de estar com uma TV que devia ter pelo menos sessenta polegadas. O sofá em forma de L era branco, criando um contraste elegante com o piso preto e a mesa de centro em tons de bege.
À direita da sala, havia uma cozinha em estilo americano, totalmente equipada, com utensílios de alta qualidade. Era uma cozinha que continha tudo o que você precisava para uma casa, e muito mais do que eu jamais imaginaria.
"Por favor, sintam-se em casa", disse a Sra. Luana, com um sorriso caloroso. "Isaac, aproveite e mostre para o Felipe onde será o seu quarto."
Isaac assentiu e, com um gesto do braço, indicou um longo corredor que levava a quatro portas, todas elegantemente decoradas.
"Esta é a porta do banheiro social", ele apontou para a primeira porta, abrindo-a para revelar um banheiro completamente branco, com chuveiro, bancada de mármore e um vaso sanitário que brilhava tanto que parecia que poderia nos ver.
"Este é o meu quarto", acrescentou, mostrando-me a segunda porta. Seu quarto tinha uma aparência diferente das outras, com tons de marrom e vermelho, criando um ambiente rústico e elegante. A maçaneta era de um marrom escuro, quase avermelhado. Ele não abriu a porta, apenas apontou para informar onde eu o encontraria provavelmente.
"E este é o seu quarto", ele abriu a terceira porta. Era espaçoso, com uma cama grande, duas mesinhas de cabeceira em tons de marrom-claro, um guarda-roupa da mesma cor e uma escrivaninha. Do lado oposto ao quarto, havia uma porta que dava para um banheiro privativo igualmente espaçoso.
"Quando você se mudar, pode mudar a cor das paredes, adicionar alguns móveis. Apenas não recomendo trocar a cama, pois foi cara", ele sugeriu.
Concordei com a cabeça e saímos do quarto. Por último, ele indicou o quarto dos pais e informou que provavelmente não teríamos acesso a ele enquanto eu morasse lá. Concordamos e voltamos para a sala.
Almoçamos com eles, e Isaac conversou com meus irmãos sobre videogames, pois havia um PlayStation 5 conectado à TV da sala. Após o almoço, os três se divertiram jogando.
Enquanto isso, eu permanecia em silêncio, e sempre que alguém me perguntava se estava ansioso para começar a universidade, minha ansiedade aumentava ainda mais ao saber que estaria morando em um lugar que minha família provavelmente nunca poderia pagar.
Minha psicóloga havia mencionado a Síndrome do Impostor na minha última sessão e me explicou que era normal ter esse sentimento, que tudo fazia parte do processo de adaptação e que logo ele passaria.
Naquela noite, saímos para comemorar novamente a conquista, e agora era definitiva. A família do Pedro se juntou à minha, e terminamos a noite comigo bêbado, declarando meu amor por todos. Em casa, já deitado na minha cama, involuntariamente, com a mente embriagada, acessei o Instagram de Isaac e enviei uma mensagem.
"Achei que você fosse um porre."
Eu adormeci antes de receber uma resposta, mas estava feliz por finalmente ver meu sonho se tornar realidade e começar uma nova vida.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
ana souza
não sei mas vou pesquisar
2024-08-19
0
Fernanda Leite Mineiro
e os amigos luan e o Pedro onde vão viver ?
Eram para viverem todos juntos 🤔
2024-06-24
2
🌟OüTıß🌟
....por isso q eu não bebo.
2024-05-05
5