Capítulo 12

Felipe

        A segunda começou com um dia ensolarado, o calor de Florianópolis era menos insuportável em março, então decidi que iria de calça jeans para o primeiro dia, entretanto fui de camisa sem estampa cinza que havia ganhado de minha avó. Saí do quarto com minha mochila, tinha aproveitado e arrumado ela no dia anterior e me certifiquei que não esqueci nada nela.

        Isaac como nos últimos dois dias já estava na cozinha tomando café, lhe cumprimentei, me sentei e também tomei café silenciosamente. Depois guardamos as coisas e como iríamos para o mesmo prédio, decidimos ir juntos, assim seria melhor se perdêssemos juntos.

        O caminho foi silencioso, cruzamos o cruzamento que dava acesso à universidade, seguimos por fora mesmo até o centro tecnológico onde teríamos nossa primeira aula, ele de introdução a engenharia mecânica e eu para minha de produção textual, tivemos que perguntar duas vezes antes de achar o prédio certo, que era igual de onde se vimos no dia de validação das cotas.

        Minha sala ficava no térreo e na sala 107 e já Isaac iria para o segundo andar na sala 205. Durante as primeiras aulas foi apenas uma introdução ao assunto.

        Tivemos uma visita do coordenador do curso nos desejando uma ótima jornada acadêmica e estava feliz em termos nós como alunos. Perto do meio-dia recebi uma mensagem de Pedro perguntando se íamos almoçar juntos no restaurante universitário, confirmei com ele. Luan também se juntaria a nós, até pensei em convidar Isaac, entretanto sei que não éramos amigos e nem pretendia ser, teríamos uma convivência bacana.

        Também aproveitei e fiz amizade com umas pessoas da minha sala, já tinha feito, todavia presencialmente eram mais reais para mim. A maioria veio de fora da cidade, alguns até de estados distantes, fiquei amigo de uma menina do Rio de Janeiro e até convidei para se juntar comigo e meus amigos para almoçar, infelizmente ela já tinha combinado com o pessoal da nossa turma.

        A fila do restaurante era grande, era dividida em duas filas, uma com entrada ao sul e outra com entrada norte. Nossos veteranos chamavam de entrada Centro Tecnológico e a outra Entrada Centro de Filosofia Humanas. Foi à fila que encontrei Pedro, Luan chegou logo depois acompanhado com uma colega.

        – Como está sendo morar com o amante da sua ex? – Perguntou Pedro.

        – Por incrível que pareça, está normal, tipo não falamos o tempo todo, mas também não temos uma briga – os olhos de Pedro me focava e sorriu.

        – Sabe que se ele falar mal de você e até implicar pode chamar eu e Luan que damos uma surra nele.

        – Quem olha assim até parece que sou uma menina indefesa – todos deram uma risada do meu comentário. – Não se preocupe, pois sei me defender.

        – Eu sei que sabe, mas só estou avisando – disse dando um aperto em meu ombro. – Você não é uma menina, mas é nosso gayzinho.

        Todos caem na gargalhada pelo jeito que Pedro fala, apenas reviro os olhos e dou uma leve cotovelada em sua barriga.

        – Sou pansexual, seu babaca.

        – Pega homem também – disse ele rindo.

        – Se bem que faz anos que não fico com nenhum homem.

        – Mas que não seja por isso, hoje tem o Pida, meus veteranos chamaram todos os calouros e provavelmente os seus também irão lhe chamar – quem falou foi Luan.

        – Pois é, eles já chamaram, disseram que é o encontro de todos os novatos na praça – digo. – Só não sei se irei.

        – Mas claro que vai, a dona Juçara vai ficar decepcionada se eu contar que recusou curtir a vida – Pedro disse com um sorriso sacana na cara.

        – Nem sei porque lhe perdoei – falei rindo.

        – Oras, você me ama e não pode viver sem mim – disse convencido.

        – Como é convencido e humilde – todos riram.

        Depois do almoço, aproveitamos e fizemos a carteirinha de estudante. Foi outra fila, no entanto, ganhamos um copo grátis por fazer, confesso que minha foto ficou até bonita, diferente dos meus amigos que detestaram suas fotos. Depois cada um foi para seus centros, eu teria aula somente às quinze e dez da tarde, então aproveitei e fui na biblioteca cadastrar uma senha para pegar livros.

        No fim fui para aula de química experimental, soube que precisava comprar um livro e também um jaleco. Por sorte, o próprio professor mostrou algumas lojas baratas para comprar e informou que a própria biblioteca tinha o livro, entretanto não poderia ser rabiscado.

        Depois da aula, fui jantar com os meus amigos e combinamos de se encontrar umas oito horas, então fui para casa me arrumar. Passei pelo portão sem dificuldades, assim como entrar no apartamento, vi então Isaac sentado no sofá com um prato de comida.

        – Fiz janta – falou ele.

        – Já jantei no RU – informei. – Mas obrigado.

        – Irá no Pida hoje?

        – Sim, já irei me arrumar – digo seguindo para o corredor.

        – Te vejo lá.

        Apenas concordei e entrei em meu quarto, escolhi uma roupa nova, menos social, mas algo não tão desajeitado. Por fim escolhi uma camisa azul-marinho, com uma logo da marca no peito, usei a mesma calça jeans como também o mesmo sapato, apenas botei um perfume e então às oitos horas saí de casa, não encontrei Isaac, presumi que já tivesse ido ou estava se arrumando.

        Basicamente o Pida era uma praça grande, onde já tinha algumas pessoas com bebidas e algumas músicas em pontos específicos. Encontrei Luan com seus colegas e veteranos perto do parquinho, perguntei de Pedro, apenas me informei que viu ele um pouco perto dos bancos, foi onde o encontrei também com sua turma.

        Fiquei um pouco ali com Pedro, antes de ir atrás da minha turma, os encontrando mais para o meio misturado com as outras engenharias, foi quando vi Isaac, tinha uma lata de cerveja na mão e conversava com um menino de óculos. Ele estava bonito naquela camisa preta com uma estampa diferente, a calça diferente da que vi ele sair hoje, tinha um leve rasgo na altura do joelho e o usava uma bota.

        Era o estilo dele, claro diferente do que era em casa, mas com certeza era um alternativo rico, pois com certeza aquela roupa não saiu menos do que quinhentos reais. Encontrei Gabriela e fiquei mais perto dela, como também conversei um pouco com os veteranos, eles já estavam um pouco bêbados, me fizeram tomar um pouco de vodca pura como batizado, assim como todos os meus colegas. Aproveitei e também comprei cerveja com um cara que estava vendendo perto de nós.

        Não sei quanto tempo demorei ali, para dizer a verdade, só percebi que fazia bastante tempo quando Pedro chegou para me encontrar com Luan. Pedro, que era um tanto esperado, já se apresentou para Gabriela e que já sabia que ia cair nas lábias dele pelo sorriso tímido dado para ele.

        Ficamos conversando, por um tempo, até Pedro e Gabriela começarem a ficar, era um tanto engraçado com a rapidez que foi, Luan até tirou uma foto dos dois. Entretanto, Luan não ficou para trás, pois uma de suas colegas chegou nele e quando vi também já estavam ficando.

        Me sentia até um pouco desconfortável, sendo o único ali sem ficar com ninguém, então decidi pegar mais uma cerveja com o cara e encontrei alguém que nunca mais pensei em ver. Daniel estava ali também comprando uma cerveja, quando cheguei mais perto consegui ter certeza que era ele.

        – Daniel? – Seu rosto virou para mim e então um grande sorriso veio em minha direção. – Não acredito que é você.

        – Nem eu acredito que veria você de novo. – Daniel estava mais ou menos da minha altura, porém um pouco mais trincado do que antigamente.

        Seu rosto apesar de mais maduro continuava o mesmo assim como seu sorriso, recebi um abraço daquele homem que me fez ter certeza que era pansexual, seu cheiro era o mesmo perfume do que antes. Sentir sua pele foi tão bom e com certeza poderia dizer que senti sua falta.

        – O que está fazendo aqui? – Perguntei depois do abraço.

        – Estou fazendo jornalismo, entrei esse semestre –  disse ainda com seu sorriso lindo.

        – Eu entrei para engenharia eletrônica – informei, mesmo sem ele perguntar.

        – Que sem sensacional, nossa to muito feliz em encontrar você – recebi outro abraço, agora um pouco mais carinhoso.

        – Lembra do Pedro – recebi uma confirmação de cabeça. – Ele também está aqui, vamos lá para você se verem.

        Quando chegamos no nosso grupo, Pedro já não beijava Gabriela, na verdade, apenas permanecia com sua mão na cintura da menina. Luan ainda beijava a colega em um amasso quente, que pareciam que iam se comer, sentia até vergonha de ver aquele garoto assim.

        Pedro vendo Daniel ao meu lado, ficou sem acreditar e correu para abraçar o amigo, conversaram um pouco, na verdade, descobriram que irão estudar no mesmo centro e já combinaram de almoço conosco assim como jantas. Ambos conversavam animadamente, Pedro até apresentou Gabriela para ele, claro que como amiga já que recém tinha conhecido a menina.

        Aproveitei que Luan estava descansando depois de tanto beijo e apresentei a Daniel, informando a Daniel que era meu outro melhor amigo. Luan sabia quem era ele, pois já tinha contado um pouco sobre Daniel a ele, em alguma de nossas conversas no intervalo da escola, então não precisava falar muita coisa para ele.

        Daniel teve que voltar para seu grupo de amigos, então ficamos ali conversando e Pedro falando para as meninas que Daniel foi meu primeiro namorado. Então tive que explicar a Gabriela que eu era pansexual, pois nas conversas pela manhã na aula de química experimental falei sobre morar com o namorado da minha ex namorada.

        Aproveitei e também queria mostrar quem era ele para ela, no meio do pessoal vi seus olhos em minha direção, me lançou um aceno de cabeça e eu a ele. Então não consegui mostrar para menina, senão ia ser óbvio que era sobre ele que estávamos falando, mesmo que apenas ia mostrar quem era ele.

        Só perdemos o contato visual quando seu amigo lhe chamou e voltaram a conversar, de certa forma me senti aliviado de cortar aquele contato visual. Nesse meio tempo Daniel voltou de seus amigos, então venho até onde estava seu rosto tinha um sorriso envergonhado.

        – Você bem que poderia me ajudar – lhe olhei um pouco confuso.

        – Como assim?

        – Bem, meio que perdi uma aposta para meus veteranos, era ou eu pagava todas as cervejas da noite para eles, ou ficaria com alguém – me contava de uma forma um tanto envergonhado. – Poderíamos ficar e relembrar os velhos tempos.

        Eu não sabia o que dizer, fiquei tão chocado com seu pedido, ao mesmo tempo que queria lhe beijar, sentia que algo dentro de mim não queria isso. Olhei para Pedro e Luan que me lançaram um “aproveita” mudo, então dei um sorriso para Daniel.

        – Só vou te ajudar, pela nossa amizade – eu disse, pegando sua cintura como fazia com ele quando ia beijar.

        Suas mãos como antigamente vieram para meus cabelos e nossos lábios se tocaram devagar, fechei meus olhos sentindo o calor preencher minha boca com a sua língua. Apesar do gosto da cerveja, o beijo era o mesmo de anos atrás, assim como a sua pegada em meu cabelo que me fazia arrepiar.

        O beijo foi demorado, sem pressa, apesar de toda nossa história, não sentia nada além de ser um beijo. Infelizmente a paixão não voltou naquele beijo, contudo me esforcei para ser inesquecível para nós dois. Encerramos o beijo com um selinho, lhe olhei novamente e dei um sorriso, antes de largar sua cintura dei outro selinho.

        – Obrigado pela ajuda – disse com vergonha.

        O garoto então sumiu em meio a multidão, Pedro e Luan vieram e me deram parabéns por conseguir, apenas sorri para eles. Não contei que não senti nada beijando Daniel, era apenas um beijo e nem sei se um dia voltaria aquela paixão nossa.

        Por algum motivo olhei na direção de Isaac, seus olhos estavam sobre mim e conseguia ver um pequeno espanto em seu rosto. Merda, esqueci que ele estava aqui e provavelmente minha mãe não contou minha orientação a ele, isso me deixou preocupado.

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Comments

Rosimary Da Silva

Rosimary Da Silva

Isaac tá caidinho por Felipe

2024-04-19

8

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