Capítulo 18

Felipe

        Sexta-feira chegou rápido, nesse meio tempo percebi que Isaac meio distante e meio quieto, nossas conversas eram resumidas com ele sempre desconfiado, mesmo assim sempre tinha o café da manhã e a janta. Queria questionar ele, mas não sei se tínhamos confiança para conversar, entretanto, meu maior medo era Isaac discutir sobre suas brigas com Carla ou que estava com saudades dela.

        De certo modo aquilo me afetava, não por Carla, mas curiosamente pelo Isaac, não gostava de ver ele quieto ou até monossílaba comigo. De certa forma, ontem foi estranho quando cheguei e o garoto parecia perdido nos pensamentos, olhava para a vista que dava para o hospital universitário. A televisão passava algo, mas sua atenção era tão pouca para ela e foi quando lhe dei boa tarde que me percebeu que já estava em casa.

        Pela primeira vez lhe vi com vergonha, seus olhos não focaram nos meus olhos e quando questionei se estava confirmado nosso fim de semana, recebi um Aham e um sorriso. Confesso que estava incomodado com seu tratamento, algo em mim sentia que algo estava errado e pedia para mim saber o que era.

        Na janta, ele perguntou mais sobre meus amigos e foi quando perguntou se lhe odiavam, mas confirmei que não. Talvez Pedro, mas não seria desagradável com ele e nem iria deixar. Apenas concordou e voltou a comer.

        Confesso que passei a noite toda pensando porque aquele questionamento, entretanto acreditava que era medo de ser rejeitado no final de semana, ou algo assim. Mesmo eu dizendo que nada iria acontecer com ele, senti que ainda tinha o medo dentro dele e não podia julgar ele sentir isso.

        Naquela manhã de sexta-feira, ele parecia animado, íamos para a casa de Gabriela, sua mãe tem um hotel e nessa baixa temporada íamos pagar apenas um valor simbólico, algo que insisti. Ficaremos dois dias no Santinho, mas tinha um pequeno roteiro para seguir, íamos hoje para o hotel, no sábado pela manhã iremos para praia de Daniela, aproveitaria para ir em Jurerê para almoçar e depois do almoço marcamos de ir para Canasvieiras e por fim jantávamos no Ingleses e voltaríamos para o hotel.

        Depois das aulas, fui direto para casa, ainda precisava arrumar minhas coisas, estava entrando no portão quando vi o Isaac entrar no hall do prédio, lhe chamei, onde ele segurou a porta para mim. Estava suado, os cabelos molhados e a camisa regata deixava ele tão sexy. Seu sorriso quando me viu me deixou um tanto desconexa, desde o dia que fomos no centro e me peguei pensando nele enquanto dávamos a volta na figueira me deixou confuso com os meus sentimentos.

        – Estava na academia? – o meu colega apenas acenou com a cabeça. – Preciso começar a fazer, estou virando um vagabundo e ficando gordo.

        – Não está ficando gordo – sua voz saiu suave e me olhou. – Para mim você está na medida certa.

        – Medida certa? – Olhei confuso.

        – Bonito, gostoso e de certa forma apetitoso – senti minhas bochechas queimarem, ver aquele garoto fez meu coração pulsar intensamente que achei que poderia escutar ele.

        – Você é um besta.

        – Posso até ser – disse rindo. – Mas sou um besta que fala verdade.

        Entramos no elevador, quando a porta se fechou o seu cheiro dominou o lugar. Não conseguia entender como alguém como ele consegue ainda ter um perfume bom após fazer exercício.

        Olhei para ele, seus olhos focados no celular, por curiosidade olhei, marcava seu treino em algum aplicativo e logo trocava para o Instagram, olhava as fotos, algumas curtas e outras não. Achei estranho quando Isaac viu uma foto da namorada sorrindo para a câmera e passou sem curtir, olhei seu rosto e via uma cara indecifrável e me deixou um tanto curioso.

        Quando o elevador avisou que tínhamos chegado no andar, fui o primeiro a sair para sair daquele cheiro gostoso que predominava em todo o lugar. Ao entrar no apartamento ainda sentia o cheiro, era como se tivesse grudado em meu nariz e de certa forma não me incomodava, algo em mim estava começando a bater descompensado.

        Fui para o meu quarto atordoado, foi tempo de ver Isaac fechar a porta e seus olhos pretos me encararem e enxergar o quanto ele me deixou desconexo. Entrei no corredor, depois no meu quarto, segurei a mão no meu peito e senti que estava literalmente fudido, pois aquilo já tinha acontecido outras vezes, no entanto, parecia mais forte.

        Sentei-me na cama, percebi que minha respiração estava acelerada, minhas mãos estavam suadas e tinha certeza que se eu olhasse para o espelho iria ver minhas pálpebras dilatadas e meu rosto vermelho. Deitei na cama, peguei um travesseiro e botei no rosto, gritei o mais forte que poderia e me amaldiçoei por estar daquele jeito.

        Peguei meu celular e marcava quase cinco horas da tarde, precisava ainda arrumar minhas coisas e sair de casa com Isaac até o ponto de encontro que seria na parada na frente da biblioteca. Mas antes, abri o grupo que tinha meus amigos e digitei lentamente aquelas palavras que gritavam dentro da minha cabeça.

        “Acho que estou apaixonado pelo Isaac”

        Fechei os olhos e enviei, não demorou para Luan me responder que sabia que ia acontecer e logo Pedro mandou um meme da Nazaré olhando confusa e por fim mandou um:

        “Parabéns por fazer algo para lhe machucar de novo”

        Pedro estava certo, apenas mandei uma figurinha de emoji chorando, desliguei o telefone e criei coragem e me levantei para arrumar minha mochila. Escolhi as melhores roupas que eu tinha, peguei uma bermuda de banho e também aproveitei para verificar se tinha toalha com Gabriela, que me confirmou de imediato.

        Após me tomar um banho e me arrumar encontrei Isaac sentado na sala já com sua mochila, um sorriso foi dado para mim e então a campainha tocou. Isaac atendeu informando que era seu melhor amigo e seu colega que ia conosco, apenas concordei com a cabeça e descemos em silêncio, ainda sentia meu coração pulsando devido à sua presença.

        Precisava esconder isso, uma ele era hétero, segundo namorava Carla e terceiro moramos na mesma casa e precisava esquecer essa paixão. Era apenas o convívio, sim, era isso, passávamos muito tempo conversando e quando saímos e fomos ao cinema meu cérebro deve ter interpretado errado.

        Não poderia ser de um dia para o outro, claro que foi o decorrer dessas duas semanas morando juntos, entretanto parando para pensar já notava ele nos primeiro dias e o quanto era bonito. No Pida lhe achei tão lindo naquela roupa ao mesmo tempo que lhe achava fofo em seu pijama azul.

        Contudo, acredito que tudo começou a piorar quando reparei na sexta-feira passada seu jeito suado e de certa forma perceber detalhes do seu corpo me fez ter essa fraqueza. Poderia também ser devido à minha solidão, isso era isso, com certeza essa paixão vai acabar.

        – Não vai sair do elevador? – Sua voz ecoou e lhe olhei confuso e apenas soltei um “ahn?” – Sair do elevador.

        Então reparei que já tínhamos chegado no térreo e concordei com a cabeça. Saí ao seu lado e fomos em direção ao portão e dois meninos nos esperávamos, reconheci um do Pida que conversava com ele. De certa forma, me parecia conhecido e sentia que já tinha visto seu rosto em algum lugar.

        – Felipe, esses são meus amigos – apontou para os dois que me encaravam. – Luan e Claudio.

        Olhei então Luan e foi quando reparei que era o primo de Carla, aquele que ela ajudou quando foi expulso de casa, lembro que falei para minha ex namorada o quanto aquilo me fez mais apaixonado por ela. Eu estava incrédulo de ver ele ali, meu rosto estava demonstrando choque e acho que o garoto respondeu, pois seu sorriso era receptivo.

        – Luan? Primo da Carla? – Digo e recebo uma confirmação. – Nossa, como você mudou, parece outro garoto quando te conheci há dois anos.

        – Pois é, espero que para você tenha sido para melhor – soltou uma risada que me fez rir também.

        – Claro que foi, está bonito – senti minhas bochechas queimarem com o meu comentário.

        – Melhor nós irmos – a voz de Isaac saiu mais grave e de certa forma me arrepiou principalmente por estar ao meu lado.

        Seus amigos riram e concordaram com a cabeça. Fomos em direção a onde meus amigos já estavam esperando, apenas Gabriela não estava no local do encontro. Descobri que Luan estava fazendo Engenharia também e que no ano passado conseguiu entrar para a universidade, me contou que no começo foi difícil, mas conseguiu auxílio estudantil para permanecer.

        Dividia uma quitinete com uma colega de curso e o que lhe salvou esse ano, pois estava com dificuldade de alugar um lugar sozinho. Apesar de morar em cima do Morro do Pantanal, agradecia por conseguir estudar.

        Era estranho ver Luan, nunca fomos próximos, para ser sincero o vi umas quatro vezes, sendo uma no aniversário de seu tio, outra no aniversário de Carla, também lhe vi em uma viagem que fizemos para Garopaba e por último lhe vi ele trabalhando em uma loja de sua tia.

        – Como vocês se conheceram? – Perguntei para Isaac sobre Luan.

        – Estudávamos na mesma escola, como eu era meio isolado e quase não falava com ninguém, assim como ele – seu sorriso lembrando do passado era lindo. – Então se aproximamos e passamos a conversar todos os dias, apesar de ele ser um ano mais velho.

        – Que legal, no ano passado conheci também um cara chamado Luan, foi ele quem me ajudou no momento mais difícil da minha vida – disse lembrando dos abraços que recebia de conforto.

        Isaac apenas concordou com a cabeça, não falou nada, de certa forma não tinha o que ser falado, apesar de hoje já estar curado daquela época, o amargo das lembranças ainda estavam presentes. Com certeza Luan foi um dos melhores acontecimentos do ano passado, pois aconteceu tão natural de forma tão única, sem julgamento e apenas um menino que queria seu lugar de volta de um garoto depressivo.

        Meus amigos já estavam sentados conversando, Luan tinha o braço em volta de Daniela, sua ficante desde o Pida, os dois diziam isso, como Pedro dizia ia dar namoro. Diferente de Pedro e Gabriela, que apenas curtiram o momento do Pida, entretanto se tornaram ótimos amigos e como Gabriela disse, por enquanto quer curtir, no entanto, quem sabe no futuro.

        – Olá pessoal – disse quando cheguei e logo fui abraçado pelos três. – Esses são Isaac, Luan e Cláudio.

        – Opa, sou Pedro, esse Luan também e Daniela – disse meu amigo apertando as mãos deles.

        Combinamos de irmos em dois Uber, pois sairia o mesmo preço do ônibus, no primeiro carro iria eu, Pedro, Luan e Gabriela. No segundo carro ia Isaac e seus amigos, o trajeto demoraria por volta de meia hora, já que era quarenta quilômetros.

        Floripa podia ser uma ilha, sem contar que tinha poucas vias, para o norte da ilha, por exemplo, tinha apenas a SC-401, claro que tinha outros caminhos não convencionais e mais demorados. Por estar de noite, apenas enxergamos a luz da rua e também das casas.

        – Acho que ele gosta de você – Pedro indagou e lhe olhei confuso.

        – Quem?

        – O Isaac – seus olhos mostravam que dizia a verdade.

        – Claro que não – podia mentir em dizer que meu coração ficou quieto com aquela informação. – Ele é hétero e também tem uma namorada. Tem que lembrar que ela é minha ex-namorada.

        – Mas o olhar dele mostrou outra coisa – então vi Luan e Daniela concordar. – Era possível ver o seu incômodo ver você me abraçando e também aos nossos amigos.

        – Vocês estão errados – digo já um pouco irritado. – Como falei, ele é hétero.

        – Ele disse que era? – Luan quem perguntou.

        – Como?

        – Ele afirmou que era hétero para você? – Refez a pergunta.

        Fiquei quieto tentando lembrar de todas as nossas conversas, pouco falamos sobre relacionamentos e principalmente parecia que era algo que estávamos evitando falar. Para dizer a verdade, sempre evitei escutar sobre o relacionamento dele e ver Isaac falando do seu relacionamento com Carla, como também não queria falar dos meus relacionamentos e ter que relembrar dos meus momentos com sua namorada.

        – Não – minha voz saiu como um sussurro, era como se tivesse falando para mim e não para meus amigos.

        – Então você não pode dizer que ele é hétero só por namorar uma mulher – concluiu Luan e como sempre fazendo refletir.

        Preferi trocar o assunto para evitar essa conversa, não queria pensar naquilo, até porque como minha psicóloga sempre falava, tem que ser alguém com o pé no chão e pensar no presente e não no futuro. Lembro dela me dizendo que temos que abolir a palavra “e se”, pois com ela podemos criar ilusões e desenvolver relacionamentos apenas em nossos pensamentos.

        Com certeza, Isaac não gostava de mim, pelo menos não da forma romanticamente, nunca reparei nada tão anormal dele, desde que passamos a morar juntos sempre foi gentil e nunca sequer me mostrou algo que me fizesse perceber. Ao mesmo tempo, me faz lembrar que durante essa semana, meu colega de casa estava estranho, seu jeito de conversar comigo estava realmente me incomodando.

        Será que Isaac descobriu essa semana que estava apaixonado por mim, ou será que ele já estava apaixonado antes de morarmos juntos. Seus olhos para mim no dia das matrículas eram tão intensos sobre mim, claro que estava sendo gentil e o conforto que sempre estava quando ficamos apenas nós dois.

        Não demoramos para chegar na casa de Gabriela, para ser sincero queria ter sido mais devagar para pensar melhor e entender o que meus amigos diziam. O Uber de Isaac chegou dois minutos depois que o nosso, lhe vi esticar as pernas e espreguiçar o corpo.

        Desviei o olhar quando seus amigos viram eu lhe encarando, senti minhas bochechas novamente queimarem, entretanto, os dois nada falaram. Seguiram até o nosso grupo, olhávamos para o prédio em nossa frente, ficamos chocados com a grande estrutura onde morava minha amiga.

        Gabriela não demorou para nos receber, abraçou todos e também se apresentou para o Isaac e seus amigos, não demoramos para entrar e minha amiga apresentar o lugar. Informou que cada andar tem três apartamentos, no térreo onde ficaremos seria dividido em três apartamentos.

        Eu ficaria no mesmo apartamento que Pedro, pois tinha dois quartos, meu amigo Luan e Daniela teriam um apartamento somente para eles e Isaac dividiria um com seus amigos que tinha três quartos. A mãe de Gabriela não estaria naquele final de semana e tinha apenas quatro hóspedes no momento ali, onde ocupavam o segundo e terceiro lugar. Gabriela morava no último com sua mãe e todos fomos lá jantar quando largamos nossas coisas dentro de nossos quartos.

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