Capítulo 13

Isaac

        Estava paralisado, ainda sem acreditar no que tinha visto, ainda olhava o rosto de Felipe, percebi a preocupação e um leve desconforto. Talvez ache que sou preconceituoso, o que não é verdade, para dizer verdade nem tinha como ser, já que era um garoto que ainda estava experimentando a vida e das vezes que pesquisei me entendi como bissexual, apesar das vezes que conversei com Luan, disse que eu poderia ser pansexual.

        Eu não conseguia sustentar os olhos sobre ele, de certa forma fiquei envergonhado por ficar muito tempo lhe encarando, talvez ache que eu estava lhe julgando, claro que não era isso. Para evitar mais o desconforto mútuo, decidi ir embora, avisei meus colegas e veteranos e fui em direção ao apartamento.

        Apesar da noite quente, senti um pouco de frio, talvez por ficar chocado com a cena de ver Felipe aos beijos com outro garoto, algo que talvez nunca imaginaria. Entrei no apartamento, já indo para cozinha, precisava tomar uma água e relaxar, talvez minha preocupação sobre mostrar ser preconceituoso está atormentando minha cabeça.

        Talvez espere ele chegar e falar que não tinha preconceito, ou se Felipe estiver com medo de eu contar para os pais, pois pode ser que não seja assumido, assim como eu. Droga, eu também não posso contar lhe contar, pois tenho um certo medo de meus pais descobrir, talvez minha mãe me aceite com tanto amigo gay, mas meu pai eu acredito que não teria a mesma mentalidade. Sem contar que a família do meu pai são todos evangélicos e apesar de meu pai não continuar na igreja, cresceu em um lar conservador.

        Já é difícil para mim me convencer que uma parte de mim gosta de garotos na mesma intensidade que gosto de garotas. Luan era gay e foi o primeiro garoto que beijei e tive certeza o que sentia, também perdi minha virgindade para ele e foi aí que entendi. Carla foi a segunda pessoa com quem fiquei, apesar de não ser apaixonado por ela, não nego meu tesão por ela e nossas transas sempre foram boas.

        Penso também que meu pai venho falando sobre eu ter filhos depois que me formar, algo que nem sei se vou estar namorando uma mulher ou algum rapaz, só sei que um dia ele vai ter que descobrir quem eu sou. Talvez minha mãe poderia estar do meu lado e fazer com que meu pai entenda que nasci assim e de certa forma vou morrer assim.

        Só percebi que tinha passado tanto tempo ali parado perdido nos meus pensamentos quando Felipe abre a porta, eu estava encostado na ilha e segurava um copo de água vazio. Nossos olhares se encontram e aqueles olhos azuis de alguma forma me dão calma. Era como todo azul do meu quarto, era como se eu pudesse ser transparente.

        – Boa noite – sua voz ecoou pelo apartamento e lhe olhei confuso.

        – Boa noite – suspirei e então larguei o copo no balcão, perdendo o contato visual. – Não sabia que você é gay, tipo não tenho preconceito, quero que saiba disso, apenas estou surpreso, nossa nunca tinha imaginado, mas como falei, não tenho preconceito, sou um aliado.

        Minhas palavras saíram rápidas, era o único momento de coragem que eu tinha e precisava jogar de uma vez, escutei uma risada baixa e quando me virei para ele, estava perto do corredor.

        – Fiquei um pouco preocupado, mas percebi que realmente você não é preconceituoso – disse e seus olhos azuis ficaram no meu. – Tive medo, na verdade, pois na nossa cidade é um tabu e muitas pessoas sofrem naquela cidade. E sobre isso, não sou gay, mas pansexual.

        – Entendi – soltei outro suspiro. – Quero que saiba que não vou contar para seus pais e nem aos meus.

        – Obrigado, mas meus pais sabem que sou pansexual – disse com um sorriso. – Nunca escondi deles, aquele menino que me viu beijando foi meu primeiro namorado.

        – Entendi, que bom que se encontram – sorri feliz em saber que talvez alguém cure seu coração, esse que ajudei a prejudicar. – Ele é bonito, formam um belo casal.

        Felipe gargalhou pelo meu jeito de falar, sua cabeça negou com a cabeça.

        – Não sinto mais nada por ele – disse. – Só o ajudei com uma aposta entre veteranos e calouros.

        – Entendi.

        O apartamento ficou em silêncio, conseguia ouvir os veículos passando na rua, como também o elevador funcionando. Não sabia o que falar, acredito que ele também não sabia, foram momentos mútuos de silêncio e pensamentos sobre tudo.

        Sinceramente eram bons esses silêncios, para dizer a verdade, sentia que era um momento que nós precisávamos para pensar sobre o nosso entorno. O vi seguir o corredor, antes de entrar para seu quarto, virou para mim e deu um aceno de cabeça e entrou.

        Permaneci ali parado ainda por alguns segundos, acho que nosso convívio seria bom, ainda tinha coisas que não sabia sobre ele e teria que aprender, assim como tem coisas que Felipe não sabe sobre mim. Eram cinco anos morando juntos e algum momento sei que teremos uma amizade, pelo menos eu quero ter uma amizade com ele, mesmo de toda dor que um dia lhe causei.

        Por fim, fui ao meu quarto, tomei um banho quente, aproveitei e passei alguns produtos de skincare que minha havia me dado. Me deitei na cama, peguei meu tablet, olhei minhas redes sociais e vi algumas curtidas em meus stories que tirei no Pida. Também tinha uma mensagem de Carla perguntando onde era aquilo, se fiquei com alguém.

        Um suspiro saiu de meus lábios, lhe respondi que não, apenas era uma integração entre calouros e veteranos e que apenas bebi e nada além de conversar com colegas. Pensei perguntar se ela sabia que Felipe era pansexual, entretanto não era algo que tinha que ver com minha vida, mandei um boa noite e coloquei o tablet no bidê antes de me ajeitar para dormir.

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