Capítulo 3

Felipe

As semanas foram passando rapidamente, e quando me dei conta, já estávamos no dia do vestibular. Seriam dois dias que definiriam o meu futuro, tanto aqui quanto em Florianópolis. Estava nervoso; meu pai me deixou na porta com meia hora de antecedência, com o Pedro e o Luan. Passamos a madrugada toda revisando as matérias e até já estávamos discutindo planos para morar juntos na capital. Eu faria Engenharia Eletrônica, o Pedro Design e o Luan Medicina.

        Entramos um tanto apressados, mesmo tendo meia hora pela frente. Minhas mãos estavam suando, e mesmo que não precisasse dos antidepressivos, tomei-os para eliminar qualquer sensação e focar na prova. Ao passar pelo campus Jardim das Avenidas, onde ocorreria o exame, olhei para a tabela com os nomes e as salas. Ficaria na parte de cima, mas o que me deixou indignado foi descobrir que o Isaac faria a prova comigo, na mesma sala. Foi a melhor escolha ter tomado os remédios antes de vir.

        Ao entrar no prédio principal, me deparei com meus antigos amigos. Todos me olharam, e nenhum deles disse nada, principalmente após verem o Pedro ao meu lado. Percebi que a Carla estava ali com o Isaac; os dois se beijaram e não me viram passar. Talvez, se fosse quatro meses atrás, estaria abalado vendo os dois se beijarem, mas agora não sinto nada, e os remédios não deixam que eu sinta nada.

        – Você está bem? – a voz preocupada do Pedro falou baixo, para que apenas nós três ouvíssemos.

        – Sim, se fossem meses atrás, eu ficaria mal. Hoje não sinto nada – dei um pequeno sorriso e seguimos para a sala.

        Sentei-me na cadeira mais próxima do meio. Sob orientação do fiscal de prova, coloquei minhas coisas em um saco que foi lacrado e colocado à frente da sala. Coloquei minha garrafa de água à direita e minhas canetas de forma organizada, com cerca de três azuis e duas pretas, no caso de alguma falhar. Minha borracha ficou ao lado delas.

        Faltando cinco minutos para o início da prova, o Isaac entrou pela porta. Olhei para aquele garoto, e podia dizer que a Carla tinha bom gosto. Os cabelos cacheados estavam molhados de creme, os olhos pretos como a noite eram penetrantes, e, principalmente, o rosto de modelo e a pele retinta chamavam a atenção. Suas roupas eram de marca, e o relógio no pulso dava uma aura de elegância ao garoto. Pena que era esnobe e extremamente egocêntrico. Ele foi até a mesa do fiscal buscar o saco para colocar suas coisas, e infelizmente o único lugar vago era ao meu lado. Nem olhei para ele.

        A prova começou pontualmente, e a sala estava silenciosa enquanto um dos vestibulandos verificava se a prova estava realmente lacrada. Após a conferência, a prova foi distribuída, e esperamos o sinal do fiscal para receber as instruções e protocolos de ida ao banheiro. Depois de todo o discurso, o sinal tocou, e começamos a fazer a prova.

        Não sei em que momento foi, então vi o fiscal vindo em minha direção e, em seguida, a voz grave de Isaac ressoou pela sala. Apesar de não ser da minha conta, mas olhei para ele, e foi um erro, pois Isaac também me encarava.

        – Você poderia emprestar uma caneta para este rapaz? – Perguntou o fiscal.

        Eu não sabia o que responder na hora; talvez minha hesitação tenha deixado ambos ansiosos. Não só eles, mas também a sala inteira, que de certo modo permanecia em silêncio. Queria negar, mas sabia que seria mal visto fazê-lo; isso me faria parecer egoísta, e eu não queria ser como aquele garoto.

        – Claro. – Peguei uma das canetas que sobraram e entreguei ao fiscal, recebendo um sorriso em resposta.

        – Obrigado. – Foi a voz de Isaac que saiu, e eu nada disse, apenas acenei com a cabeça.

        O restante da prova transcorreu em completo silêncio, e só percebi que já estava no final quando a voz do fiscal anunciou os últimos trinta minutos. Eu estava tranquilo, pois já estava transferindo minhas respostas para o caderno de respostas.

        Notei que só estávamos eu e Isaac na sala, ambos passando as respostas para o caderno. Por fim, levantei-me e entreguei minha prova ao fiscal, que me informou que deveria esperar Isaac terminar para que pudéssemos juntos testemunhar o lacre das provas e assinar a lista de testemunhas. Isso aconteceu em um instante, e logo saí um pouco apressado, ansioso para discutir com meus amigos as respostas das perguntas que me deixaram em dúvida.

        Porém, quando já estava prestes a descer a escada, uma voz gritou meu nome. Olhei para trás e vi Isaac correndo em minha direção, com um sorriso no rosto.

        – Quero lhe devolver a caneta. – Ele estendeu a caneta em minha direção. – Obrigado pela ajuda; achei que estivesse perdido.

        – Pode ficar com ela. Quem sabe você precise dela amanhã.

        – Hum... Obrigado? – Isaac coçou a cabeça e deu um sorriso sem graça.

        Desci a escada e fui ao encontro dos meus amigos, que estavam observando a cena sem entender nada. Eu simplesmente disse que emprestei uma caneta a Isaac, já que a dele não estava funcionando, e que o deixei ficar com ela. Luan até perguntou se não havia outra pessoa na sala, mas expliquei que aquele garoto estava bem ao meu lado.

        Logo mudei de assunto, perguntando sobre as respostas de algumas perguntas específicas em que tinha dúvidas e se eu as havia acertado. No começo, tive dificuldade em Química e um pouco em Física, assim como meus amigos. Em Literatura, nossas respostas foram iguais, o que com certeza era resultado de nossas leituras em conjunto.

        Ainda havia mais um dia de vestibular, mas eu estava confiante de que conseguiríamos passar. Meu pai foi nos buscar e levou cada um para sua casa, e então fomos para a nossa.

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