MANUELA

Humberto ficou chateado comigo por uma exata semana. Mas em nenhum momento insinuou que me expulsaria de casa, que “me devolveria para os meus pais”, e isso me deu esperanças de que ele pudesse querer continuar a nossa relação, apesar de morna e já desgastada.

Foram os piores dias da minha vida.

Durante esse tempo ele não conversava comigo.

No café-da-manhã ficávamos calados, eu entrava num cômodo e ele saía, eu cruzava com ele no corredor e ele me ignorava. Eu tentava mandar mensagens pelo celular para ver se ele respondia, ele só visualizava. Cheguei à conclusão de que era o fim do nosso casamento.

Leandro me mandava mensagem todos os dias preocupado, perguntando como nós dois estávamos, e eu contava a ele sobre as atitudes negativas do Humberto. Mas o curioso era que ele sempre mostrava interesse em relação a mim e o Beto na cama, não teve um dia em que não perguntara se havia rolado sexo.

 Ficamos nessa ladainha até que tudo começou a mudar, quando foi chegando o final da semana...

 Numa de nossas conversas, quando eu perguntei ao CEO da empresa do meu marido como estava o clima entre eles, Leandro limitou-se a me dizer que me chamaria o Humberto na sala dele para conversar.

E foi o que fez.

Lembro-me perfeitamente que neste dia, Humberto chegou em casa com o semblante indecifrável, e eu fiquei

preocupada, pois não fazia ideia do que haviam conversado, fiquei com medo até de que o Leandro o tivesse mandado para o olho da rua.

Era uma sexta-feira, e eu me assustei, pois pela primeira vez em uma semana eu ouvi a voz do Beto, pela primeira vez ele se dirigiu a mim, me olhou.

- O Leandro me chamou pra conversar.

Foi assim que ele se dirigiu a mim.

Chegou e colocou a pasta de trabalho em cima da mesa de jantar, sentou-se no sofá, e eu soube na hora que aquilo era um convite silencioso para que eu me aproximasse e me sentasse ao lado dele.

- Ah\, é? Hum. E o que ele queria falar com você?

- Me pediu desculpa mais uma vez. Mais uma milésima vez. Pediu para a gente esquecer tudo\, nós três. Disse

que não queria me perder. Que além de amigo eu era um ótimo funcionário.

- E você? Falou o que para ele?

- Hã. - Ele grunhiu\, me olhou de cara fechada.

- Beto... por favor... – Segurei sua mão\, fiz um carinho. - Vai ficar assim comigo para o resto da vida?

Ele bufou. Por fim aceitou o meu toque e segurou minha mão, tive vontade de chorar, mas me segurei. Acho que nem havia mais lágrimas a serem derramadas.

- Vamos dar uma passada rápida no supermercado\, estou precisando comprar algumas coisas que estão faltando aqui para casa.

De repente ele mudou de assunto, e eu concordei. Parecia estar sinalizando que estava tudo bem, que ele queria que ficasse tudo bem e que voltássemos à nossa vida normal.

- Tudo bem. – Respondi sem contestar\, apesar de estranhar a iniciativa dele. Humberto simplesmente odiava fazer compras\, ir ao supermercado\, shopping\, e qualquer outra coisa do tipo.

Mas senti um alívio como se uns vinte quilos fossem tirados das minhas costas. Me deu vontade de rir, de o

beijar, abraçar... mas me contive. Ainda era cedo, e eu estava disposta a respeitar o tempo dele para que tudo voltasse ao normal. Só conversaria o que ele quisesse, só responderia o que ele me perguntasse. Pensei que assim tudo passaria mais depressa.

 Paramos no estacionamento e antes

que eu descesse ele pediu que eu esperasse, contornou o carro e abriu a porta

para mim, me estendeu a mão. Minha boca não segurou um sorriso e eu só

agradeci, ele nunca tinha feito aquilo.

Humberto pegou um carrinho de compras e começou a escolher os produtos – e era só o que não estava faltando lá em casa. Pegou frios, frutas vermelhas, amêndoas, uma massa fresca e um molho pronto, azeite e vinhos caros. Foi até o freezer e pegou uma mousse de chocolate.

Eu estava tão intrigada que não achei palavras para fazer nenhum tipo de comentário, preferi ficar calada, só

observando, andando ao lado dele e curtindo o fato de que nós nunca nos dávamos as mãos, mas ali ele não queria desgrudar da minha por nada.

Aquilo estava mexendo comigo, e um frio gelado desceu pela minha espinha quando me ocorreu o pensamento de que tudo poderia tratar-se de uma vingança.

O que ele estava planejando? Iria sair de casa, encontrar com alguém? Fiquei paralisada. Não tive coragem de perguntar. Ele permaneceu completamente calado.

 Para o que quer que houvesse, eu queria estar preparada. Cheguei em casa e tomei um banho demorado. Lavei os cabelos e fiz uma escova, espalhei pelo corpo um hidratante gostoso, vesti uma camisola bem feminina, era curta e de um tecido transparente que mostrava os seios.

Enrolei até o último minuto para ir até a cozinha, eu sabia que ali seria a hora da revelação. Talvez ele virasse

para mim e falasse que não iria jantar em casa - isso se já não tivesse saído e levado aquelas compras para a casa de alguma mulher.

Entrei na sala de jantar andando devagarinho, pé ante pé. A mesa estava toda arrumada, as amoras, framboesas e

morangos em taças de vidro, as amêndoas e o queijo picadinho numa tábua, as taças de vinho e água uma do lado da outra, pratos fundos e talheres enrolados em guardanapos de tecido, exatamente como eu fazia para nós dois. Um cheiro delicioso de carne assada vinha do forno, e uma musiquinha gostosa tocava ao fundo. Cheguei na cozinha e o Humberto estava lá, de avental, provando o molho borbulhante com uma colher.

- Que cheiro delicioso\, Humberto... – Comentei de mansinho\, com muita cautela.

Ele jogou a colher na pia e tirou o avental.

- Vou tomar um banho rápido\, tocando a campainha você atenda\, por favor.  – Me reparou de cima a baixo\, eu sabia que sentiu desejo apesar de não ter dito nada. Ele não era de elogiar.

- Está esperando alguém? – Perguntei distraidamente.

Bom, pelo menos ele não tinha saído com aquelas compras, já era uma ótima notícia.

Ele deu as costas e saiu, acho que não escutou minha pergunta. Corri até a sala e olhei para a mesa de novo, ele

tinha colocado três pratos, duas taças ao lado de cada um deles.

Meu Deus.

E foi só enquanto o barulho do chuveiro ligado começou, a campainha do apartamento tocou. Meu coração deu um pulo no peito. Não tinha dado tempo nem de trocar de roupa. Corri para alcançar o olho mágico, e quando consegui ver quem era, tive a certeza que iria desmaiar.

Mais populares

Comments

ealeleti_1507

ealeleti_1507

acho q eu estou tendo suspeitas doq pode ser

2023-10-10

4

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!