Capítulo 15

Felipe

        – Deixa eu ver se entendi, você nesse final de semana vai ir com o namorado da sua ex que inclusive foi o amante dela visitar o centro da cidade no sábado – questionou Gabriela, estávamos na aula de Introdução às Engenharias Elétrica e Eletrônica, que por sinal era chata.

        – Fala baixo – digo olhando para o professor que parecia estar com quase cem anos. – Sim, ele me convidou e eu não poderia recusar, pois moro com ele.

        – Só por isso?

        – Claro que sim, qual seria outro motivo? – Olhei de uma forma indignada.

        – Calma, mas quem sabe você se apaixona por ele – disse dando nos ombros. – Pelas fotos que me mostrou, ele é lindo e parece ser educado.

        – Mas o que isso tem a ver? Não sem essa possibilidade de me apaixonar – seus olhos me avaliavam. – E mesmo se existisse, Isaac é hétero e tem uma namorada.

        – Que já foi sua – disse mais para si do que para mim. – Pelo menos vão poder ser amigos, mesmo que isso seja estranho.

        – Sim, mas acredito que não será uma amizade forte, apenas será algo para viver melhor dentro de casa, se bem que durante essa semana, tomamos café junto e jantamos juntos – lembrei dos últimos dias e o quão aquilo foi legal. – E não tivemos nenhuma briga ou algo parecido, na verdade, nem perto disso chegamos.

        – Você vai se apaixonar por ele – disse confiante.

        – Não exagera, não sou de me apaixonar fácil – digo convicto.

        Todas as minhas paixões foram de fato muito rápidas, mas acredito que isso será diferente depois de tudo do ano passado. Gabriela não sabe muito do que de fato aconteceu, até porque mais que seja algo passado, ainda dói relembrar algumas coisas.

        – Você não pode contar para o Pedro e nem para o Luan – Gabriela se tornou parte do nosso grupo, almoçou conosco desde segunda e também estava num grupo no WhatsApp, não no que tem somente eu e os meninos, mas em um novo que criamos. – Principalmente para o Pedro, vamos dizer que ele não gosta de Isaac depois que fui traído.

        – Mas por quê?

        – É complicado, meio que eu e Pedro brigamos logo após eu descobrir a traição, pois achei que ele sabia há muito tempo e não tinha me contado – solto um suspiro em lembrar o período afastado do meu amigo. – Foi um momento complicado para nós dois, nossa amizade só voltou a ser a mesma recentemente, então ainda é complicado esse assunto.

        – Entendo – sua mão foi até a minha segurando com carinho e conforto. – Pode deixar que de mim não irão saber.

        – Obrigado – lhe sorri.

        O professor liberou meia hora antes, como era a última aula de sexta-feira nos despedimos ali mesmo, já que ela morava no norte da Ilha. No caminho para casa aproveitei e passei no mercado para comprar pão, não achava justo somente Isaac comprar.

        Aproveitei para comprar bastante e fazer um dia de cachorro-quente hoje, também comprei um guaraná, não sabia se o meu colega tomava refrigerante, pois só via ele tomando água ou suco integral. Também comprei uma besteira, pretendia deixar no quarto para quando precisasse beliscar algumas comidas.

        Cheguei em casa, ainda estava no silêncio, provavelmente ainda não tinha chegado, larguei as compras em cima da mesa, aproveitei e fui no meu quarto largar minhas besteiras e também tomar um banho. Após o banho retornei a sala, foi no momento que Isaac entrou pela porta, usava uma regata azul escura, uma bermuda cinza e um tênis esportivo, estava suado e parecia cansado.

        – Você já chegou – disse dando um sorriso, de certa forma lhe ver aquela cena me deu um arrepio e me deixou envergonhado. – Boa tarde.

        – B-boa tarde – gaguejei e desviei os meus olhos do garoto. – Comprei uns pães para nós fazermos cachorro-quente hoje.

        – Opa, gosto de cachorro-quente caseiro – disse indo em direção ao corredor que dava para nossos quartos. – Vou tomar um banho e já venho lhe ajudar.

        – Ok – foi a única coisa que consegui pensar.

        Retirei as outras compras da sacola, aproveitei, coloquei o refrigerante no congelador para gelar mais rápido, retirei a salsicha, aproveitei e peguei os temperos, como cebola, alho e tomate. Retirei a tábua do lugar para já começar a cortar os temperos.

        O relógio na parede marcava seis horas em ponto, normalmente estaria saindo agora da aula. Como ainda tinha bastante tempo, aproveitei para cortar as coisas mais devagar, assim como também liguei a televisão colocando no YouTube e botei em uma playlist aleatória para tocar.

        Meia hora depois aparece Isaac saindo do seu quarto apenas de bermuda que parecia o seu pijama, sem camisa e os cabelos molhados. Engoli seco em ver aquele garoto daquele jeito, isso só pode ser das coisas que Gabriela me disse, com certeza nossa conversa nos afetou. Observei uma gota que caiu dos seus cabelos pretos e desceu por sua pele retinta até mais ou menos perto do seu ventre.

        Desviei os olhos quando pela primeira vez reparei o volume na frente, algo que nunca tinha reparado. Senti minhas bochechas vermelhas, isso com certeza era falta de sexo e meus amigos têm razão preciso de alguém para tirar o meu libido e agora a vontade de cobiçar o homem de outra.

        Isso, Isaac tem namorada, ele é comprometido, nunca irá acontecer algo conosco, o garoto é hétero, provavelmente se fosse solteiro e no máximo um bissexual, com certeza iria querer somente minha amizade.

        – Precisa que eu faça algo? – Sua voz ecoou pelo apartamento ofuscando a música da televisão.

        – Eu continuo cortando as coisas, como ainda é cedo quis fazer algo devagar – não olhei em sua direção, não queria mostrar que estava envergonhado. – Você toma refrigerante?

        – Tomo, sim, apesar de não ser de tomar muito – disse pegando os tomates e um prato para cortar eles à minha frente.

        – Comprei um que minha amiga disse que é vendido aqui em Floripa – olhei para ele, Isaac estava focado em cortar o tomate.

        – Pureza?

        – Sim, esse mesmo – voltei a prestar no corte do alho. – Já tomou?

        – Sim, um dos meus refrigerantes favoritos – pegando a cebola, enquanto eu recém cortava o alho.

        – Que bom, fiquei preocupado pensando que você não tomava, mas para mim um bom cachorro-quente tem que ter um refrigerante – disse soltando um suspiro de alívio, em seguida sorrindo.

        – Meu fala a mesma coisa – soltou uma risada alta, provavelmente lembrando do seu pai. – Sempre que minha mãe faz dia do cachorro-quente em casa, normalmente quando ela está com preguiça ele diz isso.

        Concordei com a cabeça, mas não falei nada, apenas terminei de cortar o alho, fui até a panela e comecei a preparar o molho, peguei a cebola que Isaac cortou, também o alho. Até perguntou se precisava fazer algo e eu apenas neguei dizendo que era minha especialidade, então informou que iria pôr algumas coisas para lavar, foi então que foi em seu quarto e voltou como seu cesto de roupas.

        – Quer que eu lave alguma roupa para você? – Perguntou ao meu lado.

        – Não precisa, amanhã eu boto para lavar – digo lhe lançando um sorriso.

        – Eu posso lavar, pois amanhã vamos sair cedo e voltamos só a noite, pois já vou fazer isso e é só pôr na máquina que ela faz o resto – lhe olhei, então confirmei com a cabeça.

        – Pode pegar o cesto que está no meu banheiro – largou seu cesto na frente da porta da área de serviço e vi entrar no meu quarto, dois minutos voltou com o meu cesto de roupas. – Obrigado.

        – Que isso, não precisa agradecer.

        Jantamos aquele dia ainda em silêncio, depois da janta ainda assistimos a um filme juntos na sala, por fim cada um foi para seu quarto desejando boa noite. Naquela noite confesso que demorei a dormir, mandei uma mensagem para Gabriela confessando que sim, tinha a possibilidade de me apaixonar por Isaac, mas não poderia por ele ser um garoto comprometido.

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